Depois de muita enrolação em uma cerimônia que parecia não ter fim, os grupos da Copa do Mundo de 2014 foram definidos. O Brasil caiu em uma chave bem acessível, enquanto os grupos B e D são os mais difíceis e os não badalados C e G são muito interessantes.
Confira a análise de cada grupo da Copa do Mundo de 2014:
Grupo A:
A chave não é fácil, mas é acessível e o Brasil tem tudo para avançar no primeiro lugar, além de ter três bons testes para a fase final. O México, mesmo com todo o sufoco para chegar na Copa, tem uma boa seleção com jogadores talentosos. É bem verdade que existe a dúvida de se a seleção do Mundial será a que conseguiu a vaga no torneio (apenas com jogadores que atuam no país) ou se vai contar com os talentos estrangeiros (Giovani dos Santos, Aquino e Chicharito Hernández, por exemplo) aliados aos nativos. Os estrangeiros, apesar da má campanha nas Eliminatórias, devem estar no grupo pelo talento. Independentemente do time, o México é forte.
A Croácia, por sua vez, não tem uma defesa segura, mas conta com bons jogadores do meio para a frente: Olic (Wolfsburg), Mandzukic (Bayern de Munique), Medojevic (Wolfsburg) e Modric (Real Madrid) são os principais exemplos. Os croatas são os meus favoritos para levar a segunda vaga do grupo.
Já Camarões pode ser o saco de pancadas da chave. Apesar do elenco experiente e bons jogadores como Eto'o, Webó e Song, os Leões Indomáveis têm uma defesa fraca e meio-campo e ataque pragmáticos. Além disso, Eto'o, o capitão da seleção, não tem jogado bem pelo país africano e, por fim, problemas extra-campo entre o camisa 9 e a federação local atrapalham Camarões. São muitos problemas em um grupo difícil e faltando menos de um ano para a Copa do Mundo.
Quanto aos adversários serem um bom teste para o Brasil, a justificativa é simples. Se o escrete canarinho confirmar as expectativas e avançar no primeiro lugar, o adversário das oitavas de final será o segundo colocado do grupo B, e o jogo será em Belo Horizonte. Essa chave conta com Espanha e Holanda. É bem provável que a seleção brasileira tenha a chamada "final antecipada" já nas oitavas de final.
Grupo B:
O primeiro grupo da morte. As finalistas do último Mundial, Espanha e Holanda, se encontram e prometem fazer um jogaço. Além do estilo de jogo bonito, com posse de bola, troca de passes, intensa movimentação e grandes meio-campistas como Xavi, Iniesta, Fàbregas, David Silva e companhia, a Fúria, para 2014, tem o seu principal problema solucionado. Nos últimos anos, os espanhóis não tinham um camisa 9 em grande fase. Para a Copa, isso não é problema: Llorente, Negredo, David Villa e Diego Costa vivem excelentes fases. Pior para Fernando Torres e Soldado que, atualmente, não iriam disputar o Mundial.
A Espanha é favorita e a Holanda deve levar o segundo lugar. Do meio para frente, o time é sensacional: Robben, Rafael van der Vaart, Robin van Persie, Sneijder e outros bons nomes. Já a defesa tem sido organizada por Van Gaal, mas ainda faltam definições, principalmente na lateral-esquerda e no gol (curiosamente, a Laranja Mecânica tem três arqueiros muito bons, mas ainda não sabe qual deles será o titular).
O Chile, por sua vez, tem uma boa seleção e pode complicar para as favoritas, tornando o grupo um tanto imprevisível. No entanto, a Roja está aquém de Espanha e Holanda, e sofre com um sistema defensivo frágil. O meio-campo conta com o excelente Arturo Vidal e Matías Fernández, bom organizador de jogadas. O trio ofensivo formado por Alexis Sánchez - em excelente fase no Barcelona -, Eduardo Jesus Vargas e Humberto Suazo é muito bom e interessante. A defesa, entretanto, deixa a desejar, e o Chile terá muitos problemas contra com os poderosos setores ofensivos de espanhóis e holandeses. A Austrália, por sua vez, deve fazer apenas figuração nesta chave.
Grupo C:
A chave tem pouco cartaz, mas é bem interessante. A cabeça de chave Colômbia tem uma boa geração, um futebol envolvente e ofensivo e muitos talentos do meio para a frente, como Falcao García, James Rodríguez, Guarín, Jackson Martínez, Muriel e Cuadrado. Além disso, Pekerman, técnico argentino dos Cafeteros, instalou um bom sistema defensivo na seleção.
A Grécia, por sua vez, tem experiência e a conhecida força defensiva, no entanto, ao contrário dos anos anteriores, também conta com bons nomes para o ataque: Samaras e Mitroglu - do Olympiakos, que tem feito sucesso na Liga dos Campeões da Europa. Já a Costa do Marfim tem uma geração cheia de bons jogadores e aposta nas estrelas Drogba e Yaya Touré para vencer, mas precisa ter um time mais compacto e com o futebol mais envolvente que pode apresentar mas não tem demonstrado dentro de campo.
