Quando completou 18 anos, Paulinho não comemorou. Para o garoto que, na infância, apanhava da mãe alcoólatra e viveu por uma década em abrigo, o aniversário chegou como um ultimato e o colocou, mais uma vez, na ciranda do abandono. Com a maioridade, ele deixou de estar sob a tutela do Estado e foi obrigado a enfrentar sozinho a transição para a vida adulta.

O drama de Paulinho não é único. Em fevereiro deste ano, existiam 2.687 adolescentes com 17 anos vivendo em abrigos no Brasil. Pela legislação, ao completar 18 anos, eles precisam deixar o acolhimento institucional e dar conta da própria vida, mesmo se não tiverem vínculos familiares ou capacitação profissional. Um desafio além da maturidade que a maioria deles acumulou.

Para produzir este caderno, O TEMPO acompanhou o processo de desligamento de adolescentes que chegaram ao abrigo empurrados por um misto de pobreza, violência e negligência familiar. Durante três meses, assistimos como esses garotos, que passaram uma vida institucionalizados, se prepararam para deixar de ter as garantias do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – moradia, alimentação, assistência à saúde e educação – e foram novamente despejados na vida.

REPORTAGEM: Joana Suarez e Natália Oliveira FOTOGRAFIA: Lincon Zarbietti e Moisés Silva