A habilidade na lida com linhas e agulhas até melhorou com o avançar dos anos, mesmo que a visão e a coluna não sejam mais as mesmas para a costureira aposentada Edina de Souza Santos, de 63 anos. Depois de uma vida inteira na produção têxtil, entre períodos trabalhando com carteira assinada e outros como autônoma, em que era remunerada com até um salário mínimo, ela achou que poderia viver mais tranquila, só com a aposentadoria, atualmente de R$ 1.412, que passou a receber em 2021. Mas não foi bem assim.
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Segundo a idosa, com o custo de vida cada vez mais alto, a manutenção de boa parte das contas de casa, onde vive com a filha, de 44 anos, e dois netos, de 23 e 17, no bairro Piratininga, na região de Venda Nova, em Belo Horizonte, a forçou a seguir na labuta. Por conta disso, ela abriu uma lojinha e passou a prestar serviços como costureira, por meio dos quais chega a tirar até R$ 700 por mês para manter as despesas quitadas.
A realidade de Edina é também a de muitos outros idosos em Minas Gerais e no Brasil. Só no Estado, o número de pessoas de 60 anos ou mais ocupadas – que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), abrange trabalhadores formais e informais – cresceu 37,6% na comparação entre o último trimestre de 2013 e o mesmo período do ano passado e chegou a 837 mil idosos, conforme dados compilados pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), a pedido de O TEMPO. Os números têm como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. O número de mineiros de até 59 anos ocupados teve uma alta de 9,3%.
“As pessoas estão vivendo mais, o que gera um desequilíbrio em termos financeiros e de necessidades. São diversos gastos, como a necessidade de ter um plano de saúde mais caro, compra de medicamentos ou a necessidade de pagar um cuidador. Sem contar com o custo de vida. O idoso acaba tendo que trabalhar para se manter e, muitas vezes, também sustentar a família”, analisa Mauro Moreira de Oliveira Freitas, presidente da Associação Brasileira do Cidadão Sênior (Abracs) e professor de direito da pessoa idosa da Escola Superior de Advocacia (ESA) da OAB do Distrito Federal. Atualmente, a média de vida do brasileiro está em 75,5 anos, conforme o IBGE, número que tende a crescer.
Para diminuir o impacto do custo de vida na terceira idade, Fernando Sette Jr., economista e professor dos cursos de gestão do UniBH e da Una, explica que as pessoas devem passar a se planejar financeiramente cada vez mais cedo. Ele sugere que o ideal é, desde o início da vida profissional, buscar rendas extras, além de poupar e investir parte do que recebe.
Segundo Sette, quem tem dificuldade em guardar o dinheiro deve colocá-lo em alguma aplicação financeira. “Essa aplicação precisa te pagar a inflação mais 0,5% por mês. Isso é mais do que suficiente para não ter perdas no poder de compra e ainda ter um rendimento bom. Você não ficará rico aos 60 anos, mas vai ter sempre algum rendimento”, conclui.
Pouca qualificação e remuneração baixa
Outro importante fator que explica a necessidade de pessoas de 60 anos ou mais seguirem trabalhando, segundo Otávio de Toledo Nóbrega, professor de gerontologia da UnB e presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), é a baixa renda dos aposentados.
"É muito preocupante viver onde a maioria tem renda insuficiente. Em um momento em que deveriam buscar desacelerar, já que não têm mais o vigor da juventude, estão se preocupando em trabalhar", disse.
O Brasil, hoje, conforme dados do IBGE, tem 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Desses, 23,3 milhões estão aposentados e recebem, em média, R$ 1.784,86. O valor é quase quatro vezes menor que os R$ 6.995,44 estimados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos como necessários para manter uma família de quatro pessoas no Brasil.
“Quem se aposenta geralmente é com salário mínimo e, por conta do atual custo de vida, precisa complementá-lo. A gente percebe ainda que, ao complementar a renda, o público dessa faixa etária geralmente consegue entrar no mercado em atividades que envolvem baixa qualificação e baixa remuneração”, avalia Amanda Carvalho, diretora de Monitoramento e Articulação de Oportunidades de Trabalho da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais.
Vagas. No Brasil, 2,7 milhões de pessoas com 60 anos ou mais trabalham. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais de 2022, elas trabalham principalmente em tarefas como assistente administrativo, motorista de caminhão, auxiliar de escritório, trabalhador de serviços de limpeza e conservação de áreas públicas, porteiro de edifício, entre outras.
Esforço. Para melhorar a condição trabalhista de idosos, o Estado informou, por meio da Sedese, que atua para atrair investimentos e para mudar a mentalidade empresarial, de forma que novas vagas sejam criadas e ocupadas por idosos ativos.