A presença do Sesc-RJ, um time de investimento de Superliga A, na competição de acesso à elite do vôlei brasileiro, mostrou um acerto da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) ao não permitir que uma equipe de alto nível entrasse diretamente na principal competição do país. Seria injusto com tantos outros times que batalham na Superliga B em busca de uma vaga entre os melhores times do Brasil. Se quiser chegar no topo, é preciso escalar a montanha deste o início, foi o recado da confederação.
Não demorou para que a ideia de uma forma correta e justa para se ter o acesso fosse por água abaixo pouco depois. Ao invés de optar pelo simples na sua forma de acesso e descenso, a CBV preferiu 'inovar'. A última novidade é a criação da Taça Ouro, torneio que deve acontecer em julho ou agosto e que definirá o último e 12º participante na elite masculina e feminina na edição 2017/2018. A competição deve contar com os dois últimos colocados da Superliga A, além de todos os times interessados, presentes ou não na Superliga B. Desta forma, qualquer equipe que seja criada nos próximos meses, ao fim da atual temporada, poderá participar da competição e, possivelmente, entrar no maior torneio do país, disputando uma competição de acesso alternativa.
A intenção da CBV é aumentar a possibilidade para que o maior torneio do país tenha um número ainda maior de times de alto nível. "Estamos percebendo que nem todos os times que sobem da Superliga B possuem condições de jogar na elite", justifica Radamés Lattari, diretor de competições de quadra da CBV. A ideia é louvável, mas gera reclamações em virtude dos critérios adotados.
Clubes que disputam a Superliga B, como o Botafogo, não esconderam seu descontentamento, uma vez que todo o orçamento usado na competição de acesso poderia ser 'guardado' para participar da Taça Ouro. "É absurda essa ideia. Fomos avisados de última hora, na reunião do arbitral, quando todos os times já estavam inscritos. Eles conseguiram moralizar ao fazer o Sesc disputar a B para depois fazer isso", lamenta Mauro Lima, técnico do alvinegro carioca. "Se a regra permitisse os dois últimos da A e quem jogou a B, tudo bem. Mas preferiram abrir as portas para qualquer um. Não custa nada para um time aparecer, pagar dois meses de salário, montar um elenco forte e se classificar. Falamos tudo isso com o Radamés, mas foi em vão", reforça o treinador.
Até mesmo o favorito ao título da segunda divisão, o Sesc-RJ, foi contra a mais nova invenção da CBV. "A forma mais transparente é quando dois sobem e dois caem. Quando se cria uma competição como a Taça Ouro, abrindo vaga para convidados ou coisa assim, você tira toda o valor de um torneio como a Superliga B. Muita gente poderia não disputar a B e usar toda a verba para montar um supertime para a Taça Ouro. É preciso tomar cuidado com algumas decisões e acho que a CBV deveria estar atenta a isso", destaca Giovane Gávio, um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos e que, atualmente, treina o Sesc-RJ na Superliga B masculina.
Favorito
Na Superliga B, o Sesc-RJ não deve ter dificuldades para se classificar. Enquanto todo os outros oito participantes se 'pegam', com um ganha e perde dentro e fora de casa, com direito a resultados inesperados, os favoritos estão tranquilos na liderança tendo vencido os três jogos feitos até a última sexta-feira por 3 a 0. "
Período do torneio também incomoda
Não bastando os critérios para os participantes se inscreverem na Taça Ouro, a competição que dará uma vaga na Superliga 2017/2018 só vai começar no início da próxima temporada. "Se o torneio acontecer logo após as finais da Superliga, impedimos o surgimento de novas equipes interessadas. Quem quiser participar, precisará se manter ativo para jogar nos meses seguintes", coloca Radamés Lattari, diretor de competições de quadra da CBV.
A continuação de projetos que conseguem sobreviver com dificuldades não está garantida, já que os acordos atuais vão até o meio do ano, no máximo. "Os contratos com os jogadores e membros da comissão técnica não estarão mais em vigor. Não tenha dúvidas que muitos times vão jogar a Taça Ouro desfalcados, se for ter como base o atual grupo. Não poderemos ter férias para disputar essa competição, precisaremos continuar treinando para não perder o ritmo", comenta Mauro Lima, técnico do Botafogo. O time carioca, na verdade, ainda não tem a certeza de que entrará na Taça Ouro. "Fazemos parte de um clube de futebol e os contratos são até abril, somente. Teríamos que renovar com todo mundo sem ter a certeza que jogaríamos o torneio. A situação é complicada", reclama.
Mauro dá como exemplo o ponta Mineiro, um dos principais do seu elenco. "Ele tem nível para jogar uma Superliga A. Quando terminar a B, ele pode muito bem receber uma proposta e ir embora. Peguei esse jogador operado, o recuperei e agora vou perdê-lo no momento mais importante da temporada. É justo?", pergunta.