Há exatos 108 anos, o Clube Atlético Mineiro foi fundado. Com mais de cem anos de história, o Galo é o time mais popular e tradicional de Minas Gerais. Mas o que faz com que o Galo seja este time de tamanha expressão nacional? Arrisco a responder que, o que faz o Galo ser o GALO, em toda sua completude, é sua apaixonada torcida, que se destaca das demais torcidas brasileiras, o que é humildemente reconhecido por outros torcedores e jogadores do Brasil. O Galo tem a torcida mais apaixonada, intensa e fanática do cenário futebolístico brasileiro.
Minha história com o Galo, Clube Atlético Mineiro, começou há mais ou menos 25 anos. Filha de um fanático torcedor atleticano, minha infância foi marcada por gritos de “galôo” e por partidas de futebol transmitidas pela TV aos domingos. Sempre quis ir ao estádio, mas meu pai não me levava, pois “estádio não é lugar pra menina”. E assim eu o via sair cedo com meu irmão para o Mineirão enquanto eu ficava em casa com minha mãe e irmãs. Ainda bem que os tempos mudaram e hoje vemos cada vez mais mulheres participarem da cultura esportiva do país.
A paixão do meu pai pelo Clube Atlético Mineiro me despertou e hoje eu entendo todo o alvoroço, todos os gritos, todo o sofrimento e amor dedicados ao time. Hoje eu sei o que é ser GALO. Sei, ou pelo menos imagino, o que foi ter visto estrelas como Reinaldo, Dedé, Dario, Taffarel, Dadá Maravilha e tantos outros jogarem. Galo foi o time que venceu a seleção brasileira de Pelé e Tostão em 1969, Galo é o time que tem as lutas e conquistas mais lindas do Brasil.
Só quem é atleticano entende a emoção de ser atleticano. E foi com emoção que eu me descobri torcedora empenhada, não diria fanática, do Galo. Hoje o Galo faz parte da minha vida como uma presença constante e permanente: “Uma vez até morrer”. Não precisei ver o Galo nascer pra ser atleticana de coração; não assisti ao título de 1971, mas sei o quanto ele foi significativo na nossa história; não havia nascido em 1981, quando o Clube Atlético Mineiro sofreu o maior prejuízo de sua história e, graças à imparcialidade e incompetência do juiz carioca José Roberto Wright, perdeu a semifinal da Libertadores para o Flamengo, mas me revolto e imagino a aflição e tristeza do meu pai e dos amigos atleticanos ao presenciarem tamanha injustiça. Enfim, não vi vários eventos importantes acontecidos com meu time, mas os senti, ao ler as crônicas que Roberto Drummond escreveu para a coluna esportiva de jornais mineiros; ao ouvir os relatos exaltados do meu pai quando retornava do estádio, e ao ver vídeos e ler sobre a história do meu time do coração.
Assisti, com muito pesar e tristeza, o Galo ser rebaixado para a série B do campeonato brasileiro em 2005, numa derrota amarga para o Cruzeiro, em um placar de 6x1. Os jogadores saíram de campo arrasados e humilhados, mas no ano seguinte foram exaltados e incentivados pela torcida, que compareceu em peso aos jogos e levou o time de volta à série A ao som estrondoso de “vamos subir, galôo”. Eu vi, também, a torcida fazer uma grande festa no centenário do Galo, mesmo o time passando por momentos difíceis.
Só quem é atleticano sabe o que é vencer os impossíveis e as improbabilidades. Quem é Galo sente a taquicardia no peito a cada jogo e o arrepio nos braços ao ouvir falar das conquistas épicas do time. Só quem é atleticano sentiu a emoção de ganhar a Copa Libertadores da América em 2013. Só quem é atleticano sentiu que seu coração iria parar bater quando o goleiro Victor defendeu com o pé esquerdo, nos últimos minutos de jogo e levando o Galo à classificação, o pênalti batido por Riascos, no jogo contra o Tijuana. Só quem é atleticano entoou o cântico “eu acredito” e impulsionou o time à vitória. Só quem é atleticano soltou foguetes durante 24 horas ininterruptas comemorando o título. Só quem é Galo viveu o frenesi de ver o time passar pelas oitavas de final e semifinais da Copa do Brasil de forma brilhante e milagrosa, pois em ambos os jogos o Galo perdeu o jogo de ida para os adversários por 2x0, e no jogo de volta os adversários marcaram o primeiro gol. Logo, o Galo, para avançar para as próximas fases, precisava ganhar por três gols de diferença. Com o Mineirão lotado, a torcida alucinada e os jogadores jogando com raça e amor, o Galo alcançou o inacreditável placar de 4x1 em ambos os jogos, chegou à final e ganhou a Copa do Brasil de 2014 em cima do seu maior rival, o Cruzeiro.
E por fim, só quem é atleticano sabe que o time só está completo quando sua torcida está presente, jogando junto. É por isso que em todos os jogos, sejam eles onde forem, em BH ou Marrocos, sempre haverá um torcedor vestido com uma camisa alvinegra a entoar o grito de “GALÔ”. Não fui eu quem escolheu o Galo, foi ele quem me escolheu. O Galo é um time de torcedores que são mais emoção do que razão, intensos de alma e apaixonados por natureza, que estão juntos com o time na alegria e na tristeza, seja lá onde o Galo estiver: “Se houver uma camisa branca e preta pendurada num varal durante a tempestade, o atleticano torce contra o vento” (Roberto Drummond).
GALO, feliz 108 anos de raça e amor!