Boa Vista. Uma criança venezuelana de 3 anos e seus pais ficaram gravemente feridos na quinta-feira em Roraima, após desconhecidos jogarem uma bomba caseira dentro da casa onde estavam abrigados. As vítimas foram levadas para o hospital, e a criança sofreu queimaduras de segundo grau em várias partes do corpo.
Na última segunda-feira, um caso parecido havia ocorrido no mesmo bairro. Imagens de câmeras de segurança flagraram um homem jogando gasolina e ateando fogo em direção à varanda de uma casa onde vivem 31 venezuelanos.
Uma imigrante que dormia com outra pessoa em uma rede teve queimaduras de segundo grau no rosto, pescoço e costas. No local do ataque de quinta-feira, viviam seis adultos e sete crianças, que estavam dormindo quando foram atacados.
A família veio de Maturi, na Venezuela, onde venderam casa e bens para custear as passagens. “Antes da crise, a vida era maravilhosa. Depois, não tínhamos hospital, educação e comida. Por isso, fugimos para o Brasil”, explicou Jankely Vasquez, 29, que vende bananinhas na rua para sobreviver.
A secretária de Segurança Pública de Roraima, Giuliana Castro, afirmou que o crime está sendo apurado pela Delegacia Geral de Homicídios. “Vamos verificar se é um caso de xenofobia contra venezuelanos. Não é o primeiro episódio de ataque com coquetel molotov contra venezuelanos e, se for considerado um crime de ódio, haverá punição”, declarou.
O presidente Michel Temer disse, em entrevista à Rádio Guaíba na manhã desta sexta-feira (9), que seu governo “discorda da forma como as coisas caminham lá (na Venezuela), que geram os refugiados”.
Depois de citar que os ministros da Justiça, da Defesa e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) estiveram na quinta-feira, 8, em Roraima para verificar, de perto, a situação dos venezuelanos no Estado, Temer afirmou está buscando ajudar os refugiados e já editou decreto concedendo identidade provisória para essas pessoas, como forma de identificá-las. “Há uma preocupação permanente com os refugiados venezuelanos no Brasil”, afirmou o presidente, sem citar ações que o governo federal vai desenvolver.
Cerca de 40 mil vizinhos chegaram ao Estado
Brasília. A Prefeitura de Boa Vista, capital de Roraima, considera que cerca de 40 mil venezuelanos tenham se instalado desde o início da crise no país vizinho, um número equivalente a mais de 10% da população da cidade.
Acampados nas ruas ou em abrigos, os venezuelanos são acolhidos pelo governo local, mas este se viu sobrecarregado pelo grande fluxo de pessoas. “O Ministério Público recebeu notícias de ações graves, casos de xenofobia, trabalho escravo, tráfico de pessoas e de impedimento de acesso aos serviços públicos”, afirmou na segunda-feira a procuradora geral da Republica, Raquel Dodge.
“É um drama humanitário. Essas pessoas estão sendo expulsas de suas casas, de seu país, devido à ausência total de condições para permanecerem lá”, afirmou o titular da Defesa, Raúl Jungmann. O governo pretende realizar um censo e começar a transferir a partir de março uma parte dos 40 mil venezuelanos para outros Estados.