Levou tempo até compreender que “como cê tá” era o mesmo que “how are you doing?”. A contração da pergunta “como você está”, a depender do ritmo do sotaque do interlocutor, pode tornar a compreensão do mineirês um tanto inviável. Os ouvidos e a língua do estadunidense Regan Zanes deram nó até que ele entendesse do que se tratava quando era interpelado por um “como cê tá”.
Ele pousou em Belo Horizonte em 2014, ao ser transferido dos Estados Unidos para a capital mineira por uma multinacional do ramo de energia. O trabalho acabou, e Zanes teve que retornar ao seu país de origem. Porém, a vontade de se fixar no Brasil ficou guardada no peito do estrangeiro.
“Fiquei morrendo de saudade da minha vida aqui e passei três anos pensando em como faria para voltar a trabalhar no Brasil”, relembra. Oito anos depois, o desejo foi alcançado, e Zanes entende quase perfeitamente toda e qualquer variação do português falado em Belo Horizonte.
É aqui que ele ama e quer ficar. Morando em Belo Horizonte, o ex-consultor de estratégia e finanças acabou mudando totalmente de área. O agora belo-horizontino de carteirinha abriu o perfil @thegringoinbrazil no Instagram e já coleciona 124 mil seguidores, muito mais gente do que várias cidades dos Estados Unidos. Na rede social, ele arranca calorosos elogios da audiência não somente pela pose de galã, mas também por causa de lindas fotos de paisagens e atrações turísticas brasileiras. Imagens de Minas Gerais são recorrentes, atualmente mescladas com fotos de outros Estados.
Se antes o mineirês causava confusão no gringo, agora ele capta tudo malandramente. De interjeições como uai, a diminutivos como “cafezim”, passando por expressões-curinga, como “trem”, e até mesmo algo difícil de traduzir, como “arreda”. “Entrei no carro, e uma amiga me mandou arredar. Eu disse: o que é isso?”, relembra, achando graça das confusões que fazia com o idioma falado só em terras mineiras. Alguém lhe explicou em sua língua materna que era para ele “scoot over”. “Arreda é o meu favorito”, brinca.
O “uai” foi, sim, um problema. A palavra que brota feito mato na língua do mineiro tem o mesmo som da conjunção “why”, que em inglês quer dizer “por quê?”. “Demorei a entender. Eu via pessoas falando quando estavam tristes ou surpresas, dá pra usar em qualquer situação”, explica.
Após driblar todos os ruídos linguísticos, Zanes agora performa um português perfeitamente compreensível.
A simpatia do estadunidense ajuda a facilitar o diálogo. Simpatia, aliás, que ele diz ter sido o que mais o encantou no povo belo-horizontino. “Eu não acreditava que havia pessoas tão gentis assim”, elogia.
O jeito mineiro de receber, com uma hospitalidade incomparável, nem sempre é visto com naturalidade por alguns estrangeiros, devido a questões culturais. “Vi pessoas tão genuínas aqui que achei até estranho”, assume Zanes. Ele explica que as pessoas nos Estados Unidos têm por hábito ser mais fechadas. “Em BH eu fui recebido com um calor humano que nunca senti na vida”, completa, sempre sorridente.
Com tanto afeto, o gringo mergulha na cultura mineira com dedicação. Anda por todo lado em Belo Horizonte e região e já tem até time do coração – o atual campeão brasileiro, Atlético Mineiro. Gosta de ir ao Mineirão assistir aos jogos, frequentar a disputada rua Sapucaí e o animado Mercado Novo, comer tropeiro semanalmente e passear na praça da Liberdade.
Namoro na praça era novidade para o estrangeiro
Foi na praça, um dos principais cenários da capital, que Regan Zanes se deparou com outro hábito local que lhe causou surpresa: a constante troca de carícias entre jovens, que usam os gramados a céu aberto para colocar o namoro em dia.
“Para mim foi estranho o afeto em público, mas depois aprendi que é o jeito de vocês mostrarem amor a uma pessoa. Acho isso muito lindo”, exalta.
A paixão por Belo Horizonte parece não ter prazo de validade. Se depender dele, quer ficar na cidade, falar mineirês e explorar a cultura e paisagens locais ainda por muito tempo.“Amo viver em BH, a cidade tem muitas coisas legais”, diz. “Quero mostrar para o mundo o que estou vivendo no Brasil”, finaliza.