A imponência do monumento “Liberdade em Equilíbrio”, estrutura central que compõe o projeto arquitetônico da Praça Rio Branco e marca o início da avenida Afonso Pena, no centro de Belo Horizonte, está ameaçada pelo abandono. Apesar da relevância histórica – uma vez que a obra foi encomendada para representar o momento de abertura política pelo qual o Brasil passava no início da década de 1980 – o desgaste do concreto e a ferrugem que ameaça as ferragens expostas deixa clara a falta de manutenção.
Para Ubirajara Camargos, engenheiro calculista que trabalhou na execução do monovolume, além do prejuízo ao patrimônio, o descuido pode ameaçar a vida de pedestres, já que, segundo ele, se a base do monumento de 21 metros de altura estiver muito comprometida pela corrosão, “ele pode cair”. Camargos explica que o perigo está no fato de a escultura ter sido projetada como uma estrutura em balanço, o que “significa que parte da obra está suspensa e apenas uma porção dela é apoiada na praça”.
Camargos ressalta ainda que a urina de pessoas que fazem do monumento uma espécie de banheiro público pode ser uma das principais causas para o desgaste do concreto e a exposição das ferragens. “O xixi humano é uma das substâncias mais corrosivas para esse tipo de estrutura”, explica o engenheiro.
Quem circula com frequência pelo hipercentro da capital já se acostumou a ver a escultura da Praça Rio Branco abandonada e cobra mais atenção do poder público com o patrimônio. “O monumento parece estar para cair mesmo. Dá para ver rachaduras. A prefeitura deveria tomar mais conta dele e se esforçar para o revitalizar”, cobra o professor Willckerty Fernandes, 21, que circula a pé pelo local diariamente.
Vistoria
Por meio de nota, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que uma vistoria na Praça Rio Branco, realizada em conjunto pela Diretoria de Patrimônio Cultural, pela Fundação Municipal de Cultura e pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) constatou “problemas de acabamentos causados pelo tempo e pelo uso, como a soltura de peças de revestimento e de corrimãos, assim como desgaste de pisos. Foi observado também o desgaste do concreto do monumento 'Liberdade em Equilíbrio'. Ainda conforme a PBH, a Sudecap, responsável pelas obras de reparos e manutenção, está analisando as providências a serem tomadas.
"Prefeitura tem de reconhecer a relevância do monumento", diz urbanista
A arquiteta e urbanista Cecília Fraga, conselheira do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) de Minas Gerais, lamenta o abandono da escultura “Liberdade em Equilíbrio”. “Por trás desses monumentos sempre há um marco histórico, um acontecimento político ou social de relevância para a cidade. No caso desse monumento, ele representa a mudança de um momento político que vivíamos em 1982 e de modificação da sociedade. Por isso ele está colocado em um local em que muitas pessoas transitam”, observa.
Para Cecília, é preciso mais atenção à obra de arte. “É de extrema importância o cuidado e manutenção desse tipo de monumento para toda e qualquer cidade. Isso é a história do cidadão. A prefeitura e a população têm de reconhecer a relevância de manter viva sua história e simbologia”, finaliza.
Praça-monumento
A Praça Rio Branco é uma das principais praças de Belo Horizonte e homenageia José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco. Marca o início da avenida Afonso Pena e, na década de 1970, foi instalado o Terminal Rodoviário da cidade, e, com isso, passando a ser conhecido popularmente como Praça da Rodoviária.
No centro foi instalado, em 1982, o monumento Liberdade em Equilíbrio, escultura monumental de 21 metros, autoria da artista plástica Mary Vieira, cujas formas geométricas são conjugadas, compondo um monovolume. A base da escultura é a praça, composta por listras em espiral em várias direções, que sustentam um cubo flutuante em três eixos, fabricado em concreto, pelo que também é denominada praça-monumento. A concepção escultórica da praça inclui o desenho paisagístico, mobiliário urbano e paginação do piso, bem como a articulação com a importante e central Avenida Afonso Pena.
“Liberdade em equilíbrio” é uma das peças importantes de Mary Vieira. O Monovolume é constituído por dois pilares de 21,40 m, uma laje de 40 cm de espessura, e se ergue sobre uma base horizontal de 5, 30 m por 4,6 m. A obra foi inaugurada pelo prefeito Maurício de Campos, em 13 de maio de 1982. A inauguração do monumento deu-se no momento em que o Brasil passava pelo processo de redemocratização, o que nos aponta explicações para o título da obra, Liberdade em equilíbrio. Um cubo que se projeta no espaço em várias direções interpreta a atitude ética da gente mineira.