Duas freiras que atuavam no Lar das Vovozinhas, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, foram indiciadas pela Polícia Civil do Estado por suspeita de tortura, racismo e maus-tratos contra idosas que viviam na instituição. Há cerca de 130 mulheres em idade avançada no espaço. Pelo menos quatro das residentes foram vítimas, conforme o inquérito.
A informação é da delegada Débora Dias, responsável pela investigação. Ela informou a O TEMPO que os crimes estão bem caracterizados e que as religiosas não quiseram testemunhar.
"Tu não vai descer, negra fedorenta. Preta e suja não pode se misturar com os brancos", teria afirmado uma das freiras a uma idosa, negra, que fora impedida de participar de um evento realizado no asilo devido à cor de sua pele. Essa mesma freira deixou outra residente trancada, nua, durante o inverno, no banheiro do quarto em que dormia por ela ter esquecido a chave do cômodo para fora, como forma de castigo.
A outra acusada suturou a pele de uma idosa sem anestesia, e chegou a rasgar um ferimento que uma moradora tinha na pele com uma pinça. Os testemunhos, ressalta Débora, foram unânimes – desde funcionários até familiares das vítimas – em relação às ações das duas freiras.
As suspeitas não foram identificadas. A denúncia chegou, primeiro, ao Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) em junho de 2019, quando um inquérito civil foi instaurado e, documentação, recolhida. As freiras trabalharam no lar até agosto daquele ano, quando foram afastadas por decisão do órgão. A defesa das religiosas alega que provará a inocência delas.
“Recebemos a documentação do Ministério Público. Em cima disso, fizemos um inquérito. Ouvimos mais pessoas, mas na própria documentação do MP tinham depoimentos fartos. Encontramos indícios suficientes para indiciamento de uma das feiras por racismo e tortura, e outra, por maus-tratos. Todos relataram os fatos no mesmo sentido, foram unanimes”, ressalta Débora.
À época, dezenas de testemunhas foram ouvidas pelo MPRS, desde funcionários da limpeza até a direção do Lar das Vovozinhas. A investigação começou oficialmente em julho de 2020, por parte da Polícia Civil. A violência contra as idosas teria ocorrido entre 2019 e 2020. As freiras negaram todas as acusações. A reportagem entrou em contato com o Lar das Vovozinhas, que não respondeu aos questionamentos até a publicação do texto.