A flexibilização de decretos que permitem a reabertura parcial de setores da economia já tem sido diretamente responsável por um aumento do número de casos de coronavírus. Em algumas cidades, esse crescimento chegou a 266,7% em apenas 19 dias. É o caso de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte.
No dia 8 de maio, Ribeirão das Neves tinha 18 pessoas com Covid-19, com 1.838 casos em investigação. Já no dia 27 de maio, eram 66 casos. Os números são dos boletins epidemiológicos divulgados pela prefeitura. Um óbito foi confirmado nesse intervalo de tempo.
Ainda em 8 de maio, a cidade da Grande BH começou uma intensa fiscalização para que os estabelecimentos seguissem as normas, que impedem aglomerações e adoção de medidas sanitárias para impedir a propagação do vírus. As equipes de fiscalização chegaram a interromper uma partida de futebol no campo do bairro Jardim Primavera, na região de Justinópolis.
Questionada sobre as atuais ações de enfrentamento do coronavírus, como fiscalizações e capacidade hospitalar para atender a casos da enfermidade, a prefeitura de Ribeirão das Neves, através da Secretaria de Saúde, informa que o município tem 100 leitos para atendimento de Covid e, no momento, 12 respiradores. Outros 20 aparelhos foram adquiridos. Foi aberto ainda processo seletivo para contratação de mais profissionais para atuar nas unidades básicas de saúde e de urgência.
Segundo a prefeitura, além da Guarda Municipal, de funcionários Vigilância Sanitária, do apoio da TransNeves e da Polícia Militar, o município conta hoje com uma equipe de aproximadamente 100 servidores atuando como 'Orientador COVID', que está dividido em equipes de rua, que preparam a população para o uso de máscaras, evitar aglomerações e cuidados pessoais. "Não ocorrem autuações e sim orientações para os comerciantes sobre como proceder e atender a população sem aglomerações nas dependências comerciais oferecendo uso de gel e a obrigatoriedade do uso de máscaras também dos colaboradores".
Leia outros esclarecimentos da Prefeitura de Ribeirão das Neves:
Quais ações têm sido tomadas pela cidade para impedir aumento do número de casos de coronavírus, que aumentou significativamente após a abertura do comércio? O aumento dos casos está sob controle na cidade, era o esperado mesmo após a retomada econômica?
Alguns resultados eram exames que estavam aguardando. Os exames levam um tempo considerável entre 10 a 14 dias para chegar o resultado. A abertura do comércio tem condições como utilização de máscaras de todos os colaboradores, tanto em local privado como público; disponibilização de álcool em gel para entrar nos estabelecimentos; horários alternados entre bancos 8h às 13h e comércio de 14h às 19h; academias permanecem fechadas; parque ecológico fechado; restaurantes e bares não podem consumir bebidas no local; número de pessoas nas igrejas e horário reduzido dos cultos; higienização e lavagem das ruas, unidades de saúde e locais públicos com grande fluxo de pessoas (prefeitura, Regionais Administrativas) nas três regiões do município; blitz educativa para conscientização do uso de máscaras; fiscalização noturna em bares e igrejas.
Existe um controle referente ao aumento de casos confirmados após retomada econômica.
Quais as orientações gerais para a população de Ribeirão das Neves? Uso de máscaras constantes, ficar em casa... Há previsão de volta às aulas?
Segundo Decreto 061/2020 de 22 de maio, o uso de máscara é obrigatório todas as vezes que o munícipe de sair de casa, seja para trabalho, compra, atendimento médico em todo e qualquer espaço e mesmo nas vias públicas e caso não seja necessário sair, que fiquem em casa. Não há previsão de retorno das aulas e foi implantado o Programa de Ensino em Casa - PECNeves, com diversas atividades de revisão de aulas para os alunos da Rede Municipal de Ensino desenvolverem em casa durante a quarentena.
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Sete Lagoas
Também com lojas de portas abertas desde o início do mês, Sete Lagoas, na região Central, permitiu até mesmo o funcionamento de shopping com 50% da capacidade e escalonou o horário de abertura de grande parte do comércio. Do dia 8 de maio ao dia 27 do mesmo mês, a cidade viu o número de casos de coronavírus saltar de 10 para 26, um aumento de 160% nas notificações.
