O resultado do primeiro turno em Minas Gerais foi tão surpreendente que deixou os dois nomes que disputam a segunda etapa do pleito ao Palácio Tiradentes (ou ao da Liberdade) um pouco desnorteados. Até o momento, nenhum dos dois conseguiu acertar o tom da campanha. Melhor para Romeu Zema (Novo), que terminou o primeiro turno na frente e precisa de menos esforços para liquidar a fatura no confronto direto com Antonio Anastasia (PSDB).
Zema bem que tem tentado complicar as coisas. Vivendo um (bom) problema que talvez não imaginasse encarar tão cedo, o Novo se atrapalha para lidar com o assédio de outros políticos no momento em que seu candidato surge para muitos como virtual governador de Minas Gerais. Foi assim, por exemplo, na controversa declaração sobre um eventual apoio de Fernando Pimentel (PT). A declaração acabou rendendo críticas que o grupo de Zema tentou neutralizar com ataques à imprensa. A declaração, ainda que gravada, foi contestada, e o mantra de “fake news”, que busca misturar alhos com bugalhos, foi a melhor resposta que o empresário arrumou. O caso gerou até mesmo uma crise na campanha, que terminou com troca de nomes e uma arma dada na mão do inimigo.
A sorte de Zema é que, do outro lado, a campanha de Anastasia parece já ter entregado os pontos. O candidato passou os últimos dias Brasília, focado em seu mandato, enquanto seus apoiadores permaneceram imóveis sem esperança de reação. Após o susto de ver a liderança nas pesquisas escapar em algumas horas na semana que antecedeu o primeiro turno, Anastasia tornou-se menos acessível e fez com que muita gente identificasse uma postura semelhante à que os petistas Fernando Pimentel e Dilma Rousseff adotaram na fracassada campanha de ambos, ao governo e ao Senado.
Para piorar, Anastasia começou sua campanha de segundo turno também errando. Se Zema, que precisa de menos de dez pontos percentuais para ganhar, se equivocou ao acenar ao PT, Anastasia, que terminou o primeiro turno com menos de 30%, fez o inverso. Ao continuar desancando a legenda que comanda o Estado em suas primeiras declarações e no horário eleitoral, despreza o fato de que 21% dos eleitores votaram em Pimentel e que, sem eles, não há chances matemáticas de que o tucano vire para cima de Romeu Zema.
Nesse duelo sem norte, o candidato do Novo é quem tem mais a comemorar. Ao se confirmarem dados de uma pesquisa divulgada ontem, que o aponta com 73,6% dos votos válidos, ele só precisa tocar o barco por alguns dias e evitar cometer erros para ser o novo governador. Pode até se dar ao luxo de fazer um programa eleitoral tradicional e insosso, como fez no primeiro dia, e ainda assim, ganhar mais alguma gordura até o dia da eleição. Anastasia é que precisa de um fato impactante. A virada não virá em uma conversa sobre experiência e inexperiência justamente no momento em que a população parece clamar por uma mudança, seja ela qual for.
Nacional. Enquanto isso, Bolsonaro percebeu que não precisa mais moderar o discurso para ganhar. O resultado do primeiro turno deu confiança ao capitão da reserva para retomar uma narrativa ideológica e agressiva. Haddad, por sua vez, tenta ser o centro que Alckmin tentou ser no primeiro turno. Se a estratégia deu errado com o tucano, por qual motivo daria certo com o petista?
- Portal O Tempo
- Opinião
- Ricardo Correa
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Candidatos desnorteados
Até o momento, nem Romeu Zema, nem Antonio Anastasia, conseguiu acertar o tom da campanha
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