“Todo dia ele chegava em casa e dizia que tinha uma rachadura crescendo lá”, lembra dona Maria Heredia, casada com Odilon Fernandes Heredia, sobrevivente da tragédia da Gameleira. Quando o pavilhão caiu e uma viga atingiu a cabeça do carpinteiro, ele tinha 33 anos. Hoje, aos 77, com aposentadoria de um salário mínimo, ainda tem esperança de receber a indenização. “Pelo tempo que tem, já era para ter saído, né”, conta Odilon, que é uma das 52 pessoas da ação movida em 1984, contra Estado e construtora.
Dona Neuza Moreira Rodrigues, 73, também está nessa espera. “Fiquei sozinha, com dois filhos pequenos. Trabalhava tanto que tive uma crise e fui parar até no Pinel”, lembra a viúva do operário Sebastião Bento de Souza. “O Estado tinha que ter me estendido a mão, eu não precisava ter sofrido tanto. Eles tinham que ter ajudado, pois mandaram retirar as escoras da Gameleira porque tinham pressa para inaugurar o pavilhão. E mandaram muito pai de família para morrer soterrado”, conta. O processo de Neuza não é o mesmo de Odilon. A ação da qual faz parte tem mais outras nove pessoas. A advogada Marília Alves de Souza, que atende uma mãe que perdeu o filho na tragédia, explica que o Estado foi condenado há muito tempo e o processo está na fase de execução, mas, como é muita gente, para cada decisão cabe recurso do Estado. Segundo ela, a decisão mais eficaz seria desmembrar a ação em grupos de no máximo dez pessoas. O caso está na última instância, aguardando julgamento de recurso especial que o Estado apresentou no Superior Tribunal de Justiça (STJ). “É um problema muito difícil, pois o setor público não tem como passar um processo na frente do outro, sob pena de sanções. O que eu posso prometer é que, depois desse julgamento, o Estado não vai tomar nenhuma medida administrativa para prorrogar ainda mais esse pagamento. Não vamos entrar com mais nenhum recurso”, garante o secretário de Planejamento e Gestão de Minas Gerais (Seplag), Helvécio Magalhães.Epidemia Silenciosa - Uma tragédia anunciada
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