Hospitalização

Coronavírus em MG: Estado é o terceiro com mais hospitalizações respiratórias

Ao mesmo tempo, Minas tem a terceira menor incidência de Covid-19 do país, o que faz infectologistas levantarem hipóteses para explicar alta taxa de internações por SRAG

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 05 de maio de 2020 | 17:18
 
 
 
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Minas Gerais é o terceiro Estado com mais hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), atrás de Rio de Janeiro e São Paulo. Ao mesmo tempo, Minas é o terceiro Estado com menor incidência de Covid-19 — são 111 casos por 1 milhão de habitantes, enquanto em São Paulo, onde a incidência é, de longe, a maior do país, o número chega a 701. É o que mostram dados do Ministério da Saúde atualizados diariamente.

Essa divergência entre os números de hospitalização e as confirmações de Covid-19 pode ser mais um sinal da falta de testes para detecção do coronavírus em Minas e no Brasil, apontam infectologistas. Em todo o país, a causa de mais de 90% dos casos mais recentes de hospitalização por SRAG (considerando o final de abril) ainda está em investigação, e pouco menos de 7% foram diagnosticados com Covid-19. Menos de 1% são comprovadamente devido à Influenza.

A Secretaria de Estado de Saúde (SES), que registra 6.865 hospitalizações por SRAG em Minas Gerais neste ano, não soube especificar quantos dos pacientes que passaram por esse tipo de hospitalização tiveram confirmação para Covid-19 ou para outras doenças ou aguardam resultado de exames. A pasta alertou que nem todas as hospitalizações por SRAG são internações, e que há casos em que a síndrome trata-se de complicações de problemas crônicos, como bronquite, e não infecções por vírus ou bactérias.  

Para o médico Carlos Starling, um dos membros do comitê de enfrentamento à pandemia em Belo Horizonte, além da falta de testes para a Covid-19, esse cenário mostra um problema de longa data: ele diz que muitos pacientes saem de uma hospitalização por SRAG sem saber a causa exata do problema, porque nem a saúde pública, nem os planos de saúde privados costumam fazer os testes em todos para detectá-la. 

“No dia a dia, isso acarreta maior consumo de antibióticos, por exemplo. Além disso, se outros vírus fossem diagnosticados, saberíamos que não se tratam de casos de Covid-19, o que é uma informação valiosíssima”, defende.

O infectologista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Ésper Kallas reforça essa perspectiva e diz ter esperanças de maior rigor nesse quesito após a pandemia. “Depois disso, o Brasil vai ter outra realidade de diagnósticos”, comenta.

Starling não descarta que grande parcela das hospitalizações por SRAG em Minas seja de outras doenças respiratórias, que não a Covid-19, mas acha improvável que seja esse o caso. “Acredito que boa parte é Covid-19 mesmo, porque vacinamos praticamente toda a população-alvo contra Influenza. Outros vírus podem estar circulando, mas é muito mais provável que seja coronavírus”. 

Mortalidade por Covid-19 em Minas é uma das menores do país 

“O grande número de hospitalizações por SRAG pode ser por subnotificação (de Covid-19), mas parece que não, porque o número de óbitos em Minas é pequeno. Outro motivo possível é que mais vírus não estejam sendo investigados”, argumenta a infectologista e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Raquel Stucchi.

Atualmente, Minas tem 94 óbitos confirmados por contaminação pelo coronavírus, além de outros 94 em investigação, cenário que faz com o que Estado tenha um dos menores índices de mortalidade do país — quatro mortes a cada 1 milhão de habitantes. Os Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins estão no mesmo patamar. 

O infectologista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Ésper Kallas baseia-se em um estudo da Universidade de Chicago, que avaliou a transmissão do coronavírus em grandes centros urbanos, para levantar uma hipótese para haver relativamente menos contaminações em Minas Gerais. 

“A porcentagem da população de Minas que vive em municípios com menos de 100 mil habitantes é muito maior, se comparada a outros Estados. Isso pode fazer com que a contaminação por coronavírus seja mais lenta. O vírus prefere os grandes centros urbanos”, cogita o médico, lembrando que a falta de testes também é uma possível explicação.  

Os óbitos em Minas podem ser mais volumosos do que aparentam, conforme explicou o subsecretário de Vigilância em Saúde, Dario Brock Ramalho, em coletiva de imprensa na manhã desta terça (5). Mesmo o teste mais preciso para detectar a doença, o PCR, tem precisão de 60% a 70%, e é sujeito a apontar falso negativo — o resultado positivo é menos questionável. Por isso, algumas mortes que foram descartadas podem ter sido ocasionadas pela Covid-19. 

Hospitalização por SRAG aumentou 472% em Minas

Em comparação ao mesmo período de 2019, o número de hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) aumentou quatro vezes neste ano em Minas. É um dado em constante atualização — no boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES) do dia 4 de maio, a taxa chegava a 517%.

Uma possibilidade para explicar a explosão de casos, especialmente a partir de meados de março, é que profissionais da saúde tenham feito mais notificações sobre os problemas respiratórios, sensibilizados pela pandemia de coronavírus.  

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) corrobora essa hipótese: “Como houve uma mobilização e um estresse muito grandes no começo da pandemia, essa notificação aumentou de forma geral, incluindo um número muito grande de doenças. Agora, a tendência é vermos uma diminuição”, afirmou o secretário de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, em coletiva de imprensa na manhã de terça (5). 

Ele explicou que não há sobrecarga no sistema de saúde, mesmo com o aumento de casos de SRAG, e que a ocupação de leitos no Estado por pacientes com confirmação ou suspeita de Covid-19 é de 5%.

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