Por fim, o Japão pode surpreender. O time tem jogadores talentosos do meio para a frente: Kagawa, Honda, Okazaki, Kiyotake e Inui são exemplos, além dos excelentes volantes Endo e Hasebe. Os Samurais Blues tem um bom goleiro: Kawashima, e bons laterais: Uchida e Nagatomo. O estilo de jogo também é bonito e ofensivo, e o futebol é envolvente e muito agradável de se ver. No entanto, os asiáticos precisam de uma zaga mais segura - com menos falhas no jogo aéreo - e um centroavante confiável - que poderia ser Okazaki, se este não jogasse aberto pelo lado direito do meio-campo. O grupo promete ter bons jogos e é muito equilibrado - tirando a Colômbia, que é favorita. Pessoalmente, acredito em Colômbia e Japão, que possuem um jogo mais bonito e envolvente.
Grupo D:
A outra chave da morte conta com três campeãs mundiais: Itália, Uruguai e Inglaterra, além da Costa Rica, que deve ser o saco de pancadas do grupo, apesar de ter um time compacto, bem organizado e com Bryan Ruiz, bom jogador do Fulham, do futebol inglês.
A Itália é o melhor time da chave: Buffon é um dos melhores goleiros do mundo, o sistema defensivo e os zagueiros são muito bons, o meio-campo liderado por Pirlo e que ainda conta com De Rossi, Montolivo e Marchisio é sensacional, e a dupla de ataque formada por Balotelli e Rossi - que está arrebentando na Fiorentina - é muito forte.
Além disso, a Azzurra conta com boas peças de reposição (Giaccherini, El Shaarawy, Diamanti e Marco Verratti são alguns exemplos) e passa por uma revolução sob o comando de Prandelli, que fez o time jogar de forma mais ofensiva, ao contrário do que é tradicional. A Itália ainda conta com um trunfo: as variações táticas. O time pode mudar - dentro de uma mesma partida - do 4-4-2 para o 4-2-3-1 e para o 3-5-2 com extrema facilidade.
Já o Uruguai tem o excelente trio ofensivo formado por Cavani, Luis Suárez e Forlán, além de um bom meio-campo e sistema defensivo. A Celeste Olímpica, no entanto, tem dois problemas: Lugano e Godín formam uma zaga lenta e Muslera é um goleiro muito inconstante. Apesar disso, o Uruguai é o favorito para avançar ao lado da Itália.
A Inglaterra, por sua vez, chega com um caminhão de problemas. O bom goleiro Hart virou reserva em seu clube, o Manchester City, e passa por uma péssima fase, com falhas excessivas. A defesa não está segura, o meio-campo (apesar de Carrick, Lampard e Gerrard) não está totalmente formado e Rooney está um tanto perdido no time e atuando de forma muito recuada, sendo que poderia ter mais liberdade para jogar no ataque ao lado de Sturridge, que vive fase iluminada no Liverpool. São muitos problemas para o técnico Roy Hodgson resolver às vésperas da Copa. A prova de tudo isso é a confiança dos torcedores. Em enquete realizada pelo jornal 'The Guardian', 74% dos torcedores ingleses acham que o English Team não passa da primeira fase.
Grupo E:
A França é favorita. O meio-campo é fortíssimo: Ribéry, Nasri, Cabaye, Matuidi e o jovem volante Pogba, de apenas 19 anos e que está arrebentando na Juventus, formam uma excelente combinação. Além disso, Benzema está vivendo excelente fase no Real Madrid; Lloris é um baita goleiro; e a jovem defesa formada pelos garotos Varane e Sakho é muito boa. A França não deve ter problemas para avançar, mas pode se complicar na fase final.
Talento não falta para o time, no entanto, boa parte da jovem equipe precisa de mais experiência em Copas do Mundo e os Bleus tem mostrado certa irregularidade em seu jogo. Contra adversários mais fortes, isso pode pesar.
A Suíça, por sua vez, é a favorita para levar o segundo lugar. O velho "ferrolho" se aliou ao futebol ofensivo da nova geração que conquistou o Mundial Sub-17 em 2009. Shaqiri, do Bayern de Munique, Seferovic, Granit Xhaka, e os veteranos Inler, Behrami, Dzemaili e Barnetta dão um bom toque ofensivo nessa nova seleção suíça e formam um meio-campo e ataque perigoso que vem forte e em bom momento para o Brasil. O Equador, com um bom time, vai brigar pelo segundo posto com a Suíça, mas tem menos força, principalmente após a morte de Chucho Benítez, seu principal atacante. Por fim, Honduras será o saco de pancadas da chave.
