Luís, coisa esse trem aí pra mim?
Depois de coisada a coisa, só rindo. E foi o que fez com vontade o meu professor da academia, piauiense da gema, que, na esteira da irmã, veio parar em Minas. E ainda hoje se assusta com meu excesso de mineirês.
Dia desses, jantando fora com meu marido, escuto:
– Quando eu cheguei ao Brasil, as pessoas se cumprimentavam com três beijinhos, hoje é só com um – comentou após reparar na mesa ao lado, no entra e sai de clientes.
Digo ao meu marido que esse negócio de três beijinhos era coisa de mineiro. Lembro-me de quando era jovem e passava férias no Rio com uma amiga, que sempre dizia:
– Laurinha, não se esqueça: aqui é só dois beijinhos. –
Sonsa do jeito que eu sou, vivia com o rosto pendurado no ar e, pra piorar a situação, falando pro nada: três pra casar… como era de praxe dizer, enquanto nos cumprimentávamos. De onde tiraram essa bobagem, só Deus!
Em pouco tempo virei o entretenimento número 1 da turma
– a “mineirinha” engraçada, que vira e mexe saía com uma pérola, ao menos na concepção carioca.
“Iiiih! A caneta bichou…” E morriam de rir. Como é que uma caneta poderia “bichar”? Traduzia em seguida:
“Gente, eu quis dizer que a caneta deixou de funcionar, estragou, está bichada, entende?”
Pior mesmo foi com o vendedor de bugigangas:
– Ô moço! Quanté esse trem aqui?
– Tu é mineira, não é?
– Sô, uai! Cumé que cê sabe???
E lá ia eu, distraindo os cariocas com meu jeito mineiro de ser.
Interessante que só nos damos conta disso quando alguém de fora comenta. Trabalhei ao lado de um baiano que do nada começava a rir sozinho. Descobri que o motivo dos risos era eu quando falava minhas abobrinhas num completo mineirês, segundo ele, bem carregado.
Só mesmo um não mineiro para reparar essas coisas, já que, entre nós, as expressões e o sotaque passam despercebidos.
Mas tem uma coisa: o mineiro de Belo Horizonte, por exemplo, não tem nada a ver com o que as emissoras de TV insistem em estereotipar. Fico enervada quando vejo um ator global tentando nos imitar. Nada mais falso e forçado do que aquilo. Imagina!!! De onde é que tiraram isso? Verdade que o sotaque em Minas é variado; o do Norte é um pouco como o baiano; o do Sul, que nem o paulista do interior, puxando o “r”; e o de Juiz de Fora, “a exquina” do Rio, já sabem… Já nós, de BH e região metropolitana, sei lá, não faço ideia. Só sei que está a anos-luz daquele que teimam em interpretar.
Voltando às minhas pérolas, a pior de todas foi com uma tia paulista hospedada em minha casa:
– Laurinha, o que quer dizer a expressão “pegar o boi”?
Eu pensei, pensei... e, por fim, respondi:
– Uai, tia! Pegar o boi é o mesmo que lavar a égua!
Depois dessa, quase mato a tia. De rir, naturalmente.