A Caixa Econômica Federal anuncia nesta terça-feira (20), às 16h, os detalhes da nova modalidade de financiamento imobiliário corrigida pela inflação. A expectativa é que as prestações caiam imediatamente, já que os juros devem ser reduzidos. Entretanto, como a correção vai deixar de ser fixa – hoje é feita pela Taxa Referencial (TR), atualmente zerada – e passará a ser atrelada ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as parcelas também correm risco de encarecer, caso a inflação suba. Enquanto as novas regras não são divulgadas, a única certeza é a de que as mudanças só valerão para novos contratos.
De acordo com o diretor-presidente da Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ABMH), Vinícius Costa, só dá para avaliar se a mudança será boa ou ruim quando as regras foram especificadas. “Mas é certo que os contratos antigos não serão mudados, pois uma nova modalidade de financiamento não pode chegar no mercado e interferir em contratos já assinados entre a instituição financeira e o mutuário”, destaca.
Segundo estimativas do mercado, o valor da prestação do financiamento da casa própria pela Caixa Econômica Federal pode cair até 35% depois da mudança. No entanto, a professora de economia da Una, Vaníria Ferrari, destaca que tudo vai depender do comportamento da inflação. “Hoje, os juros da habitação variam de 8% a 11% ao ano, mais TR, que está zerada. Se baixar os juros para 3% a 5% e juntar com o IPCA, que atualmente está em torno de 3,5%, aí a nova taxa será mais vantajosa. Mas, se o IPCA subir, a prestação pode até ficar mais cara”, avalia a professora.
De acordo com o professor do MBA de gestão de incorporação e construção imobiliária da Fundação Getulio Vargas (FGV) Pedro Seixas, a substituição promete reduzir o custo total do financiamento no médio prazo. “Eu avalio como positiva para todo o mercado, inclusive das famílias que contratam os financiamentos. Queira ou não, a expectativa de inflação já está embutidas nas taxas de juros e essa modificação vai trazer mais clareza sobre o que se paga de juros e o que se paga de correção”, destaca o professor da FGV.
Previsão
Segundo fontes do Palácio do Planalto, haverá diferentes faixas de financiamento, cuja taxa de juros vai variar de acordo com o valor do imóvel e o grau de relacionamento do cliente. Correntistas, por exemplo, pagarão menos.
Alta do IPCA pode elevar inadimplência
Nos 12 meses até julho deste ano, a inflação pelo IPCA está acumulada em 3,22%. A professora de economia da UNA Vaníria Ferrari destaca que, nessa atual conjuntura, a troca da correção do crédito imobiliário é boa, mas, ainda assim, há riscos. “Se o índice subir e elevar a prestação, há risco, inclusive, de aumento na inadimplência”, afirma Vaníria.
Na avaliação do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, a mudança do indexador não só reduzirá os juros, mas aumentará a oferta de financiamento.
“Nessa modalidade serão atraídos recursos oriundos de fundo de pensão e de investidores institucionais, que poderão trabalhar e comprar os papéis. Isso traz mais dinheiro para o mercado. E também traz empresas menores para participar do mercado, o que estimulará a concorrência e, com isso, temos certeza que os custos para o crédito imobiliário irão diminuir”, analisa o presidente da CBIC, por meio de nota.
Outros grandes bancos ainda vão analisar nova modalidade
A troca do indexador do financiamento imobiliário foi aprovada pelo Banco Central e pelo próprio Conselho Monetário Nacional (CMN) na semana passada. Por enquanto, só a Caixa Econômica Federal anunciará as novas regras, mas os outros grandes bancos ainda avaliam como irão usar a nova modalidade de financiamento habitacional.
O Bradesco afirmou que deve operar essa linha, mas não definiu prazos. Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Santander informaram que estão avaliando as opções.
Na última quinta-feira, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse que as linhas indexadas a índices de inflação só seriam anunciadas quando o banco estivesse preparado para atender aos clientes. A expectativa é que a modalidade possa valer de imediato.