Pós-Eleição
Porta de saída é maior desafio do Bolsa Família
Benefício garante sobrevivência de extremamente pobres; para especialistas, falta investir na melhoria de renda para criar condições de crescimento
Tempestade perfeita. Assim Juliana Estrella, doutora em ciência política e diretora-executiva da consultoria Intelligencia Social, descreve o cenário das 27 cidades do Norte de Minas onde Dilma Rousseff obteve mais de 80% dos votos.
Analfabetismo alto entre adultos, grande dependência dos Bolsa Família e renda média menor do que metade do salário mínimo não abrem espaço para os beneficiários: “Sob o ponto de vista individual dos eleitores, não restava alternativa a não ser votar na Dilma para ‘garantir’ o Bolsa Família, pois é uma questão de sobrevivência básica”, diz Juliana.
Se o cenário fica claro quando se observam os números, ele fica mais turvo à medida que se projeta o futuro. “A política social, para funcionar, tem que estar agregada ao crescimento econômico, que gera mais distribuição de renda”, diz Murilo Fahel, pesquisador da Fundação João Pinheiro.
Mais. “O Bolsa Família se torna uma armadilha à melhoria das condições de vida dessas pessoas, à medida que as condicionalidades, especialmente educação, não vêm mudando efetivamente a vida deles”, diz Juliana.
Descobrir uma porta de saída é um desafio para o Bolsa Família. “Trata-se de uma transferência de renda temporária, mas não é a solução do caso. A maior parte das pessoas só deixa o benefício quando consegue a aposentadoria rural”, diz Claudinei Neves, secretário de Assistência Social de Santo Antônio do Retiro (Norte de Minas).
Subsistência. Para Gilmar Ribeiro dos Santos, coordenador do mestrado em Desenvolvimento Social da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), o medo de perder o Bolsa Família existe, pois as pessoas vivem basicamente da agricultura de subsistência, em cidades que não possuem atividade industrial. “A opção é atuar em serviços, que significa trabalhar no serviço público e na economia informal”, diz Ribeiro dos Santos.
Longo prazo. Fahel enxerga solução, mas no longo prazo. “Não existe hoje uma estratégia clara para melhorar o estado de vulnerabilidade dos municípios pequenos. É preciso ter desenvolvimento regional e local, esses territórios precisam da presença do Estado, com políticas públicas e sociais intensivas.”
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