Pilar do projeto de reestruturação do futebol brasileiro, a categoria de base segue fora dos prumos no papel de alicerce das equipes profissionais. A falta de integração entre os dois departamentos é apontada por profissionais da área como o principal entrave no processo de transição e consolidação de novos talentos.
Os jogadores continuam sendo revelados, mas as diferentes necessidades (de resultado a curto ou longo prazo), as trocas constantes de filosofias de trabalho (que depende de cada técnico) e as vontades políticas de cada clube contribuem para a perecividade de uma joia da casa.
“Não adianta trabalhar os atletas com conceitos modernos se a estrutura do profissional não é moderna e não consegue ser feita porque tem uma incompatibilidade de conceitos”, ressalta André Figueiredo, diretor de base do Atlético e presidente do Movimento de Formação do Futebol Brasileiro (MFFB).
A concepção é óbvia: na montagem de um elenco profissional, a base não pode ser simplesmente ignorada. “Você não pode contratar um goleiro, sem saber se o seu goleiro da base é bom. É questão de planejamento, dos departamentos se entenderem”, destaca Figueiredo.
O estreitamento de gestão é um pensamento quase unânime para os que são do meio. “O clube é de futebol, do profissional à base, e deve estar integrada ao comando. Tem que ter uma sinergia muito grande. Hoje, se eu preciso de um lateral, digo: ‘eu tenho lá na base, traga para eu ver’. A verdade é que, se preciso de um lateral, os dados já deveriam estar comigo”, pondera Newton Drummond, o Chumbinho, ex-diretor executivo do Internacional.
Garantias. Com estruturas de base elogiada por outros clubes, a dupla Cruzeiro e Atlético garante trabalhar para a máxima sintonia. “Temos uma interação muito grande nos departamentos. Já era assim com o Marcelo (Oliveira), e também com a chegada do Vanderlei (Luxemburgo). O auxiliar Deivid tem participado muito dos nossos treinamentos, e o nosso sub-20 faz todos os treinamentos na Toca II”, explica o diretor das categorias de base da Raposa, Klauss Câmara.
Diferentemente do Cruzeiro, cujo centro da categoria de base – a Toca I – fica em um espaço diferente do profissional, a Cidade do Galo abriga tanto garotos em formação como atletas de elite. “No Atlético, posso falar que não tem muro, nem abismo. Temos um acesso muito grande ao profissional”, afirma Figueiredo.
Cultura e entraves
Maturidade. Na Espanha e em outros países europeus, é comum a formação dos chamados times B, que aproveitam muitos jogadores com idades até 23 anos. No Brasil, a cultura futebolística criou uma máxima de que a formação termina aos 20 anos. O problema é que, muitas vezes, os garotos ainda não estão totalmente prontos.
Legislação. Após ações ajuizadas pelo Ministério Público do Trabalho, a Justiça proibiu que Atlético e Cruzeiro mantenham relações trabalhistas com atletas menores de 14 anos, o que impede que os clubes tenham equipe nas chamadas categorias pré-infantil ou fraldinha. Eles não podem participar de torneios que promovam competitividade.
Discussões. A Associação Brasileira dos Executivos de Futebol (Abex) tem promovido, em todo o Brasil, encontros entre gestores para discutir o futebol brasileiro, tanto com relação às categorias de base, como para as equipes profissionais. O último debate foi realizado em Belo Horizonte, na Toca da Raposa II, no mês passado.