Considerado pelos cristãos o dia que marca a ressurreição de Jesus Cristo dos mortos, o domingo de Páscoa foi celebrado na manhã deste domingo (21) na pequena Igreja Nossa Senhora das Dores, no Córrego do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana. Com a presença do arcebispo metropolitano dom Walmor Oliveira de Azevedo, fiéis, entre moradores e parentes de vítimas da tragédia da Vale no dia 25 de janeiro, cantaram juntos a dor que há quase três meses assola o pequeno vilarejo. Uma das canções era “Seu vale da morte insiste. Vale não vale nada. Bruma de Brumadinho, cê foi embora, seu povo chora, uma dor que dói demais”.
A celebração teve início às 10h30 e terminou às 12h15. Ao todo, aproximadamente 350 pessoas estiveram na missa, que ainda contou com uma manifestação contra a mineradora Vale, proprietária da barragem I da mina de Córrego do Feijão que rompeu no dia 25 de janeiro deste ano. Além de moradores da comunidade e parentes das vítimas da tragédia, também estiveram na cerimônia militares do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, que foram homenageados com a entrega de uma imagem de Nossa Senhora do Rosário. Os bombeiros também inauguraram uma placa posta no local com a referência ao fato de que a igreja foi usada como base das operações de resgate até o dia 20 de fevereiro.
Para Dom Walmor, presença em Brumadinho é crucial após o que chamou de ‘“tragédia criminosa”. “Escolhemos estar aqui na comunidade do Córrego do Feijão onde houve a tragédia criminosa do rompimento da barragem no dia de Páscoa justamente para reacender, especialmente no coração das pessoas que aqui estão e das famílias enlutadas, a chama da esperança. Cristo é a nossa esperança porque Ele morreu e ressuscitou. Estamos aqui dando graças a Deus pela ressurreição do Senhor para reavivar em nós essa esperança e alegria de fazer desse caminho uma grande reconstrução que é sempre da vida de cada um de nós, de nossa família e, de modo muito especial, do nosso Estado de Minas Gerais e da sociedade brasileira, precisadas de reconstrução”, afirmou.
Nas contas de José Aparecido Oliveira, 37, foram 11 amigos perdidos na tragédia no dia 25 de janeiro. Durante a missa, morador se emocionou ao lembrar dos companheiros. “Foram muitos. Na verdade todo mundo que era daqui a gente já conhecia, né? Não tem essa. A gente conhecia todo mundo. Mas eu perdi 11 chegados. Não eram colegas. Não eram meio amigos. Eram 11 companheiros de vida. Olho para tudo isso e só me pergunto quando é que vai deixar de parecer um pesadelo”, afirmou emocionado.
Protesto. Logo após a celebração, cerca de 25 estudantes se reuniram na porta da igreja para protestar contra a mineradora Vale. Com cartazes como “Viva a resistência do povo de Brumadinho”, “Toda solidariedade a Brumadinho” e panfletos com os dizeres “Vale assassina”, eles deram abraços em moradores e familiares de vítimas que passavam pelo local. “Tem que falar mesmo. Não importa. A empresa é assassina. Nada vai trazer nossos amigos e familiares de volta”, afirmou Madalena Soares, 36.