Primeiros passos

Pesquisa derruba mito de que o andador faz mal aos bebês

Universo estudado era formado por famílias de classes sociais média e alta

Por ANDRÉA CASTELLO BRANCO
Publicado em 23 de junho de 2010 | 21:44
 
 
 
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Muito usado na década de 1980, o andador foi condenado pela maioria dos pediatras sob a acusação de que o aparelho poderia provocar uma dissociação entre o equilíbrio e a marcha, retardando o desenvolvimento da coordenação motora das crianças. Mas uma pesquisa de doutorado realizada pela fisioterapeuta Paula Silva de Carvalho Chagas, na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mostra que o andador não traz prejuízos nem benefícios para o bebê.

Durante nove meses, ela acompanhou o desenvolvimento de 40 bebês entre 8 e 9 meses de vida, divididos em dois grupos: os que usavam o andador e os que não usavam. Segundo a pesquisadora, a decisão de usar ou não o aparelho foi tomada pelas famílias antes de a pesquisa ser iniciada.

Os pais que adotaram o andador receberam um diário onde marcavam o desenvolvimento do bebê no aparelho, o tempo e a forma de uso, assim como os acidentes provocado pelo aparelho. Até as crianças aprenderem a andar, Paula Chagas fez um primeiro teste de acompanhamento semanal dos bebês por telefone. "Quando elas começaram a andar sozinhas, passamos a fazer uma avaliação mensal no laboratório de marcha durante seis meses para avaliar nos aparelhos a forma de andar da criança e, principalmente, os ângulos de suas articulações durante o movimento. Para essa análise, foram colocados, na região do quadril até o pé, 21 marcadores que digitalizavam o caminhar do bebê", explica.

O segundo teste foi feito em uma rampa, que tinha sua inclinação modificada para avaliar a capacidade da criança de lidar com os desafios do meio. "Iniciei a pesquisa com três perguntas: se o uso do andador alterava ou não a forma de a criança andar, se ele modificava a maneira de a criança perceber e lidar com o ambiente e por que os pais optavam ou não pelo andador. Em relação às duas primeiras questões, não houve nenhuma diferença entre os dois grupos e todos os bebês apresentaram desenvolvimento normal, aprendendo os movimentos corretamente e no tempo adequado", diz ela.

A pesquisadora alerta para dois aspectos importantes do estudo. O primeiro diz respeito à classe social. "Quase 90% das famílias eram de classe média e alta. Não posso dizer como é o comportamento em classes mais baixas. Outro ponto importante é que os pais que optaram pelo andador receberam orientações de segurança, por isso não registramos nenhum acidente grave", diz.

A esse respeito, Paula Chagas afirma que é injusto colocar a culpa no aparelho. "Os acidentes acontecem por negligência dos pais e não por causa do andador. Uma criança nessa idade não tem noção do perigo. Mesmo estando no andador, requer a supervisão de um adulto", aconselha.Agora, a pesquisadora pensa em continuar o estudo, investigando os efeitos do uso do andador em crianças prematuras e com alterações neurológicas.

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