Centenas de milhares de estudantes participam nesta sexta-feira (20) de um dia de manifestações em todo planeta, no que promete ser a maior mobilização da história para conscientizar os adultos sobre a importância de agir contra a mudança climática.
Os alunos de grandes cidades como Sydney, Manila, Mumbai, Seul e Bruxelas responderam à convocação da jovem ativista sueca Greta Thunberg, que participa do protesto em Nova York, a não comparecerem às aulas hoje e participarem da greve escolar simbólica.
Mais de 5.000 eventos estão programados para acontecer no mundo inteiro, incluindo a imensa manifestação em Nova York, onde se prevê a participação de mais de um milhão de estudantes de 1.800 escolas.
"Ponto de inflexão"
Thunberg está encantada de que seu movimento "Fridays for Future", que lançou sozinha no ano passado ante o parlamento sueco para exigir ações dos governantes para reduzir o aquecimento do planeta, tenha convocado milhões de pessoas.
"As cifras são incríveis, quando você vê as imagens, é difícil de acreditar", disse a ativista nesta sexta à AFP na prefeitura de Nova York, antes de partir para a marcha.
"Espero que seja um ponto de inflexão para a sociedade, que mostre quantas pessoas estão envolvidas, quantas pessoas estão pressionando os líderes, especialmente antes da cúpula climática da ONU", acrescentou.
As mobilizações desta sexta preparam o caminho para uma semana de eventos destinados a lutar contra o aquecimento global em Nova York, onde as Nações Unidas acolhe neste fim de semana a primeira cúpula de jovens pelo clima da organização e na segunda-feira uma cúpula sobre o clima com uma centena de líderes mundiais.
"O clima afeta nosso futuro", disse Sarah Whitney, de 17 anos, na manifestação que começou no sul de Manhattan, em Foley Square, e que terminará em Battery Park. Os líderes devem entender que "o tempo está acabando e é preciso mudar agora, porque em breve não haverá mais volta atrás e não teremos um futuro", disse a estudante nova-iorquina, que chegou ao protesto com várias amigas.
Artemisa Barbosa Ribeiro, uma líder indígena brasileira de 19 anos que participa do protesto em Nova York, lamentou que o governo de Jair Bolsonaro, cético das mudanças climáticas e que eliminou várias proteções ambientais, "esteja matando a floresta".
"Os jovens protestando aqui hoje estão ajudando o planeta, e especialmente a nós, os indígenas, que estamos na primeira linha de luta", disse à AFP a jovem, da etnia xakriabá, de Minas Gerais, com o rosto pintado e um cocar de penas coloridas.
Os estudantes de Vanuatu, nas Ilhas Salomão, foram os primeiros a sair às ruas.
Em Tóquio, quase 3.000 pessoas protestaram de maneira pacífica. "O que nós queremos? Justiça climática! Quando queremos? Agora!", gritaram os participantes.
Na Indonésia, milhares de pessoas aderiram à convocação. O país é palco de incêndios florestais, que provocaram uma grande nuvem de fumaça tóxica nos últimos dias.
Na África do Sul, 500 pessoas protestaram em Johannesburgo.
"Estamos em apuros"
Na Europa, 15.000 pessoas compareceram a uma manifestação em Bruxelas, enquanto na Alemanha, onde os ecologistas têm um forte peso eleitoral, ativistas bloquearam o trânsito no centro de Frankfurt. Em Berlim, o principal evento começou no emblemático Portão de Brandeburgo.
Houve milhares no Reino Unido, e em Paris se manifestaram pouco menos de 10.000 pessoas. Jeannette, de 12 anos, estava acompanhada do pai, Fabrice. "É meu aniversário e pedi para vir. A situação me deixa triste. Estamos em apuros e estamos fazendo tudo errado", disse.
As manifestações também foram importantes em Nova Délhi, Mumbai e Manila. "Muita gente aqui já sente os efeitos do aquecimento do planeta", indicaram os manifestantes, citando como exemplo os tufões.
Várias empresas encorajaram os jovens a participar dos protestos e disseram que farão sua parte. O máximo responsável da Amazon, Jeff Bezos, se comprometeu a atingir a neutralidade de carbono até 2040, e chamou outras pessoas a fazerem o mesmo.
Na próxima segunda-feira (23), o secretário-geral da ONU, António Guterres, preside uma reunião de emergência, na qual pretende solicitar aos líderes mundiais que fortaleçam e ampliem os compromissos adotados em 2015 no Acordo de Paris.
De acordo com as últimas estimativas publicadas pela ONU, para se ter alguma chance de conter o aquecimento global em 1,5ºC acima da temperatura média do século XIX, o mundo teria de zerar as emissões de carbono até 2050.