Em Minas Gerais, nenhuma das vacinas recomendadas para crianças de até 1 ano de idade teve, neste ano, o alcance mínimo recomendado pelo Programa Nacional de Imunização, que é de 95%. A pneumocócica 10 (contra infecções, entre elas pneumonias), que apresentou a maior cobertura vacinal para essa faixa etária, não chegou a 70% de alcance (66,45%), entre janeiro e o dia 8 de setembro. As demais doses atingiram índices que variam de 58,21% a 64,5%.
A baixa cobertura poderia estar relacionada a pandemia do novo coronavírus, que reduziu a circulação de pessoas nas ruas e de consultas pediátricas. No entanto, desde 2016 esses números apresentam queda.
Dados do Programa Nacional de Imunização, do governo federal, mostram que, em todo o ano passado, a maior taxa de imunização alcançada entre crianças de até 1 ano foi de 89,49% no Estado, também para a Pneumocócica 10.
Para a coordenadora Estadual de Imunização da Secretaria de Estado de Saúde de Minas (SES-MG), Josianne Dias Gusmão, a redução da cobertura vacinal é grave, e o Estado tem atuado para reverter os números.
“O dado é bastante preocupante, principalmente neste ano que não tivemos nenhuma das metas alcançadas de janeiro até junho nas vacinas para crianças de até 1 ano. Diante disso, elaboramos uma campanha ‘Vacina Mais Minas Gerais’ para alertar a população sobre os benefícios da vacina e o risco a que as pessoas ficam expostas quando não se vacinam, além de desmistificar fake news relacionadas à vacinação”, explica a coordenadora.
A infectologista, pediatra e professora do departamento de pediatria UFMG Aline Almeida Bentes acredita que a pandemia contribui negativamente, mas, para ela, faltam campanhas sobre a importância da imunização.
“Os números têm caído e não só agora, mas há alguns anos. Houve restrição de horários nas salas de vacinação de alguns centros de saúde, o que favoreceu. Outra questão é não ter tantas campanhas publicitárias chamando a atenção da população para ir aos postos de saúde para vacinar. Tudo isso vai influenciando na queda”, pondera.
A advogada Débora Fernanda Silva, 34, sempre manteve o cartão de seu filho Murilo Pimenta de Oliveira, 3, em dia, porém, com a pandemia, ela confessa que deixou de atualizar a caderneta.
“Sempre fui muito exigente, mas, no período de pandemia, fiquei receosa. Além do risco de ir ao posto de saúde (e pegar coronavírus), tenho medo do meu filho ter reação à vacina e eu precisar levá-lo à um hospital, onde ele poderia ter contato com pessoas com o Covid-19 e se infectar”, conta.
BCG e Polio têm pior alcance do século
Recomendada para os primeiros dias de vida, a vacina BCG, contra formas graves de tuberculose, teve, no ano passado, o menor índice vacinal do século, com apenas 86,14% de cobertura. O recomendado para essa imunização é 90%, conforme indica o Ministério da Saúde. De janeiro até 8 de setembro deste ano, os números relacionados à BCG apontam uma queda ainda maior, já que falta menos de quatro meses para encerrar o ano e a cobertura vacinal até agora é de 62,5%.
A vacina contra Poliomelite, doença que pode causar paralisia, também teve, em 2019, o menor índice vacinal desde o início do século, com apenas 86,23%. O recomendado é 95% . Neste ano, os últimos dados de Poliomelite é de 86,3%.
“Todas as vacinas são imprescindíveis. Estamos falando de doenças que podem levar à morte e que não foram erradicadas. Com a globalização, elas correm o risco de retornar”, alerta a médica infectologista Aline Almeida Bentes.
A campanha “Vacina Mais Minas Gerais”, do governo estadual, começou em julho, com publicações em redes sociais. Escolas e de gestores municipais de saúde ajudam a divulgar o conteúdo.
Sarampo
Não só a vacinação entre crianças está em baixa, mas também a imunização em adultos, como contra o sarampo. Em agosto, cinco meses depois de iniciada a quarta etapa da campanha para pessoas de 20 a 49 anos de idade, a cobertura foi de 3,2% no país.
O alcance nas cidades mineiras, segundo os últimos dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES), de janeiro até o dia 8 de setembro deste ano, é de 26%.
“Fizemos divulgação digital e pelos meios de comunicação. Mas a ação coincidiu com a campanha de Influenza e ficou prejudicada”, explicou Joseanne Gusmão, da SES.