Brasília. O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, fez uma dura crítica nesta quinta ao silêncio das Forças Armadas diante do relatório elaborado pelo grupo. Apesar de reconhecer que, hoje, não há “nenhuma indicação de viés antidemocrático” entre militares, ele afirmou que a atitude gera insegurança na sociedade.
“Não tenho nenhuma indicação de que tenha algum tipo de viés antidemocrático ali. Mas o fato concreto é que esse silêncio gera naturalmente insegurança na sociedade. (...) Esse silêncio vai significar que as Forças Armadas não têm convicção de que não fizeram algo certo, e que isso possa ser uma alternativa no futuro”, afirmou, em audiência no Senado.
Foi divulgado nesta quarta o relatório final da Comissão da Verdade, apontando 377 torturadores que agiram entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar.
“A Comissão Nacional da Verdade não é uma ONG – com todo respeito às ONGs. É um órgão do Estado brasileiro. Se a comissão é um órgão de Estado, como é que outro órgão não se manifesta?”, questionou.
Temer. Antes da declaração de Dallari, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) classificou nesta quarta como uma “insanidade” o pedido de uma intervenção militar no país. Segundo ele, as próprias Forças Armadas são contrárias e “ficam até irritadas” com a defesa feita nos últimos meses por alguns manifestantes em protestos contra a presidente Dilma Rousseff (PT).
O último protesto contra a presidente realizado na capital paulista chegou a reunir cerca de 5.000 pessoas. O grupo que defendia uma intervenção militar era formado por cerca de 400 pessoas e chegou a ser separado da manifestação principal por um cordão policial.
Militante viva
O relatório divulgado nesta quarta incluiu uma pessoa viva, e que depôs ao grupo, numa lista de mortos e desaparecidos. Dirce Machado da Silva, ex-militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), aparece no volume de textos temáticos e autorais do documento.