Revolta

Copasa deixa bairros de Betim sem água, e moradores protestam

Companhia deve R$ 19 milhões à cidade por poluir rio e não realizar obras na rede; empresa também não tem licença ambiental para operar a Várzea das Flores

Publicado em 01 de fevereiro de 2021 | 21:03

 
 
Moradores do Citrolândia, em Betim, fizeram protesto ontem contra a Copasa depois de ficarem dias sem água Moradores do Citrolândia, em Betim, fizeram protesto ontem contra a Copasa depois de ficarem dias sem água Foto: RONALDO SILVEIRA
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Há mais de dez dias sem o fornecimento de água, dezenas de moradores do Citrolândia, em Betim, na região metropolitana, protestaram, ontem, na porta de um escritório da Copasa na cidade. Erguendo cartazes e batendo panelas, eles cobraram o retorno do serviço, que, mesmo sem ser prestado, é cobrado todo mês. 

“Na minha rua, não chega água. Mas a conta chega sem falta pra ser paga”, contou a cozinheira Andreia Maria da Silva.

A falta de água no Citrolândia é um exemplo de como a Copasa não tem cumprido com a prestação dos seus serviços em Betim, segundo o secretário municipal de Meio Ambiente, Ednard Tolomeu. A companhia deve mais de R$ 19 milhões ao município. Parte desse valor (R$ 4,24 milhões), de acordo com o gestor, refere-se a multas por poluição ambiental, já que a companhia lançou irregularmente toneladas de esgoto em cursos de água e rios da cidade. Em 2018, por exemplo, no Icaivera, fiscais do meio ambiente flagraram uma estação elevatória da Copasa despejando dejetos no córrego Água Suja. 

Outro problema é que Betim, segundo a prefeitura, teve que realizar, nos últimos anos, uma série de obras, como a construção de redes de esgoto em vários bairros, intervenções que são de responsabilidade da Copasa, mas que não foram feitas pela companhia.

Somando as obras já executadas com as que ainda estão sendo feitas, o valor que a Copasa deve ao município chega a mais de R$ 15 milhões, e, desse total, a prefeitura já pediu que a companhia faça o ressarcimento aos cofres municipais de R$ 7,1 milhões.

“A Copasa tem responsabilidade com o fornecimento de água, o tratamento do esgoto e a ampliação e a manutenção dessa rede. Mas possui um contrato ineficiente para a manutenção desses serviços, o que gera problemas no abastecimento de água. Com isso, quem sofre são os cidadãos, que ficam sem água, e o município, que tem que fazer obras que são de responsabilidade dela (Copasa)”, afirmou a presidente da Empresa de Construções, Obras, Serviços, Projetos, Transporte e Trânsito, Marinésia Makatsuru. 

Protesto

Durante o protesto, uma comissão de moradores foi recebida pela direção do escritório da Copasa. Segundo Tomaz Nedson, um dos representantes da comunidade, a estatal alegou que o problema está sendo causado por vazamento na rede e pediram um prazo de 15 dias para resolução.

Sem licença

A Copasa também não possui licença ambiental para operar o reservatório Várzea das Flores, que fica entre Betim e Contagem. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. 

“Apesar de gerenciar a represa desde 1974, a Copasa nunca obteve o licenciamento ambiental”, completou o secretário de Meio Ambiente de Betim, Ednard Tolomeu. O Estado chegou a multar a empresa em R$ 175 mil pela falta de licença e pelo lançamento de efluentes oriundos do tratamento de água, mas a Copasa recorreu. A estatal deu entrada no processo para obter a licença em fevereiro de 2019, mas ainda não concluiu o processo. 

“Quando assumi como prefeito, a multa da Copasa já era de R$ 11 milhões e chegará agora a quase R$ 20 milhões, mas nada foi pago. Tivemos que judicializar a situação. Quero dar parabéns aos moradores que foram lá para manifestar. É um absurdo ficar dias sem água”, afirmou o prefeito Vittorio Medioli. 

Posicionamento

Em nota, a assessoria da Copasa afirmou que, por causa do calor intenso, houve aumento no consumo, “o que provocou um desequilíbrio no sistema” que abastece a região do Citrolândia. A empresa ainda afirmou que está realizando manutenções na região para “buscar o equilíbrio”.  

A Copasa informou ainda que, atualmente, a contratação do estudo e relatório de impactos ambientais de Vargem das Flores está sendo providenciada para formalização do processo de licenciamento do empreendimento. Desde fevereiro de 2019, as tratativas para regularização ambiental do empreendimento estão sendo discutidas com o órgão ambiental que solicitou a elaboração do estudo. Entretanto, o seu conteúdo somente foi definido pelo órgão solicitante em novembro de 2020. 

Já o valor da multa e sua pertinência estão sendo analisados pela Procuradoria da Companhia para as providências cabíveis.

Adutora

Para complicar ainda mais o abastecimento de água na região do Citrolândia, uma adutora da empresa se rompeu na quarta-feira (3) na cidade de São Joaquim de Bicas. Com isso, o abastecimento na cidade e em municípios vizinhos, como Betim, estão prejudicados. 

Segundo o  representante do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), Tomaz Nedson, até essa quinta-feira (4), ainda faltava água em pelo menos nove bairros do Citrolândia. “A Copasa ainda não resolveu o problema. E o pior é que muita gente está consumindo a água direto do caminhão-pipa, o que pode trazer problemas de saúde”.