Uberaba

Crianças são forçadas a trabalhar, acorrentadas e proibidas de comer

Irmãos eram constantemente agredidos e maltratados pelos pais

Por Natália Oliveira
Publicado em 27 de fevereiro de 2019 | 17:25
 
 
 
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Acorrentados por três dias pelo pescoço, agredidos com mangueira, obrigados a realizar trabalho forçado durante toda noite e proibidos de comer. Essas são algumas das agressões e maus-tratos a que eram submetidas duas crianças de 11 e 13 anos em Uberaba, no Triângulo Mineiro, pela mãe e o padrasto. Uma das crianças está desnutrida e com uma inflamação no ouvido, na outra foram detectadas

O crime foi descoberto nesta quarta-feira (27) depois que a diretora de uma escola estadual, onde as vítimas estudam, acionou a Polícia Militar ao perceber marcas de agressão nos alunos que são irmãos. Para a docente, a menina de 11 anos e o menino de 13 não quiseram contar o que ocorria, já para os militares eles acabaram confessando as agressões.

As crianças ficaram muito emocionadas e nervosas e disseram ser constantemente agredidas quando "teimam" ou "fazem coisas erradas". Quando os policiais perguntaram a eles o que os pais consideram teimar ou ser errado, as crianças disseram que não podem comer os alimentos da mãe, fazer barulho quando se arrumam para ir à escola ou tirar algo do lugar na casa.

As vítimas contaram ainda que são proibidas de almoçar, uma vez que a mãe alega que eles já fazem uma refeição na escola, que acontece apenas às 9h30. Os pais deixam a geladeira no próprio quarto e as crianças, quando ficam com muita fome, precisam se alimentar com comidas azedas. Segundo as crianças, os pais comem uma série de alimentos gostosos e não dão aos filhos.

A família trabalha com colagem de sacola plástica e, além dos maus-tratos, desde 2013 os filhos são obrigados a fazer o serviço que costuma durar toda a noite.

Por causa das agressões, a fome e a tortura a que são submetidos, o menino já tentou fugir de casa e como castigo por isso, foi obrigado a ficar acorrentado pelo pescoço por três dias. A mãe também o obriga a usar um fichário rosa com o objetivo que os colegas o insultem.

Em mais um momento de crueldade, a mãe chegou a raspar completamente a cabeça da menina de 11 após um episódio de piolho. Os dois filhos eram trocados de escola sempre que as professoras e diretoras das instituições desconfiavam das agressões.

Aos policiais, as crianças ainda contaram que o padrasto faz uso de maconha na frente deles e que, geralmente, é o homem que os agride enquanto a mãe incentiva o uso da força para "corrigir os erros".

O que dizem os pais

Após ouvir o relato das crianças, a polícia foi até a casa da família e conversou com a mãe, de 30 anos e com o padastro de 33 anos. Os suspeitos negaram que as crianças trabalhem e disseram que a geladeira realmente fica no quarto do casal, mas porque eles são pobres e precisam regular a alimentação das crianças. Eles confessaram que as crianças realmente não almoçam porque comem na escola.

A mulher confessou que o filho permaneceu mesmo acorrentado por três dias e disse que fez isso porque ele é uma criança difícil e queria protegê-lo. Para ela, a menina acoberta as acusações do irmão por ter medo dele.

As crianças passaram por exame médico e na menina foi constatada febre, infecção de ouvido e desnutrição. Já no menino há marcas de agressão novas e antigas.

A Polícia Civil informou que o padrasto das crianças foi preso em flagrante por lesão corporal, mas a mãe foi liberada após ser ouvida. O caso será investigado pela corporação. 

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