O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve o conservadorismo e reduziu a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 18% ao ano, apesar do desempenho negativo da economia brasileira no terceiro trimestre deste ano. Essa é a quarta redução consecutiva da taxa básica.
Alguns analistas e setores da economia, entretanto, esperavam um corte maior por conta da queda de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro verificada de julho a setembro deste ano em relação aos três meses anteriores e da desaceleração dos índices de inflação.
As apostas eram otimistas e falavam em queda na taxa Selic de até 0,75 pontos percentuais, mas o Copom mostrou mais uma vez que não vai correr para reduzir juros. Os empresários não discutem a necessidade da queda, mas admitem que a sinalização de desaceleração é animadora.
De maio a agosto deste ano a Selic estacionou em 19,75%, só iniciando a trajetória de queda em setembro. O presidente da Federação das Indústrias de Minas (Fiemg), Robson Braga de Andrade, considera "errada" a redução de 0,50 pontos percentuais.
"Há espaço para cortes maiores. Mesmo com a redução da taxa de juros em termos nominais, os efeitos da taxa de juros em termos reais (12,93%) sobre a economia ainda são preocupantes, principalmente, porque alguns setores produtivos já apresentam sinais de desaquecimento", diz.
Para ele, a inflação deste ano, prevista para 5,68%, e a do ano que vem, com projeções de 4,5%, mostram um controle que é reforçado pela desaceleração verificada no crescimento econômico neste ano. "Há necessidade de juros reais menores para garantir melhoria de emprego e renda em 2006", acredita.
"Decepcionante. O índice é insuficiente para estimular a retomada dos investimentos, única maneira de assegurar o crescimento econômico em 2006 " aliás já ameaçado pelo efeito inercial da queda do PIB no terceiro trimestre, expresso, por exemplo, pela forte desaceleração no comércio varejista, que cresceu míseros 0,06% em outubro", disse Eduardo Bernis, presidente da Associação Comercial de Minas.
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Roberto Alfeu, a alta probabilidade de cumprimento da meta de inflação estipulada pelo Banco Central em 5,1% justifica a opção do Copom em cortar apenas 0,5 pontos percentuais na Selic.
"O excesso de cautela por parte do Banco Central vem fazendo com que o governo perca uma boa oportunidade para estimular os investimentos produtivos que garantirão o aumento da renda e do emprego, como se viu em 2004. E ainda garantirão a retomada da economia já no início de 2006".
Flexibilização
Ao divulgar a decisão, o Copom repetiu o texto do comunicado da reunião passada: "Dando prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária iniciado na reunião de setembro de 2005, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 18% ao ano, sem viés, por seis votos a favor e dois votos pela redução da taxa Selic em 0,75 ponto percentual."
A próxima reunião do Copom acontecerá nos dias 17 e 18 de janeiro. O economista Cláudio Gontijo acredita que o Banco Central esteja tentando manter a credibilidade da instituição.
"Estão tentando conseguir uma boa imagem nacional e internacional", disse. Para ele, os atuais juros estão longe de ser ideais. "A política do Copom é o favorecimento dos bancos. Ela não se justifica porque temos uma estabilidade nos preços e, logo, inflação sob controle", analisa.