Movimento
Um eterno canteiro de obras
De cidade planejada, Belo Horizonte se transformou em um espaço em constante readequação
De exemplo de cidade planejada, Belo Horizonte se transformou em um espaço permanentemente em obras. A planta de Aarão Reis menosprezou a metrópole que se formaria, e a expansão urbana na capital seguiu a lógica do ocupa primeiro, depois estrutura. Aos 117 anos, Belo Horizonte tenta, mais uma vez, romper com esse eterno “quebra-quebra”. E a aposta da prefeitura desta vez é a mudança no Plano Diretor, que irá alterar as regras de construção na cidade, e a Operação Urbana Consorciada (OUC), que pretende revitalizar a área central e o entorno dos corredores Antônio Carlos/Pedro I e Andradas/Tereza Cristina/Via Expressa.
O resultado que se espera dessas duas propostas é uma verticalização da cidade, incentivando a criação de grandes prédios e a ocupação de terrenos subutilizados ao longo dos corredores que já contam com transporte de massa para potencializar o uso do Move e do metrô. “É assim que queremos inverter a lógica que vigorou até agora”, destaca o secretário municipal de Planejamento Urbano, Leonardo Castro.
Tudo isso parece um déjà-vu da primeira grande reforma urbana que a cidade sofreu. Em 1950, preocupado com o rápido crescimento da população, que dobraria em dez anos, o então prefeito, Américo Renné Giannetti, lançou o Plano Programa. A orientação era tornar a cidade vertical, direcionar o crescimento para os eixos Norte e Oeste e resolver o problema do transporte.
A reforma de Giannetti levou os grandes prédios para o centro e, junto ao crescimento econômico e populacional, extinguiu parte das áreas residenciais da área central, que se confirmou como região de comércio e serviços. As ruas, que até então eram pontos de encontro e lazer, foram perdendo essa característica.
Novo passo. Sessenta anos depois, a reforma que se planeja quer retomar essa atratividade pelos espaços públicos e deixar o centro mais residencial. “Em vez de correr atrás para levar a infraestrutura aonde houve um adensamento, como foi no caso do Buritis, queremos adaptar as formas de ocupação com a estrutura já existente”, explica Castro.
Para virar lei
Câmara. As alterações do Plano Diretor já estão em fase final de elaboração, e o projeto chegará à Câmara ainda neste ano. Já a OUC ainda está em processo de discussão popular e só irá para o Legislativo em 2015.
Entenda
Plano Diretor.0 Busca reduzir o Coeficiente de Aproveitamento (CA) para 1 e cobrar outorga para construir acima do limite. Hoje, o CA máximo é de 2,7, o que significa que em um terreno de 1.000 m², onde se construía até 2.700 m², será possível edificar apenas os mesmos 1.000 m², sem pagar outorga.
Na Operação Urbana Consorciada, há regras diferenciadas para uma área específica, flexibilizando o CA, que pode chegar a 6. Há o pagamento de outorga, e o valor deve ser reinvestido na área afetada.