O técnico Rogério Micale voltou para casa. É assim que o treinador, apresentado nesta segunda-feira, na Cidade do Galo, definiu o seu retorno para o Atlético, clube pelo qual ele trabalhou sete anos nas categorias de base. Agora, no entanto, ele sabe que a responsabilidade é muito maior. O treinador chega com a responsabilidade de recolocar o alvinegro nos trilhos, trazer de volta a força atleticana em seus domínios, recuperar a equipe no Brasileirão e buscar títulos em 2017.
Apesar dos desafios, ele se diz confiante, ressalta a qualidade do elenco e destaca a importância que a torcida do Atlético terá neste processo de recuperação da equipe. A primeira oportunidade para tentar iniciar uma reação será contra o Botafogo, nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro, pelo embate de volta das quartas de final da Copa do Brasil.
Confira os principais trechos da entrevista do novo treinador do Galo.
DESAFIOS NO RETORNO
É um prazer enorme voltar para a minha casa. Falei para os funcionários: como é bom chegar em um lugar e conhecer as pessoas. Você se sente à vontade, tranquilo. Eu sei da pressão, fiquei aqui sete anos. Sei do peso que tem essa camisa. E a expectativa é a melhor possível. Sei do atual momento do clube, mas vejo o futuro com muito otimismo. Vejo um clube que está a cinco jogos de ser campeão da Copa do Brasil, a sete jogos para ganhar a Libertadores e com tempo e condições para se recuperar no Campeonato Brasileiro. E para isso, precisamos muito da torcida. Foi ela que sempre empurrou a equipe nos momentos difíceis. A gente pretende implantar o que entendemos, mas tendo cuidado em observar as características dos nossos jogadores. Vamos fazer equipe mais competitiva, o que é um processo, que não vai acontecer da noite para o dia. No entanto, esperamos uma resposta já no jogo de quarta. Eu estou muito confiante.
PREPARAÇÃO APÓS OLIMPÍADAS
Depois do ciclo olímpico, acabei por me aperfeiçoar ainda mais no futebol. Procurei estudar mais, conhecer outros idiomas. Acabei indo ministrar palestras na China, que mudou a forma de ver o futebol. O país está tributando 100% do valor de qualquer contratação. Então, se um clube paga 10 milhões de euros, outros 10 milhões tem que ser pagos ao governo. Agora, eles estão buscando profissionais que produzam jogadores internamente. Eu tinha até reuniões marcadas com vários treinadores na China, o que, infelizmente, foi adiado. Mas eu me comprometi a voltar. Neste tempo, conversei com dois clubes diretamente, que foram Figueirense e Atlético. Mas o Atlético não é um convite. É uma convocação. Espero alcançar os objetivos que temos para este ano ainda.
AVALIAÇÃO SOBRE O ELENCO
Não tenho (como fazer avaliação), porque qualquer coisa que eu falar agora é ser precoce. O treino de hoje foi curto, mas intenso, já tentando implantar o meu modelo de jogo. A resposta dos atletas e o empenho de todos foi muito grande. A partir de agora, vamos ter todas as informações da fisiologia, do departamento médico, da comissão técnica. Temos uma equipe muito boa, um elenco de qualidade. Temos é que recuperar a confiança. Sabemos que nosso torcedor vai estar junto com a gente. Porém, para isso, precisamos corresponder e vamos trabalhar para que isso aconteça. Temos que reencontrar o caminho das vitórias, temos boas chances de título em algumas competições e vamos buscar isso.
ESTILO DA SUA EQUIPE
Pretendo me adequar às características dos jogadores. Não adianta eu querer um time de posse de bola, se o elenco não tem essa característica. Sei o que nosso torcedor quer. E vamos, na medida do possível, voltar ao nosso perfil do Atlético, que é um time agressivo, dominante. Porém, não se faz isso com dois treinos. Vamos trazer a ideia de jogo e mostrar para os jogadores a importância de se trabalhar dessa forma. O padrão do clube é esse, mas precisamos respeitar as características dentro do nosso elenco. Como treinador, eu tenho que tentar tirar o melhor de cada um.
FOTO: Douglas Magno / O Tempo |
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PRESSÃO NO GALO E NA SELEÇÃO
Estou vivendo, aqui no Atlético, exatamente o que vivi durante os Jogos Olímpicos. Eu era desconhecido de muita gente, estava lidando com estrelas do futebol mundial, tentando implantar a minha metodologia de trabalho, que precisa ser aceita, pois ninguém faz mágica. No início do trabalho na seleção, através dos treinos, foi tudo lindo e maravilhoso. Após os dois primeiros jogos, contra Iraque e África do Sul, os resultados não vieram e é como se o mundo tivesse acabado. Vínhamos de uma pressão muito grande (após os 7 a 1), algo muito pesado. Mas o externo não poderia nos atrapalhar, pois sabíamos que só a gente ali poderia mudar essa situação. O Atlético é um clube de massa, que tem condições de ganhar. Temos que lembrar das coisas boas que esse time já fez e ter tranquilidade para reverter esse momento. Sou otimista e quero ganhar. Na seleção, eu tinha sete jogos para ganhar. Aqui, tenho sete na Libertadores e cinco na Copa do Brasil. Espero que todos possam acreditar e trabalhar muito para que isso aconteça
QUALIDADE DA BASE
No futebol, em qualquer lugar do mundo, a gente vive sob pressão, vive intensamente. O mais importante é sempre o próximo jogo. Se não ganhar, a pressão só vai aumentando. Temos que ter tranquilidade, pois sabemos do potencial de cada um. Os atletas (da base) não estão aqui à toa. Eles têm uma boa formação e foram trabalhados para viver esse momento. Gostaríamos que fosse um momento mais tranquilo, mas eu não vejo tranquilidade em lugar nenhum, mesmo no Corinthians, que está pressionado para se manter na liderança. Não tem um lugar que te passe segurança total. Temos que nos adaptar, lidar com os jovens, para que eles possam aproveitar a oportunidade que está sendo dada. Temos que estar juntos. Vamos jogar bola e fazer o que sonhamos a vida toda.
