O “Encontro com Fátima Bernardes” desta quinta-feira (4) promoveu um debate sobre racismo e abriu espaço para o ator Rafael Zulu, a influenciadora digital Tia Má e os jornalistas Manoel Soares e Valéria Almeida contarem experiências próprias de quando foram vítimas do preconceito racial. Os depoimentos emocionaram o público e o nome do programa foi parar na lista de assuntos mais comentados do Twitter
“Essa luta não começa hoje, começa desde o nascimento e vem de muita gente que veio antes da gente. Há menos de 130 anos você me compraria por R$ 200 reais e com R$ 5.000 mil reais você (Fátima) compraria todo mundo nesta tela”, disse Manoel Soares.
Ele, que é repórter do “Encontro” e do “É de Casa”, contou que foi parado pela polícia nesta semana e que chegou a ser algemado. "Eu, por exemplo, essa semana fui parado pela polícia. Quando eu saí do carro, o policial viu que eu era grande, ele teve uma postura um pouco mais agressiva. Inclusive, foi incentivado pelos seus colegas de trabalho a me algemar”, relatou o jornalista. "Quando eles me pararam, eu fiquei com muito medo”, disse Manoel.
"Ter essas pessoas negras, nós negros, como seres humanos, é um exercício diário que o Estado e a sociedade brasileira está tendo que fazer todo santo dia, não é fácil fazer isso." #Encontro pic.twitter.com/aiFfWtjX2M
— Globo em 🏠 (@RedeGlobo) June 4, 2020
O jornalista também falou sobre a criação dos filhos em uma sociedade racista. "Primeira coisa que eu tive que fazer... A gente faz isso há um bom tempo, mas ensinar meu filho a tomar uma geral da polícia. É horrível fazer isso. Você tem um filho lindo, Fátima, não sei se em algum momento da sua vida, você teve que chegar no seu filho quando ele tinha nove anos de idade, encostá-lo na parede como se você fosse um policial e simular uma abordagem", contou Manoel.
“Eu tive que fazer isso com os meus filhos e faço com meus sobrinhos. Eu sei o que isso representa. E quanto mais escura é essa pele, mais você precisa ensinar o seu filho a, na hora que tiver recebendo a abordagem policial, manter as mãos em local visível, falar sempre 'sim, senhor', evitar poses que transmitam arrogância", afirmou.
Racismo na escola
Rafael Zulu contou a filha Luíza, hoje com 13 anos, sofreu racismo na escola. Na época, a garota tinha 10 anos e uma colega de classe disse que ela não poderia assumir o papel principal de uma peça de teatro porque “ela era preta”.
“Ontem eu tava conversando com a Luiza e a pauta era essa. Eu sempre falo para ela: o fato de você ser filha de alguém que tem vida pública não te isenta de absolutamente nada”, disse o ator.
“Por mais empoderado que a gente seja, a gente ainda toma porrada. Era uma menina que tinha 10 anos. O racismo existe sim e não é velado nesse país. A gente toma porrada diariamente", completou o artista.
O crime de racismo
Tia Má contou que, apesar de tudo, ainda tem esperança que um dia o racismo acabe. Entretanto, ela ressaltou que ainda é preciso percorrer um grande caminho. “O que aconteceu nos Estados Unidos é uma realidade aqui no Brasil há mais de 400 anos. A gente fala muito de racismo estrutural, mas a gente não discute como a gente o percebe no cotidiano”, afirmou.
Privilégio é aprender racismo sem sentir na pele. Estar disposto a estudar e escutar é essencial para uma sociedade mais justa no futuro. #Encontro pic.twitter.com/Gh50QE2fsM
— Globo em 🏠 (@RedeGlobo) June 4, 2020
Pauta importante no #Encontro de hoje! Acompanhe o debate sobre o racismo e as recentes manifestações relacionadas ao tema. pic.twitter.com/6UTxTXBsgg
— Globo em 🏠 (@RedeGlobo) June 4, 2020
Manoel Soares disse que enxerga esse momento doloroso como necessário para aumentar os debates sobre o crime de racismo e também para reconhecimento. “É um momento único para a gente se entender como tal. Boa parte de nós, não se reconhece negro”, pontuou.
A jornalista Valéria Almeida disse que crê em futuro melhor. “Eu realmente acredito para ter o melhor efeito a gente precisa ter mais que discussão, mais que movimentos nas redes sociais, a gente precisa de ações efetivas, políticas públicas”, opinou.
"Não existe margem pra erro quando você é negro." #Encontro pic.twitter.com/bG8EqB6m1S
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Internautas repercutiram o assunto nas redes sociais:
Nossa que necessário ouvir estas histórias e refletir sobre isso #Encontro pic.twitter.com/YQZSN4zuzP
— Flavia Mello (@FlaviaMellow) June 4, 2020
Antirracismo: como cada um de nós pode participar dessa luta?
— Thí (@thiagovianaf_) June 4, 2020
Essa luta é de todo nós 🙏🏽#Encontro pic.twitter.com/wGwjzfSasO
Nossa que programa importante.
— Vαι Lυαɳ (@aloulolo) June 4, 2020
Quanta representativa.
Quantas falas importantes.#Encontro pic.twitter.com/Sr6ZAyBeXH
Que bom que estamos tendo voz, que pena que só agora. 😭 #encontro sempre dando oportunidade de todos serem ouvidos e respeitados. pic.twitter.com/ol2EZ9nzy6
— Gabriela Lyss ✊🏿✊🏾✊🏽✊🏼✊🏻✊ (@GabrielaLyss) June 4, 2020
Fátima, há 130 anos você me comprava por 400 reais e por 5 mil reais você levava todo mundo que ta falando nessa tela.
— porteira do D2 (@metheusi) June 4, 2020
Manoel Soares#Encontro pic.twitter.com/vdDZFB3rHl