Pedras

Apego dificulta resgate em distritos 

Além do difícil acesso, bombeiros esbarram na recusa em moradores ilhados de deixarem suas casas

Por Bárbara Ferreira
Publicado em 08 de novembro de 2015 | 04:00
 
 
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Quatro dias após o ‘tsunami de lama’ que assolou Bento Rodrigues e região, ainda há gente ilhada. Ontem, o Corpo de Bombeiros conseguiu resgatar em Pedras, com helicóptero, sete pessoas, incluindo idosos e crianças. Como fica em uma parte mais alta, o distrito não foi atingido, mas os acessos estão bloqueados pelo lamaçal. Além da dificuldade de alcançar o vilarejo, os bombeiros esbarram em outro obstáculo: o apego dos moradores à terra onde nasceram.

“Eu só saio daqui se a água chegar e me levar junto. Minha casinha é meu cantinho e é tudo que eu tenho”, afirma a dona de casa Dalva Martins Viana, 62, que tem andado mais de uma hora até a estrada para buscar doações de mantimentos e roupas que são deixados por quem quer ajudar.

Segundo ela, o maior problema é a falta de água. A idosa também conta que ainda tem muita gente em Pedras que não pretende deixar o local. “Tenho uma vizinha de mais de 80 anos, diabética, que precisa de insulina e não tem como conservar porque não tem energia. Mas ela não quer sair”, conta Dalva.

O Corpo de Bombeiros e a Cruz Vermelha chegaram ao local após informações de moradores que têm parentes por lá – a reportagem de O TEMPO acompanhou a visita. Hoje, as buscas vão continuar. Segundo o bombeiro William Vasconcelos, as equipes rodaram ontem durante todo o dia, levando mantimentos e água. “Passamos no distrito de Paracatu, mas já foi totalmente evacuado. Fomos a Borbas e lá ainda tem cerca de 15 pessoas, que não querem sair”, afirma.

O apego é realmente uma dificuldade no resgate. Aos 70 anos, Walter Elias Cerceau, morador de Pedras, não quer deixar o local e, para manter sua criação de animais, tem ido buscar ração por trilhas, em cima de uma mula. Um filho dele, que mora em Mariana, vai até onde o carro consegue ir, e o pai o encontra no meio do caminho. “Os bichos são meu sustento”, diz Walter.

Acesso. Ontem, equipes da Samarco começaram a abrir os acessos em quatro frentes de trabalho para ligar Santa Rita Durão à Gesteira, e Paracatu a Pedras. Segundo o engenheiro mecânico Diego Santana, 35, são 30 pessoas, sete caminhões e seis pás carregadeiras.

Voluntários também tentam ajudar como podem. O engenheiro Rômulo Cerceux, 54, está rodando a região para ver como pode colaborar. “Eu vi um senhor gritando da sua fazenda, que fica numa parte baixa. Pedi ajuda à máquina da Samarco para tentarmos abrir o acesso. Como ele está bem, vamos voltar amanhã (hoje) para tentar buscá-lo”, conta Rômulo.

Um grupo de jipeiros também está ajudando a levar mantimentos para quem está ilhado. “Tudo que vimos é muita tristeza. Como conseguimos chegar onde nem todos conseguem, estamos rodando com água e roupas”, explica Flávio Barbosa, 32.

“Eu só saio daqui da minha terra se a água chegar e me levar junto. Minha casinha é meu cantinho e é tudo que eu tenho.”

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