Em investigação

Covid: cerca de 2,5 mil registros mostram doses trocadas da vacina em Minas

Estado informa ter recebido apenas 68 notificações, e prefeituras apontam erros nos registros

Por Cristiano Martins
Publicado em 25 de abril de 2021 | 13:25
 
 
 
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Dados do Ministério da Saúde indicam que até 2.500 pessoas alcançadas pela campanha de vacinação contra a Covid-19 em Minas Gerais podem ter recebido, de forma equivocada, doses de fabricantes diferentes do imunizante entre a primeira e a segunda aplicação. As prefeituras apontam erros no sistema de registro, enquanto a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) confirma apenas 68 casos.

O problema foi apontado inicialmente pelo jornal Folha de S.Paulo (leia mais abaixo). Em Minas Gerais, as fichas registradas pelos municípios por meio do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) sugerem que 2.360 pessoas podem ter tomado a primeira dose da Covishield (AstraZeneca/Fiocruz) e o complemento da Coronavac (Sinovac/Butantan), e outras 195, trilhado o caminho oposto. Vale destacar que o número representa apenas 0,06% das aplicações realizadas até o momento no Estado.

Os erros, sejam eles na vacinação ou no envio dos registros, foram identificados em ao todo 423 municípios mineiros. Belo Horizonte e Lavras concentram a maior parte dos casos, com 200 casos cada uma.

De acordo com o protocolo do PNI, o cidadão deve receber o fármaco disponível no momento da convocação por grupo de prioridade, independentemente do fabricante. Mas a segunda aplicação precisa obrigatoriamente ser da mesma marca, pois as vacinas são fabricadas com tecnologias distintas.

Respostas

Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou que, até a última sexta-feira (23), havia recebido das prefeituras mineiras as notificações formais de apenas 68 ocorrências de pessoas vacinadas com duas doses diferentes.

“Em casos nos quais o indivíduo tenha recebido a primeira dose de vacina de um fabricante e, com menos de 14 dias, venha a receber a segunda dose de outro produtor, a segunda dose deverá ser desconsiderada, e deverá ser reagendada outra aplicação, conforme o intervalo indicado da primeira vacina recebida”, orienta o comunicado.

A Prefeitura de Belo Horizonte informou que iniciará uma apuração para checar se houve erro na digitação das fichas ou, de fato, trocas nas aplicações das vacinas. O protocolo a ser seguido na capital nos casos confirmados, porém, difere em relação ao encaminhado pela SES-MG. "A Secretaria Municipal de Saúde esclarece que, caso seja constatada a troca do imunizante, a orientação do Ministério da Saúde é acompanhar cada caso, não sendo indicada aplicação de outra dose da vacina", diz a nota da PBH.

Em entrevista por telefone, a prefeita de Lavras, Jussara Menicucci, foi categórica ao classificar como "impossível" o número de erros encontrado nos dados do Ministério da Saúde. Para ela, pode ter havido falha no processamento dos registros pela pasta federal.

"Tudo é feito com muito critério e organização. As vacinas são separadas por fabricante a cada lote, e o registro é feito no momento em que elas são retirada do refrigerador. As aplicações até o momento foram feitas em dias diferentes conforme o fabricante. É impossível ter acontecido esse tipo de troca. Deve ser confusão do Ministério. Posso afirmar com a maior segurança e ponho a mão no fogo pela minha equipe", declarou.

O Ministério da Saúde foi procurado para esclarecer os possíveis erros em relação ao sistema digital, mas ainda não se manifestou.

Brasil

Segundo a Folha de S.Paulo, pelo menos 16,5 mil brasileiros de todos os Estados haviam recebido as doses trocadas até o último dia 8 de abril, dentre aqueles atendidos com a primeira injeção durante o primeiro mês da campanha, entre os dias 17 de janeiro e 17 de fevereiro.

“Quem tomou uma dose de um fabricante e outra dose de outro não tomou nenhuma dose completa da vacina”, disse ao jornal a imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e integrante dos comitês científico e clínico da Sociedade Brasileira de Imunologia.

Em nota à Folha, o Ministério da Saúde informou que havia sido notificado sobre apenas 481 dessas ocorrências pelas prefeituras. “A pasta esclarece que cabe aos Estados e Municípios o acompanhamento e monitoramento de possíveis eventos adversos a essas pessoas por, no mínimo, 30 dias”, diz o texto. O Ministério não se pronunciou sobre a grande diferença em relação aos dados encontrados pela reportagem nos registros da própria pasta.

“Tão sério quanto essa falta de coordenação é o fato de não haver orientação por parte do programa em como proceder quando essas situações ocorrem”, criticou a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin.

As fichas são preenchidas pelos profissionais de saúde das prefeituras no sistema de informação do Ministério. O Plano Nacional de Imunização determina que todos os trabalhadores que tiverem conhecimento sobre erros nas aplicações devem notificar as falhas às autoridades sanitárias.

De acordo com o levantamento da Folha, as trocas de vacinas aconteceram em praticamente todos os Estados, com exceção do Acre e do Rio Grande do Norte. Havia registros de inversão entre os fabricantes em 1.645 cidades brasileiras, isto é, quase um terço do total de municípios do país.

Entre as capitais, a cidade do Rio de Janeiro liderava as trocas de doses, com 1.136 ocorrências. Na sequência, as capitais com mais falhas eram Goiânia (667) e Brasília (520).

 

Com informações de Folhapress

 

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