Segundo o estudo “Solucionar a poluição plástica: Transparência e responsabilização”, feito pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), o Brasil é o quarto país em produção de lixo no mundo. Os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar, seguido pela China e Índia.
Os municípios brasileiros enfrentam a obrigação de recolher e dar destinação em aterros sanitários a 11.355.220 toneladas de lixo plástico a cada ano, e apenas 1,28% é reciclado, segundo o estudo do WWF.
O Brasil ainda sofre pela incúria e falta de educação, e alguns milhões de toneladas de plástico são despejados no meio ambiente. Acabam em grande quantidade nos rios, chegando ao mar. Os oceanos já foram condenados a manter por milhares de anos o descaso das últimas gerações.
O polipropileno, que dá origem aos produtos plásticos, é um polímero derivado do petróleo, relativamente barato, portanto preferido para solucionar inúmeras demandas e usos do cotidiano. Existe uma versão verde do polímero, extraído de ácidos lácticos, abundantes na natureza. São chamados, assim, de PLA; eles se biodegradam, se dissolvem na água num prazo relativamente curto, sem deixar resíduos tóxicos. O PLA tem a virtude de diminuir centenas de vezes os efeitos indesejados do congênere petrolífero, mas seu preço é bem mais elevado. Perde em competitividade, e, por conta dos lucros, fecham-se os olhos à desgraça, deixando às futuras gerações o passivo ambiental e os custos, que serão bem mais altos que os lucros de hoje.
No primitivismo político-administrativo atual, ainda não é reconhecida a possibilidade de eliminar inteligentemente o grave problema do “plástico”.
Os milhões de toneladas de polímeros que vão para aterros custam aos municípios cerca de R$ 2 bilhões por ano na coleta e destinação final. O valor cresce 20 vezes considerando-se os outros materiais, como vidro, óleo, papel, metal, borracha, eletrônicos e resíduos orgânicos, que consomem mais de R$ 40 bilhões para ficar guardados alguns séculos como passivo insolúvel.
Em países que ousaram enfrentar o “monstro”, os aterros sanitários foram extintos. Já nas últimas décadas do século passado, foram substituídos por sistemas variados de reaproveitamento, pensando-se em fazer do sujo algo aproveitável, sustentável, não poluente, com forte economia de matérias-primas extraídas da natureza.
Para não passar vergonha em âmbito internacional, o Brasil, signatário de acordos que lhe permitem certificar seus produtos nos principais mercados, sancionou, em 2 de agosto de 2010 (véspera de eleição presidencial), a Lei 12.305, que estabelecia a responsabilidade dos fabricantes, impondo logística reversa e cuidados com o reúso dos materiais colocados à venda. A meta era alcançar nos primeiros cinco anos, até 2015, o reaproveitamento de 20% dos resíduos de qualquer natureza e avançar nas décadas do século atual.
Exatamente como regra “para inglês ver”, a lei dorme em berço esplêndido, e as medidas de perfumaria adotadas esporádica e casualmente deixam tudo como antes.
Aqui, na região metropolitana de Belo Horizonte, em 2013, um acordão patrocinado pelo Estado consolidava os aterros sanitários, extintos entre civilizados, por 30 anos, gerando ainda alguns nichos de expertos para a “corte” palaciana faturar sórdidas vantagens.
De reciclar, nada; de compostar, nada; de gerar energias derivadas, nada. A sustentabilidade, o respeito, o sequestro, a “green generation” continuam expostas na vitrine para gringos mirarem.
Em Betim, onde me cabe pensar para o presente e ainda mais antecipar condições para o futuro, entendemos que a educação, a falta de estímulo, a carência de sensibilização e de abrir os olhos da população são um primeiro passo. Assim, passei a visitar escolas entregando um “caçambão” de 4,5 m³, dividido em compartimentos para receber vidro, metal, papel, eletrônicos e plástico.
Também iniciamos a distribuir coletores de resíduos em pontos de comércio, implantando uma nova cultura. Numa rede de voluntariado e catadores, o resultado da venda do reciclável fica com o “caixa escolar”, com entidades, além dos catadores.
O plano está no começo, mas deixa as pessoas envolvidas mais felizes. Espanta até a depressão em quem não encontrava motivos para justificar sua presença na sociedade. Acendeu-se uma luz no fim do túnel. As previsões são de alcançar em dois anos os 20% de tudo que vai ao aterro, com economia de R$ 10 milhões anuais na coleta e destinação, gerando ainda R$ 6 milhões em receitas e 400 empregos.
Tenho, entretanto, plena convicção de que os grandes ganhos virão formando-se os jovens alunos a sair da escola preparados para serem agentes do “bem”, da preservação e da forma correta e inteligente, de compartilhar o espaço que lhes cabe neste planeta com mais qualidade de vida e respeito para si e para com os outros.