Aglomerações

Coronavírus: Festinha em casa é risco; perfil reúne mais de 200 denúncias em BH

A prática de receber amigos e fazer festas em casa tem aumentado nos últimos dias, o que tem preocupado especialistas e autoridades; perfil no Instagram recebe denúncias em Belo Horizonte

Por Thiago Nogueira
Publicado em 15 de abril de 2020 | 06:30
 
 
 
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Em tempos de pandemia do coronavírus, a orientação do Ministério da Saúde é ficar em casa. Boa parte da população tem atendido as recomendações, mas, com a extensão da quarentena, alguns têm exagerado na forma como passam o tempo em suas residências, realizando festas particulares com a aglomeração de pessoas, especialmente nos fins de semana e feriados. A prática é criticada por especialistas. A orientação deles é que se tenha o menor número possível de pessoas dentro de casa.

"Essas festas quebram completamente o isolamento. As pessoas não vão se encontrar na rua, mas vão se encontrar em casa. Não faz sentido. As pessoas tem que ter a compreensão, o bom senso, a responsabilidade de que não adianta fazer uma festa escondida dentro de casa porque estão se expondo e expondo as pessoas que vão encontrar. Todo mundo está sentindo o tempo e a dificuldade de convivência, mas é um sacrifício que tem que ser feito", alerta o infectologista Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e membro do Comitê de Enfrentamento à Epidemia da Covid-19 da Prefeitura de Belo Horizonte.

Um perfil criado na madrugada dessa terça-feira (14), no Instagram (@vacilocovidbh), ganhou mais de 27 mil seguidores em 24 horas e recebeu mais de 200 denúncias só no primeiro dia. Publicações mostram encontros com grande número de pessoas, música ao vivo e contato direto entre os participantes.

A reportagem conversou com os administradores do perfil. Depois de perceberem que os jovens não estão com o mesmo engajamento que eles, decidiram criar a conta. "O intuito é conscientizar as pessoas que o mais prudente a se fazer neste momento é cumprir rigorosamente a quarentena. Adotamos aquele famoso ditado: 'Se não aprende no amor, aprende na dor', uma vez que todos esses jovens tiveram acesso às informações sobre a gravidade da pandemia, e mesmo assim escolhem não fazer sua parte. Sendo assim, com a exposição, esperamos que criem consciência social", relataram.

Na moda

Criadas com a intenção de entreter o público e contribuir para a arrecadação de donativos, as lives promovidas por cantores e outros artistas brasileiros têm se popularizado a cada dia. A transmissão via streaming, no entanto, também se tornou um pretexto para reuniões entre amigos. Tudo isso ainda pode ser potencializado com a ingestão de bebidas alcoólicas, que contribui ainda mais para baixar a guarda. "O problema é que a distância mínima não vai ser respeitada. É como se eu estivesse num ônibus, num shopping. E a bebida estimula a proximidade. O problema é o toque, a mão, o espirro, a tosse, o beijo", lista o infectologista.

O boom das lives também tem provocado atritos entre moradores. Em um condomínio de Contagem, na região metropolitana, um síndico precisou emitir um comunicado para pedir a colaboração de todos. "Não é proibido acompanhar as lives dos artistas, mas os moradores devem se conter ao assisti-las, não utilizando a televisão, som, home theater e demais equipamentos com volume alto, e não pular, dançar, cantar e falar alto após as 22h, conforme convenção de condomínio", avisou.

Consultada, a Polícia Militar informou que tem procurado coibir aglomerações desse tipo. "Se você está em casa, com a esposa e o filho, e resolve colocar uma música e fazer um churrasco, não é proibido. Depende do que é festa. É festa com aglomeração? Com a recepção de outras pessoas? Aí não pode. A PM vai chegar e orientar as pessoas. Não dá para interferirmos no direito de ir e vir, mas orientar que não se aglomere. O desobediente a essa informação pode ser conduzido (à delegacia). Começar a receber pessoas que não estão no isolamento, não pode", reitera o major Flávio Santiago, porta-voz da Polícia Militar de Minas Gerais.

A polícia esclarece que música alta e barulho se enquadram na Lei da Perturbação e Sossego e que não há horários determinados para isso. Sendo assim, a Polícia Militar ou a Guarda Municipal podem ser acionadas a qualquer momento por aquele que se sentir incomodado.

Investigado

Em Coronel Fabriciano, no Vale do Aço, a Polícia Civil instaurou um inquérito para apurar a denúncia de que um homem de 27 anos, diagnosticado com Covid-19, teria desobedecido à orientação de isolamento domiciliar e participado de uma festa com a presença de 20 pessoas. O fato ocorreu no dia 4 de abril. Os primeiros levantamentos mostraram que o infectado participou de uma festa em um lava a jato de um amigo. Posteriormente, as pessoas que estiveram no encontro apresentaram sintomas suspeitos do novo coronavírus.

O homem está sendo investigado pelos crimes de contágio de moléstia grave e infração de medida sanitária preventiva. Caso algum quadro clínico das pessoas envolvidas evolua para morte, ele pode responder também por homicídio. A princípio, os outros participantes da festa não serão denunciados, mas as investigações seguem em andamento.

O desrespeito às normas de isolamento sanitário é crime, previsto no Código Penal, cuja pena é de detenção de um mês a um ano, além de multa. A Polícia Civil orienta a população para que denuncie práticas do tipo por meio dos telefones 181, 190 ou 197.

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