Até mesmo o prefeito Duílio de Castro Faria (Patriotas) testou positivo para a Covid-19. O município também já foi alvo de ação do Ministério Público de Minas Gerais, que queria barrar a reabertura do comércio.
Reação
Para tentar conter a pandemia, a cidade adotou uma série de medidas, como aumento da fiscalização e monitoramento da evolução dos casos. Atualmente, a capacidade de atendimento do hospital municipal para suspeitas de Covid-19 está em 18,8%, um pico após os 15,4% registrados em abril. Na UPA, a ocupação de leitos clínicos tem estado em torno de 16%, e a de leitos destinados a pacientes graves na Ala Covid, de 5%. Uma equipe extra de profissionais foi montada para atender a demanda extra de casos.
“Nosso monitoramento mostra que, diariamente, são atendidos lá uma média de 20 pacientes com sintomas de síndrome gripal. Esses pacientes passam por atendimento e recebem alta no mesmo dia. Em torno de 13 precisam ficar em observação diariamente. Desde abril, apenas 20 pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave foram admitidos na UPA e, apresentando piora, precisaram ser transferidos para o Hospital Municipal”, disse a prefeitura, em nota.
Sobre a reabertura do comércio, empresas que não seguirem os protocolos sanitários podem ter o alvará cassado. Duas empresas foram punidas com a suspensão dos alvarás por 90 dias. A Guarda Municipal de Sete Lagoas, realizou, entre 16 de março a 22 de maio, 1.036 ações preventivas de educação e conscientização, 1.154 notificações referentes a aglomerações, 316 fiscalizações em filas de bancos e lotéricas, além de 258 outras abordagens, em um total de mais de 2.700 ocorrências. As equipes da Vigilância Sanitária já notificaram 352 empresas no mesmo período.
“Não podemos falar em uma situação sob controle, visto que estamos lidando com um cenário de crise, de instabilidade, em que tudo é novo. Mas Sete Lagoas tem se preparado para enfrentar a crise. Foi uma das primeiras cidades do país a publicar um decreto declarando situação de emergência em saúde, apenas cinco dias após a declaração da pandemia pela OMS, quando ainda não havia nenhum caso confirmado aqui. Acreditamos que isso foi um fator decisivo para que freássemos o avanço da doença e tivéssemos tempo de preparar a cidade para o enfrentamento”, afirmou a prefeitura.
Nova Lima
Com idas e vindas em decretos que autorizam a abertura de parte do comércio, Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, começou a autorizar o funcionamento de lojas no dia 5 de maio. Depois, voltou atrás e impôs novas regras, praticamente decretando uma “lei seca” na cidade, já que restaurantes, por exemplo, estão proibidos de comercializar bebida alcóolica para consumo no local. De lá para cá, a cidade teve um aumento de 49,5% nos casos confirmados de coronavírus. Uma óbito que aconteceu entre os dias 5 e 27 de maio está sob investigação pelas autoridades de saúde.
Nova Lima aderiu, conforme determinação da Justiça, ao programa Minas Consciente, do governo de Minas, com instruções para reabertura gradual do comércio em cidades com condições de fazê-lo, levando em conta o número de casos e a capacidade do sistema de saúde para atender a novas eventuais notificações. Segundo a Secretária de Estado de Saúde, ao todo, 84 municípios já aderiram ao programa, impactando uma população de 2.214.090 milhões de pessoas em Minas. Nova Lima, por sua, já está na onda branca, que prevê reabertura de atividade de baixo risco. Clique aqui e veja outras cidades.
Questionada sobre as atuais ações de enfrentamento do coronavírus, a Prefeitura de Nova Lima informou que mais de 3.000 ações de notificações, orientações verbais e atendimento a denúncias já foram realizadas pelo poder público. Dois estabelecimentos foram interditados.
O Executivo municipal reiterou que o uso de máscaras segue obrigatório para que sair de casa e que 2.000 testes de Covid-19 estão sendo adquiridos pelo município para tornar mais eficaz a notificação dos casos.
“O governo municipal reitera que a flexibilização do comércio não representa um relaxamento no isolamento social. Todos os cuidados contra a doença devem ser mantidos: fazer a higienização correta e constante das mãos; evitar tocar estruturas diversas, como pontos de ônibus; entrar somente nos estabelecimentos comerciais que respeitem as normas de funcionamento; e, principalmente, manter o isolamento social, ou seja, só sair de casa se realmente for necessário”, disse a prefeitura, em nota.