Nosso Verde

Cuidados nascentes

por Natália Oliveira

“Eu sou igual o beija-flor que contribui com gotinhas de água para apagar o fogo da floresta”. Em meio a sorrisos, é com essa frase que a agricultora Júlia Machado Amaral, 63, ou dona Júlia, como é conhecida, se define. Ela é cuidadora assídua de uma nascente do ribeirão do Onça, no bairro Ribeiro de Abreu, na região Nordeste de Belo Horizonte, e trabalha como voluntária em uma horta comunitária na igreja do bairro. “O pouquinho que posso eu faço pelo meio ambiente”, se orgulha.

Nascida e criada na cidade de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, dona Júlia se recorda de que, na infância, sempre nadava em um rio perto de sua casa, mas que, ao longo dos anos, a região foi sendo tomada pela seca. “Eu vi o meu rio do interior secar e não queria que acontecesse o mesmo com a nascente aqui, do Ribeiro de Abreu. A água é um recurso fundamental para o ser humano, e temos que cuidar dela”, considera.

Foi quando chegou ao Ribeiro de Abreu, em 1980, para construir sua casa, que ela conheceu a nascente. “Nessa época o encanamento ainda não tinha chegado a minha rua, e eu usava a água da nascente”, explica. Pelo menos uma vez na semana, dona Júlia visita a fonte, recolhe o lixo e vê como está a qualidade da água. Junto com outros moradores mais antigos, ela orienta os novos habitantes do bairro a não sujar a água.

“Teve uma época em que o mato cresceu muito e que os animais das fazendas do bairro pastavam por lá, fazendo muita sujeira. Eu não sabia o que fazer, mas foi nessa época que conheci o pessoal do Comupra (Conselho Comunitário Unidos pelo Ribeiro de Abreu) e, junto com eles, consegui cercar a nascente e protegê-la”, lembra dona Júlia.

O que cada morador pode fazer?

Repensar o consumo de brinquedos eletrônicos por causa do consumo de pilhas

Repensar o consumo, reutilizando o que for possível e comprando novo só o necessário

Procurar hortas urbanas que não utilizam agrotóxicos e usam menos embalagens nas frutas e verduras

Utilizar na casa aquecedor solar que diminui o consumo de energia e de água

Reaproveitar a água da chuva para molhar as plantas ou lavar roupas e calçados

Cuidar dos rios da sua região

Separar o lixo para a reciclagem

Fonte: Professor da UFMG Klemens Augustinus Laschefski, Departamento de Geologia

O Comupra desenvolve o projeto Deixa o Onça Beber Água que tem o objetivo de limpar e cuidar do ribeirão do Onça. “Queremos mudar o pensamento dos citadinos em relação aos rios da cidade. No Onça, queremos implementar um parque. Em 5,5 km do ribeirão, nós temos três cachoeiras, nove praias e 21 corredeiras. Imagina se isso tudo fosse limpo? Seríamos a primeira capital com cachoeira dentro da cidade para os moradores e visitantes”, vislumbra Itamar de Paula Santos, voluntário do Comupra.

70 é o número de ipês plantados no entorno do córrego do Onça

130 é o número de árvores frutíferas plantadas no entorno do Onça

Do outro lado da cidade, onde passa o ribeirão Arrudas, nas regiões Centro-Sul e Oeste, também há quem cuide das minas. A ambientalista Cecília Rute Silva faz um levantamento das nascentes do rio em imóveis particulares e públicos e orienta os proprietários sobre os cuidados com a água e manutenção dela. “Na Escola Estadual Cecília Meireles está uma das nascentes. Lá, nós construímos um tanque para que os alunos utilizem a água para regar a horta que fizemos”, explicou a ambientalista.

Ainda segundo ela, outra nascente está dentro da Vila Acaba-Mundo, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, onde serão feitos o seu cercamento e plantio de árvores em seu entorno. A ideia é que a água seja utilizada pelos moradores da vila tanto para consumo próprio como para criar hortas urbanas para abastecer a cidade.

Nosso quintal é o mundo

A ideia de alimentos livres de agrotóxicos e de volta a um tempo em que eles vinham dos quintais está fazendo com que cresça na capital mineira o cultivo de hortas urbanas ou comunitárias. Com a verticalização da cidade, os plantios caseiros reduziram-se. Com o intuito de mapear locais e o interesse do público, o coletivo Nossos Quintais desenvolve um projeto para difundir a criação de hortas urbanas na cidade.

“Atuamos principalmente na Vila Cafezal (região Centro-Sul da capital) e na ocupação Paulo Freire (na região do Barreiro). Nos dois locais, nós incentivamos os moradores a cultivar suas hortas. Em comunidades mais carentes as hortas comunitárias e urbanas ajudam muito”, explicou Cristiana Guimaraes, 36, uma das idealizadoras do projeto.

Segundo ela, a ideia é expandir o Nossos Quintais para mais comunidades e bairros. “Queremos mostrar como os quintais podem ser produtivos. Em janeiro a gente deve implementar uma horta na ocupação Eliana Siilva (no Barreiro), e 30% de todo alimento produzido lá deve ir para uma creche comunitária”, conta Cristiana.

Outro projeto que incentiva o consumo de alimentos sem agrotóxicos disponíveis na cidade é o Fruta na Rua BH, que faz o mapeamento das árvores frutíferas da capital mineira. O intuito é motivar os moradores a descobrir e aproveitar as frutas que estão disponíveis para consumo próprio. O mapa já tem centenas de árvores cadastradas.

“Me lembro de quando era criança e tinha um pé de goiaba perto de casa. Eu sempre comia as frutas. Fiquei pensando em outros lugares onde também pudesse ter essas árvores nos passeios e resolvi criar um mapa colaborativo. Muitas vezes as pessoas têm uma fruta na porta de casa, e nem sabem”, conclui Felipe Raphael Lopes Ivanicska, 28, idealizador do projeto.

Mapa Fruta na Rua



Como ajudar? Para colaborar com os projetos entre em contato com os organizadores pelos links no Facebook que estão no texto.

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