Ter entrado na quadra da Arena Minas, no último sábado, para o confronto entre Camponesa-Minas e Fluminense, deve ter despertado um sentimento diferente para a levantadora Karine, do time da casa. Quatro sets depois e com a classificação para as semifinais após ter visto a partida do banco de reservas, ela se despedia de uma carreira profissional de 18 anos, com a certeza de que fez seu melhor a cada toque na bola.
O motivo que a fez pendurar as joelheiras aos 39 anos, poucos meses antes do inicialmente previsto, é nobre. Karine está grávida de sete meses de Noah, que chegará para fazer companhia à pequena Ana, de três anos. Nos últimos meses, a armadora conseguiu dar sua dose de contribuição ao elenco nos treinos e jogos, mas o limite apareceu.
Seguindo recomendações médicas, a jogadora definiu que irá deixar as quadras e agora abre espaço para a jovem Luana. “O planejamento inicial era eu jogar até o Sul-Americano. Após nosso título, o acordo era que seria feito um acompanhamento diário. Tentei postergar a consulta com minha obstetra, sabia qual seria a recomendação dela quando visse minha barriga. Não deu outra. Eu estava como um cachorro bravo, sem querer largar o osso”, comenta Karine.
Antes mesmo do início da temporada e de engravidar, ela já havia combinado com o marido de que esta seria sua última temporada. Mesmo sedenta por seguir fazendo parte do time em um momento tão importante da Superliga, Karine teve o bom senso de tomar a melhor decisão.
“Comecei a perceber o receio de algumas jogadoras dentro de quadra. Elas pareciam inseguras em alguns lances, com medo de trombar em mim. Não quis ser egoísta e vi que o time precisava de todas em totais condições. Meu rendimento não era mais o mesmo, o cansaço ia ficando maior e essas situações me ajudaram a tomar a melhor decisão”, conta.
Com 30 anos dentro das quadras de vôlei, desde as categorias de base, Karine encerra uma carreira vitoriosa e cheia de boas recordações. “Tudo tem um tempo na vida, tenho muito orgulho de tudo que fiz, dos lugares onde cheguei. Aprendi a gostar dos treinos, da rotina, dos pequenos detalhes. Se não fosse assim, ficaria difícil suportar a vida de atleta. Usei o vôlei para estudar, para viajar, suguei tudo que podia dele. Fui além do que poderia imaginar. Nem nos meus sonhos imaginava participar de quatro Mundiais, ganhar um deles, ser tricampeã do Sul-Americano, vencer Superliga e Estaduais. Saio do vôlei, mas quero continuar no esporte. Sou professora de Educação Física e acho que ainda tenho muito a passar”, pontua.