Dois quarteirões da rua Simão Tamm, entre as ruas Cônego Santana e Conde Santa Marinha, no bairro Cachoeirinha, região Noroeste de Belo Horizonte, foram escolhidos para o teste do Zona 30.
O projeto da BHTrans prevê velocidade máxima dos veículos em 30km/h, para priorizar os pedestres, ciclistas e quem tem mobilidade reduzida, como idosos, oferecendo mais segurança para eles. O teste começou nesta sexta-feira (26) e vai até segunda-feira.
Um novo traçado da rua foi delimitado com pinturas no asfalto e vasos de plantas. Quando for implantado definitivamente, a via ganhará calçadas mais largas e travessias elevadas.
De acordo com a coordenadora de sustentabilidade e Meio Ambiente da BHTrans, Eveline Trevisan, além de reduzir o espaço dos carros a via ganhou trançado sinuoso.
“Ao entrar nesse espaço, o motorista vai compreender que ele precisa mudar o comportamento. O Zona 30 reduz acidentes e faz com a região fique mais segura”, disse Eveline.
O local fica perto de duas escolas. As calçadas são estreitas e os estudantes andam na rua. Falta espaço na calçada até para quem aguarda no ponto de ônibus. Pais de alunos, comerciantes e motoristas aprovaram a proposta.
No trecho da Simão Tamm entre as ruas Conde de Santa Marinha e Nossa Senhora da Paz, o espaço para os carros foi reduzido de 13 metros de largura para apenas uma faixa de 4 metros. E o motorista não dirige em linha reta, pois o traçado é sinuoso, o que o obriga a dirigir devagar.
Atualmente, a velocidade máxima permitida na rua já é de 30km/h, mas os motorista não respeitam o limite e passam a mais de 50km/h, mesmo tendo quebra-molas. Com o teste, eles já começaram a pisar no freio.
Na segunda-feira, a BHTrans vai avaliar a possibilidade de estender a intervenção para o restante do bairro e também de forma definitiva. Na rua Simão Tamm, a mudança pode acontecer ainda este ano.
O foco do projeto são os bairros residenciais, mas estudos comprovaram que áreas de comércio também são propícias, segundo Eveline. “Temos um estudo grande para a região hospitalar”,disse ela.
Dúvida
Operadora de caixa em uma padaria, Mariana Augusta Pereira Honorato, de 61 anos, acredita que o Zona 30 vai melhorar quando se trata de reduzir a velocidade dos veículos, mas a maior preocupação dela é com o espaço de carga e descarga de mercadorias.
“Acho que vai piorar para nós. Vai piorar para a padaria, para o açougue, para todo o comércio. A gente quase não está vendendo e vai piorar sem lugar para estacionar os caminhões de entrega de mercadoria. Hoje, mesmo, o pessoal não teve onde estacionar o caminhão de bebida”, reclamou.
Eveline Trevisan disse já ter conversando com os comerciantes e garantido que os espaços de carga e descarga serão mantidos.
“Nosso objetivo não é deixar de fazer o abastecimento do comércio. Então, a gente vai colocar uma sinalização provisória enquanto houver a intervenção temporária para que a carga e a descarga possam acontecer normalmente”, disse ela.
Até mesmo quando o projeto for implantado definitivamente, segundo ela, o espaço para os caminhões serão mantidos.
“Na hora de fazer o projeto definitivo do quarteirão, a gente vai estudar a previsão de carga e descarga, como, por exemplo, algum recuo para que o veículo encoste junto ao passeio”, explicou.
A arquiteta Janaína amorim trabalha para um instituto alemão e presta consultoria para a BHTrans em projetos voltados para pedestres e ciclistas. Segundo ela, o Zona 30 já foi implantado em outras cidades do país e no exterior e o resultado é positivo. “Tanto para os pedestres, como para reduzir a velocidade, para os comerciantes e toda a região. As pessoas vão mais para as ruas", disse a arquiteta. "Diminui os conflitos entre pedestres e veículos, com mais áreas de calçadas e espaço para os ciclistas”, comentou.
Repercussão
A comerciante Ana Maria Gontijo Silva, de 72 anos, é dona de uma loja de roupas no trecho que sofreu a intervenção temporária. Ela acredita que a mudança vai melhorar as vendas.
“Atualmente, as pessoas não estão circulando por essa rua e o comércio caiu bastante. Com os veículos passando mais devagar, as pessoas terão mais oportunidade de observar mais o comércio. As pessoas terão mais segurança para andar, como os idosos, que têm dificuldade para atravessar a rua”, observou a comerciante.
A auxiliar de fisioterapia aposentada Luíza Araújo, de 72 anos, ficou feliz com a mudança, por correr o risco de ser atropelada todos os dias. “Pedestre nunca tem vez. Assim ficou muito bom. A gente vai poder atravessar mais tranquilo, com mais segurança”, disse.
Rosicléia da Silva Alves, de 39 anos, que sempre leva e busca a filha de 3 anos na escola, disse que a mudança tem que ser definitiva para que possam andar com mais segurança. “As crianças vão adorar o espaço para andar pelo calçadão”, comentou.
O motorista de aplicativo Ataíde Geraldo de Oliveira, de 58 anos, considera o projeto “uma ideia brilhante”. Ele, que mora no bairro, acredita que os motoristas serão obrigados agora a respeitar o limite de velocidade. “Tem muitos alunos circulando na rua e ficava até complicado o pessoal atravessar a rua”, comentou.