Comportamento

De diversão a profissão

Usuários de redes sociais como o YouTube tornaram-se influenciadores digitais

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 20 de novembro de 2016 | 03:00
 
 
 
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Eles são chamados de youtubers, mas estão cada vez mais presentes em outros espaços além da plataforma de vídeos responsável por torná-los popularíssimos. Por esse motivo, alguns advogam que “influenciadores digitais” é a melhor expressão para designar o que eles são de fato. A lista é vasta, mas, recentemente, em razão de um ranking divulgado pela Snack Intelligence, alguns nomes se sobressaem. No Brasil, são eles o piauiense Whindersson Nunes, de 20 anos, o carioca Felipe Neto, de 28, os paulistanos Julio Cocielo, de 23, e Felipe Castanhari, de 26. Eles ocupam, respectivamente, a segunda, a terceira, a sexta e a sétima posições entre os dez criadores mais influentes do mundo, de acordo com a pesquisa desenvolvida pela empresa brasileira que atua e monitora tendências desse mercado. Nunes fica atrás apenas do comediante sueco PewDiePie.

Há outros brasileiros de grande projeção, como o belo-horizontino Lucas Rangel, de 19, a curitibana Kéfera Buchmann, de 23, o paranaense Pedro Rezende, de 19, o catarinense Lucas Feuerschütte, de 26, a fluminense Julia Tolezano, de 25, e a gaúcha Amanda Guimarães, de 28. Em comum, todos compartilham uma trajetória semelhante, que começou com a produção despretensiosa de vídeos até seguir um caminho rumo à profissionalização.

“Eu nem pensava que poderia chegar onde cheguei, nem imaginava que poderia ganhar dinheiro com a internet”, diz Nunes, que não só é dono do canal com mais inscritos do país, como tem feito uma média de 15 a 20 shows por mês em diversas cidades brasileiras, baseado em seu trabalho de stand-up comedy. Em setembro, ele esteve na capital mineira e, neste mês, em Ipatinga, no Vale do Aço.

Rangel também conta algo semelhante: “Comecei fazendo uns vídeos no Vine (extinta rede social) como uma brincadeira. Mandava alguns para os amigos e, às vezes, até morria de vergonha. Mas depois passei a gostar mesmo daquilo”, afirma ele, que se dedica atualmente a seu canal no YouTube e a outros projetos, a exemplo de campanhas publicitárias, programa de TV, livro e espetáculos.

“Hoje eu me vejo como um ‘influencer’, e isso me toma muito tempo. Eu estou sempre fora de Belo Horizonte, fazendo evento ou campanha. Então, precisei abrir mão de algumas coisas para poder fazer isso, que virou um trabalho”, diz o mineiro, reconhecido pelas ruas.

Rangel conta que prefere essa possibilidade de transitar por diversas searas que se ater a um só lugar. “É muito bacana estar na TV, mas isso toma muito tempo. Eu gosto de pensar na ideia de criação de conteúdo, e uma área que me atrai muito é a publicidade. Eu quero fazer faculdade nessa área, porque já estou um pouco imerso nesse mundo. Eu realizei, por exemplo, uma campanha para a Coca-Cola que gravamos no Rio de Janeiro e que foi uma experiência muito legal”, conta.

Humor

Em seu canal, o belo-horizontino provoca risadas do público com paródias e personagens, aos quais dá vida também no palco. Nunes, assim como Rangel, se destaca pelo viés humorístico. Ele relata que seu estilo no teatro é livre: “Tem um pouco de tudo o que tem no meu canal”, completa. Convidado para participar de vários programas televisivos, Nunes é evasivo ao responder se aceitaria fazer parte de um elenco fixo. “Depende muito, talvez sim ou não”, diz o piauiense, que, na plataforma virtual, consegue alcançar até 50 milhões de visualizações por mês aproximadamente. Ao comentar sobre o diferencial do conteúdo dos youtubers em relação à programação das TVs, ele faz uma única observação: “As TVs têm que fazer o que chama atenção hoje em dia, que é a liberdade”.

O comentário de Nunes chama atenção para uma das principais vantagens de quem atua nos ambientes das mídias mais recentes, que é a viabilidade de poder falar livremente do que lhe interessa. A pesquisadora em comunicação e professora da PUC Minas Fernanda Medeiros observa que, ao serem “suas próprias mídias”, eles conseguem estabelecer uma relação mais direta com seu público.

“A política de comentários parece estabelecer um tipo de interação menos hierárquica e, portanto, mais democrática. Há um caráter de diálogo porque, ainda que nem todos o façam, os youtubers podem responder ou se comunicar diretamente com seus seguidores por meio de texto ou nos próprios vídeos”, reflete.

“Além disso, eles têm o trunfo de estarem conectados aos hábitos de mídia mais recentes, pelo menos de uma camada importante da antiga ‘audiência’. Eles já ocupam o lugar para onde o futuro parece apontar”, conclui Medeiros.

 

Kéfera Buchmann

Em 2010, a curitibana criou, na rede social YouTube, o canal 5inco Minutos, que é um dos mais acessados do país. São quase 9,8 milhões de pessoas que acompanham seus posts. A grande repercussão a levou a programas de rádio e TV. Em 2014, ela apresentou o “Coletivation”, da MTV. Kéfera também publicou o livro “Muito Mais que 5inco Minutos”, título mais vendido durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro 2015. Neste ano, ela protagonizou o filme “É Fada”, de Chris D’Amato, e atuou em “O Amor de Catarina”, de Gil Baroni.

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