Minha relação com o futebol italiano data das tardes de domingo ainda na década de 1990, quando o almoço em família dividia espaço com o Calcio – o campeonato da Velha Bota, transmitido ainda pela Rede Bandeirantes com seu extinto “Show do Esporte” e a voz marcante de Silvio Lancelotti. Foi ali que, ainda menino, criei meus primeiros ídolos, praticamente resumidos ao poder defensivo de um Milan de Baresi, Paolo Maldini, Nesta, Gattuso etc.
E era admirável a técnica inigualável de jogadores que, com a camisa rossonera, criaram uma verdadeira dinastia, incorporada ao talento dos brasileiros Dida, Cafu, Serginho e Kaká. Um Milan que há dez anos, com gols de Pippo Inzagghi, talvez o caneleiro mais matador da história, batia o Liverpool em Atenas e tornava-se o segundo maior campeão da Champions League, com sete conquistas.
Pois aquele Milan de tantas glórias parou no tempo. Um longo inverno se instaurou no San Siro. Afundada em dívidas, a equipe de Silvio Berlusconi passou a jogar para públicos modestos, uma vez que os resultados não apareciam. Oitavo lugar na temporada 2013/2014, décimo (!) em 2014/2015, sétimo em 2015/2016.
Mas, nesse mundo cíclico do futebol, como que para relembrar os bons tempos, um sexto lugar no Campeonato Italiano apareceu, conquistado na última temporada e marcado por grandes performances de moleques como Donnarumma, 18, e Locatelli, 19. A posição garantiu o regresso do Milan a uma competição europeia após três anos de ausência, no caso, uma vaga no terceiro estágio preliminar da Liga Europa.
Parece pouco. Mas para um Milan antes em pedaços, esse sexto lugar simboliza uma espécie de renascimento e, ao mesmo tempo, a entrada definitiva do time italiano à realidade predatória da Europa. O clube foi adquirido pelo empresário chinês Lin Yonghong e seu grupo de investimentos por 740 milhões de euros, sendo que 200 milhões deste valor foram gastos só no pagamento de dívidas.
A primeira iniciativa: ir ao mercado e gastar quase R$ 800 milhões em reforços, dando nítidos sinais de força com nomes como o de Bonucci. Essa é a Europa. Para figurar na prateleira de cima, você precisa de grana. E não é pouca. Uma inflação monetária que parece loucura para o cidadão comum, comandada por técnicos e dirigentes que não se intimidam em investir milhões em jogadores regulares. Observe bem Pep Guardiola. O revolucionário técnico espanhol já fez Barcelona, Bayern e, agora, Manchester City gastarem juntos R$ 3,5 bilhões em reforços.
A cada temporada que passa, será mais difícil vermos proezas como a do Leicester, campeão inglês com um modesto time. Ruim para o esporte? Possivelmente. Mas pergunte hoje a um torcedor do Milan se isso o incomoda. No fim, não devemos nos esquecer de que o dinheiro passará, e só a camisa e a paixão da torcida prevalecerão.
Não sou um sonhador ao ponto de acreditar que o mundo da bola independe dos milhões. Porém, espero, sinceramente, que os monopólios não transformem o futebol em um esporte previsível e que o talento, de alguma forma, sempre se sobressaia ao poder monetário.
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