Preocupante

Belo Horizonte é a capital onde mais se abusa de álcool em todo o país

Em um ano, capital mineira passou do nono para o primeiro lugar

Por Vítor Fórneas
Publicado em 20 de abril de 2022 | 07:27
 
 
 
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Belo Horizonte, conhecida como a cidade dos bares, não tem nada o que comemorar. Um levantamento do Ministério da Saúde mostrou que a capital liderou o ranking de consumo abusivo de álcool entre as principais cidades do Brasil em 2021 (veja abaixo). O índice preocupante, conforme alertado por especialista entrevistado por O TEMPO, acaba sendo mais uma consequência da pandemia e do isolamento, mas pode trazer consequências graves para a saúde.

O estudo da pasta levou em consideração a porcentagem de adultos com 18 anos ou mais que consumiram mais de quatro doses de bebidas alcoólicas em uma mesma ocasião nos últimos 30 dias anteriores à pesquisa. Belo Horizonte lidera o ranking com 25,20% – isso significa que mais de 25% da população maior de idade abusou do álcool no período pesquisado. A segunda colocada é Vitória (ES), com 23,28%, seguida por Cuiabá (MT), com 23,17%.

A professora do Departamento de Enfermagem Aplicada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Janaína Soares alerta que Belo Horizonte ascendeu muito rápido no consumo nocivo de álcool. Em um ano, a capital passou do nono lugar (com 22,11%) para o primeiro. A pesquisadora afirma que o aumento começou a ser observado no início da pandemia. Na ocasião, houve quem enchesse a dispensa de bebidas.

“As pessoas foram até os supermercados e começaram a fazer estoque. Outro ponto que contribuiu foi o aumento de aplicativos para comprar bebidas. Também não podemos deixar de destacar as questões emocionais: ansiedade, estresse, tristeza e depressão, que levam a maior vulnerabilidade”, explica.

Amenizada a questão sanitária, a pesquisadora teme que o cenário fique ainda mais preocupante. “Com o comércio abrindo cada vez mais e as medidas de distanciamento diminuindo, as pessoas estão frequentando massivamente os estabelecimentos”, alerta. Ela considera que a população adulta com 20 anos ou mais é a que mais requer cuidado. “O chamado consumo ‘binge’ (uso pesado e episódico de álcool) é muito perigoso, pois gera alterações psíquicas, irritabilidade e tristeza”, explica.

No entanto, as consequências para a saúde podem ser gravíssimas. Segundo especialista, pode ocorrer perda da percepção, da atenção, envelhecimento precoce, câncer de boca e garganta, redução da imunidade, fraqueza muscular, problemas cardíacos, além de outras várias enfermidades. 

“O álcool é uma droga depressora do sistema nervoso central, e o aumento do consumo dela pode estimular sentimentos de tristeza e reclusão. O consumo abusivo é sinal de alerta para os prejuízos que as pessoas podem vir a ter”, finalizou. Abaixo, veja como procurar ajuda.

Não focar a bebida pode ajudar 

“Se tiver cerveja na geladeira, eu bebo, mas sagrada mesmo é a do fim de semana”. A cabeleireira Cristiana Paula do Nascimento, 38, bebe cerveja com muita frequência. Seja em um pagode com os amigos ou até na própria casa, ela não deixa de consumir a bebida. Apesar disso, ressalta que busca o controle mesmo dando algumas “escapadas”.

“Trabalho tanto durante a semana que preciso relaxar. Meu consumo nem aumentou, nem diminuiu com a pandemia”. Ao contrário de Cristiana, o vendedor José Tavares Quirino Junior, 31, passou a beber mais após se ver isolado. Antes, ele conta que estava até mesmo tentando reduzir o consumo de bebida alcoólica.

“Como não tinha lugares para sair, minha família se reuniu mais vezes na casa dos meus pais. Agora é muito raro passar o fim de semana sem a cervejinha. Não me considero um consumidor de álcool em excesso, pois não bebo durante a semana”, avalia.

Uma dica da professora Janaína Soares para evitar o excesso é ter outras formas de entretenimento. “O álcool não pode ser o foco da diversão. Procure ao sair, por exemplo, mais atividades para dar menos atenção à bebida. Consumir alimentos, beber água e bater papo com os amigos são boas saídas”, aconselha Janaína, que leciona enfermagem psiquiátrica e diálogos universitários em saúde mental na UFMG.

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