Grupo F:
A Argentina é favorita e Messi deve cansar de marcar gols na fase de grupos. Bósnia, Nigéria e Irã não devem dar trabalho aos hermanos, que tem uma defesa bem armada por Sabella e um meio-campo e ataque sensacionais, com várias opções - Messi, Agüero, Ángel di María, Higuaín, Lavezzi... Para se ter ideia, Tévez não tem espaço na Albiceleste atualmente. Já na briga pela segunda vaga, Bósnia e Nigéria tomam a dianteira.
Os bósnios tem uma defesa fraca, mas um quarteto ofensivo muito forte: Pjanic (Roma), Misimovic (ex-Wolfsburg), Dzeko (Manchester City) e Ibisevic (Stuttgart). Todos são bons jogadores e perigosos. A Nigéria tem um bom trio ofensivo, bons jogadores no meio-campo e uma defesa bem armada, além de Eneyama, goleiro veterano que vive momento espetacular no Lille: não sofreu um só gol nos últimos 11 jogos do Campeonato Francês. No entanto, falta um camisa 10 e um futebol mais criativo para as Super Águias - o enganche nigeriano é Mikel, jogador que é primeiro volante no Chelsea... A briga é bem parelha, mas acredito mais na Bósnia.
O Irã, por sua vez, não deve brigar pela vaga, mas pode arrancar pontos de Bósnia e/ou Nigéria, e definir quem avança à fase final.
Grupo G:
A chave G tem pouco cartaz, mas é muito interessante. Uma das favoritas na Copa do Mundo, a Alemanha chega com tudo para avançar no primeiro lugar. A geração é espetacular, principalmente do meio para a frente, e grandes jogadores não faltam: Özil, Reus, Götze, Schweinsteiger, Toni Kroos, Thomas Müller, Gündogan, Khedira, Klose, Mario Gómez... Além disso, Neuer é um dos melhores goleiros do mundo e a defesa com Hummels e Boateng é muito segura. O problema são as laterais: Lahm e Schmelzer são muito bons - Lahm é um dos melhores do mundo -, mas os germânicos não contam com reservas para o setor. Mas nada que tire o sono de Joachim Löw e dos alemães, que são um dos favoritos ao título.
Os outros três times brigam pela segunda vaga, sendo que Portugal é o favorito na disputa. Os lusos tem uma boa equipe, mas falta uma defesa mais forte e um camisa 10 - que pode ser Danny, do Zenit, que não tem sido convocado - para o time ter um ataque que varia mais e força pelo meio - e não apenas pelas laterais, como tem sido.
Apesar disso, Portugal tem Cristiano Ronaldo, um dos melhores jogadores do mundo, e um bom trio de volantes: Miguel Veloso, João Moutinho e Raul Meireles. Já Gana, que tem um time coeso, bem armado e com bons jogadores principalmente no meio-campo: Kevin Prince-Boateng, Muntari, Essien e Andre Ayew, além de Asamoah Gyan no ataque, pode complicar para Portugal, mas vai ter vida dura na chave. Vale lembrar que os irmãos Boateng devem se enfrentar novamente, já que Jérôme defende a Alemanha e Kevin-Prince defende Gana.
Por fim, os Estados Unidos também podem surpreender, mas tem menos força que Gana e Portugal. Vale destacar que Jürgen Klinsmann, lendário atacante alemão, é técnico da seleção norte-americana e vai enfrentar seu país neste Mundial.
Grupo H:
A talentosa geração belga (Mignolet e Courtois para o gol; Vertonghen, Kompany, Alderweireld, Vermaelen e Lombaerts na defesa; Witsel, Fellaini, Hazard, Kevin de Bruyne, Dembélé, Nainggolan e Mirallas no meio-campo, além de Lukaku, Mertens e Benteke para o ataque) com tantos excelentes jogadores e todos nas melhores ligas e times da Europa é a favorita do grupo e tem tudo para surpreender na Copa do Mundo.
Na briga pelo segundo lugar estão Rússia e Coreia do Sul. Os russos tem uma defesa mais forte e um meio-campo mais coeso - com bons jogadores - enquanto a Coreia do Sul tem um time com um futebol mais agradável e envolvente. Ki Sung-Yueng, Son Heung-Min, Ji Dong-Won, Koo Ja-Cheol e Lee Chung-Yong são alguns dos bons nomes dos sul-coreanos para o setor ofensivo. A Coreia, no entanto, tem um time fraco defensivamente. É puro palpite, mas acredito que a Rússia avança à fase final.
Já a Argélia deve fazer apenas figuração na chave. Os argelinos tem um time que alia bem os veteranos aos jovens talentos como Taider e Belfodil, a dupla da Inter de Milão, mas falta mais talento individual.
*com supervisão de Leandro Cabido