“Motorista bêbado bate em policiais e é preso”. “Mulher (embriagada) atropela e foge”. “Preso bêbado dirigindo sem um pneu”. Só para se ter ideia do tamanho da desgraça causada pelo álcool, estão aí alguns títulos de matérias publicadas no jornal Super Notícia.
E me pergunto: cadê os bafômetros tão propagados em campanhas passadas? O que é bom dura pouco?
A coisa esfriou, e muitos motoristas, sem receio de serem presos, continuam exagerando na dose. Quer beber? Vá de táxi! Vá de Uber! Chame um amigo não alterado para dirigir, contrate uma van, sei lá... O que não pode é sair por aí morrendo e matando à revelia.
De acordo com levantamentos do Observatório Nacional de Segurança Viária, 47 mil pessoas morrem no Brasil todo ano em decorrência de acidentes no trânsito, fora os feridos e aqueles que carregam sequelas por toda uma vida. Segundo a PRF, as três principais causas dos acidentes com mortes são falta de atenção, velocidade incompatível e ingestão de álcool.
É notório que o álcool diminui a percepção, reduz o sentido de perigo, aumenta a autoconfiança... E pode acabar em tragédia.
Quem, na época, chiou contra a Lei Seca, pelo jeito, não tinha filho jovem, porque, se tivesse, pensaria duas vezes antes de renegar essa bandeira. E não venham dizer que três taças de vinho não são motivo para repreensão. Eu, com uma, já fico leve; com duas, ligeiramente alegre; e, com três, além do sono, com certeza não estou capacitada a pegar um carro e sair por aí – os reflexos não são os mesmos. Tudo bem, não tenho costume de beber, e o pouco que tomo já é muito, mas é besteira achar que um jovem, ébrio, influenciado pelos amigos, com uma dose nas veias, não cairá em tentações da autoconfiança.
Na minha juventude, o acidente mais sério em que estive envolvida foi um colossal capotamento na avenida Catalão. Ao voltar de uma festa com amigos, vi o carro rodopiar e ser arremessado com o teto pra baixo, assim como rodopiava a cabeça de quem dirigia no momento em que saímos. Jovem é assim, nunca acha que vai acontecer com ele. E acontece.
Quem já viveu suas noitadas sabe o quanto é arriscado dirigir após abusar de bebida. Para quem não sabe, o Brasil se encontra entre os primeiros lugares no ranking mundial de acidentes de trânsito e, como disse acima, uma das grandes causas dessa hecatombe é o próprio excesso de álcool, que acaba num poste, numa árvore, num barranco ou noutro veículo, o que é pior ainda, descontando em que não tem nada a ver com a história.
Tenho amigos que sobreviveram, graças a Deus, aos excessos da juventude. Um conseguiu capotar um Fiat 147 com seis pessoas a bordo em plena reta. Outro subiu a rua do Ouro na contramão, só se apercebendo disso quando foi parado pela polícia. Outro fez o carro do pai “abraçar” uma árvore, não conseguiu completar a curva. O carro virou atração. Arrependido e desmoralizado pelos esculachos públicos que levou da família, jurou nunca mais beber enquanto dirigia. Bobagem! Continuou bebendo do mesmo jeito, até a maturidade chegar e, finalmente, se dar conta do absurdo.
No ano passado, no Carnaval, viajei para uma cidade tranquila, escondida entre matas no Sul da Bahia. No percurso, uma travessia de balsas e, sob o sol tórrido de meio-dia, um sujeito cheio de correntes, molhado de suor, com o som do carro nas alturas, a mulher grávida, filhinho e sogra engavetados no banco de trás, entre um gole e outro, derramava o litro de vodca numa garrafa plástica de água, provavelmente para despistar a polícia em caso de blitz. Com água ninguém mexe!
A mulher, ainda sem saber direito o que é ser mãe, em vez de recriminar, ria da “esperteza” do consorte. Tive pena dos filhos: o da barriga e o do banco de trás. Do marido, bem menos. Um sujeito que podia transformar o Carnaval dos outros numa tragédia, deixar crianças órfãs e carregar, pelo resto da vida, a culpa de uma catástrofe.
A lei existe para não ser cumprida? Até quando as ruas e as estradas ficarão marcadas de sangue, de lágrimas e de cruzes?