Rompidos com Marina Silva desde que ela anunciou apoio a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições presidenciais, ex-integrantes da Rede discutem a criação de um novo partido – antes mesmo da formalização da legenda de Marina – nos moldes de uma sigla espanhola que, com apenas um ano de fundação, pode sair vitoriosa nas eleições legislativas deste ano.
A inspiração é o Podemos, partido que surgiu no contexto das manifestações de 2011 na Espanha, quando milhares de pessoas ocuparam as ruas para protestar contra medidas de austeridade do governo e pedir a implantação de uma “democracia real”, resultado de uma grave crise de representatividade.
O partido, criado em 2014, arrebatou o eleitorado que formava o movimento 15 M – como ficou conhecido –, que se recusava a ir às urnas por não ver diferença entre o socialista PSOE e o conservador PP, as duas grandes siglas espanholas.
“O que foi inaugurado pelo 15 M não estava representado em nenhum partido. O Podemos conseguiu quebrar esse mal-estar com as grandes legendas”, conta Javier Toret Medina, professor da Universitat Oberta de Catalunya.
No Brasil, quem encabeça as discussões que podem culminar na criação de um Podemos à brasileira – os nomes “Queremos” e “Avante” também são cogitados – é Célio Turino, ex-porta-voz da Rede, que, agora, fala em nome do novo coletivo. “Uma das bases é assumir o legado de junho de 2013. Não só as mobilizações, como o desejo de mudança e a vontade de participação que a população exprimiu”, esclarece Turino, que vê uma grande lacuna no espaço ocupado por PT e PSDB.
“Nenhuma dessas forças pôde expressar a indignação, o desejo de mudança e de outra cultura política que têm nascido não só nas ruas e redes, mas na sociedade brasileira, depois das transformações das últimas duas décadas”, opina Turino. O movimento também conta com ex-filiados de PT, PCdoB e PSOL e com nomes como o sociólogo Marcelo Soares.
Matriz. O professor Javier Medina, que participou de um seminário em São Paulo há dez dias, conta que o Podemos nasceu quatro meses antes das eleições europeias e conseguiu sucesso com um modelo potente de comunicação aliado a uma aprovação de 70% a 80% dos espanhóis às manifestações de 2011.