TORCEDORES DESCONFIADOS
Aqueles torcedores que gostaram da minha vinda, eu agradeço. Para aqueles que desconfiam, eu também agradeço, pois vou trabalhar para ter a confiança deles também. Eu sei que não vou ter aceitação total em nenhum lugar. As categorias de base são uma escola. E chega um momento que você precisa dar o próximo passo. E é bom que eu tenha passado na base, pois foi onde eu errei bastante para poder me tornar um profissional melhor e alcançar grandes vivências, com as que tive nas Olimpíadas. O início é muito difícil em qualquer área. Eu participei de todas as finais possíveis de todas as campeões mundiais: fui campeão olímpico, vice-campeão mundial com o Sub-20, Campeão Pan-Americano, campeão da Copa São Paulo... Eu me sinto preparado e muito à vontade. Se o resultado vai dar certo, só o tempo vai dizer. Mas eu me preparei para essa função, me especializei fora do país. Fui ver de perto o trabalho realizado no Barcelona, no Real Madrid, no Benfica, em outros clubes europeus, nas seleções espanhola, alemã. Eu me preparei ao máximo para exercer esse cargo. Mas a gente vive para falar do resultado. Se o Neymar tivesse errado o pênalti, e graças a Deus não errou, eu ia estar com a minha carreira encerrada. A vida é pautada de desafios bem realizados e eu espero realizar tão bem aqui no Atlético quantos realizei nos outros lugares.
LIDAR COM ESTRELAS
Um relacionamento, em qualquer área, tem que ter respeito. Ele norteia qualquer relacionamento. Na seleção brasileira, onde se tinha Neymar, Marquinhos, Renato Augusto, eles compraram a minha ideia porque tinha respeito. E para isso, é preciso mostrar conhecimento. Se for falar de matemática, em 10 minutos, eu vou perder o respeito. Mas se for para falar de futebol, de tática, de treinos, de metodologia, vou me dar bem. Agora, se o cara não te respeita, ele não tem que estar no vestiário. As minhas relações, independentemente no trabalho ou convívio diário, são baseadas no respeito. Se a pessoa não me respeitar, ela não pode estar no meio onde convivo.
INTERFERÊNCIA DE TITE
Algumas oportunidades apareceram e, por algumas circunstâncias, achei melhor não ir adiante. Eu estava propenso a aceitar uma oportunidade fora do país, essa era a minha prioridade. Em relação ao Tite, ele não teve nada a ver com o título. Eu usei uma expressão “houve uma surfada na onda”, pois a seleção antes da Olimpíada era uma coisa e depois, era outra. A gente minimiza muito alguns trabalhos, mas eu não me sinto magoado. Eu divido o trabalho com muita gente. Porém, na seleção olímpica, eu vinha trabalhando com ela há um ano. Se for mostrar os modelos de jogo do Tite e do Micale, vamos ver que são diferentes. O que eu sinto é que existe uma valorização da conquista mais fora do país do que dentro. A gente minimizou o ouro porque a Alemanha não veio com o que tinha de melhor. Quando a gente perde, não prestamos. Quando ganhamos, sempre existe alguma coisa. O Tite foi almoçar com a gente uma vez, mas nunca participou de um encontro, de palestras, nunca conversamos sobre tática, até porque ele é generoso, educado e sabe até onde vai o trabalho dele. Algumas mentiras viram verdades absolutas e a gente não sabe de onde vem.
TRABALHO DO ROGER
Admiro muito o trabalho do Roger. Com certeza, vou aproveitar muita coisa que ele fez. É lógico que tenho alguns detalhes próprios da minha forma de trabalhar. Mas também temos que aproveitar o que foi feito. O Roger é um expoente no cenário de treinadores e por isso o Atlético fez um grande esforço para contratá-lo.
COMO CHEGA AO GALO
Agora, acho que sou um pouco mais conhecido, principalmente após os Jogos Olímpicos. Eu gosto de equipes ofensivas, agressivas, que retomem a posse de bola logo após a perda. Eu gosto de trabalhar junto com todo mundo que faz parte do processo. Vamos unir forças para alcançar os objetivos, que são possíveis e que estão próximos. Temos 1 a 0 de vantagem sobre o Botafogo e temos 1 a 0 contra na Libertadores. Precisamos resgatar a confiança para buscar os nossos objetivos.