O anúncio de um programa de trainee exclusivo para candidatos negros, desenvolvido pelo Magazine Luiza, causou polêmica nos últimos dias, mas o Magalu não é a única empresa a criar processos seletivos com foco na diversidade. Pelo contrário, esta é uma tendência do mercado: as companhias têm buscado, cada vez mais, trabalhar com equipes plurais, com raças, gêneros e histórias diferentes. Pesquisas e especialistas apontam que a diversidade pode gerar mais inovação, produtividade e lucratividade.
No Magalu, atualmente, 53% dos funcionários são pretos e pardos, mas, entre os cargos de liderança, eles somam 16%. Ao longo de 15 anos de programa de trainee, a companhia formou cerca de 250 trainees, dos quais dez são negros. Os números despertaram a atenção da empresa para a necessidade de ampliar a diversidade racial entre os líderes.
“O Magazine Luiza acredita que uma empresa diversa é uma empresa melhor e mais competitiva. Queremos desenvolver talentos negros, atuar contra o racismo estrutural e ajudar a combater desigualdade brasileira”, afirma a diretora executiva de gestão de pessoas, Patrícia Pugas. As inscrições estão abertas até 12 de outubro. O programa vai oferecer de 15 a 20 vagas, com salário de R$ 6.600.
Depois do anúncio do programa de trainee, o Ministério Público do Trabalho em São Paulo recebeu e indeferiu uma série de denúncias recebidas contra o Magazine Luiza, que relatavam discriminação por parte da empresa. Para o MPT, a política da empresa é legítima, e a reserva de vagas consiste em "elemento de reparação histórica da exclusão da população negra do mercado de trabalho digno”.
A Bayer também abriu, na última semana, um programa de trainee para atração de profissionais negros. O objetivo é desenvolver e capacitar os profissionais para posições estratégicas de liderança e tornar o quadro de gestores da empresa mais representativo. A multinacional alemã está com 19 posições abertas em diversas cidades do país, inclusive Uberlândia, no Triângulo Mineiro. As inscrições vão até 21 de outubro.
Segundo a diretora de recursos humanos da Bayer no Brasil, Elisabete Rello, o número de negros no quadro de funcionários e de líderes da empresa era pouco representativo, o que foi uma das motivações do programa. "Ao olharmos para a realidade brasileira, percebemos que, mesmo com uma população de 56% de pessoas que se autodeclaram negras, uma gigantesca parcela delas não faz parte do mercado formal de trabalho, sobretudo quando consideramos cargos de liderança. A Bayer não é exceção", afirma. "Acreditamos que só é possível inovar quando temos diversidade de pensamentos e perspectivas", completa.
A Vivo também está com as inscrições abertas, até o dia 13 de outubro, para um programa de trainee com 30% das vagas destinadas a candidatos negros. A empresa retirou a exigência de fluência em inglês do processo seletivo e vai desenvolver essa habilidade nos candidados durante o ciclo do programa. Ao todo, são 30 vagas para atuação em São Paulo, com salário de R$ 6.800.
Atualmente, cerca de 25% do quadro de colaboradores da empresa é composto por negros. "Temos cada vez mais valorizado e, portanto, atraído profissionais de diferentes áreas de atuação e com diferentes experiências de vida", afirma a vice-presidente de pessoas da Vivo, Niva Ribeiro. Segundo ela, a companhia trabalha com diversidade de partir de quatro pilares: gênero, raça, LGBT+ e pessoas com deficiência.
Também de olho na diversidade, a VLI criou um programa de trainee diferente, que vai selecionar os candidatos a partir de suas histórias e experiências de vida. A ideia é atrair pessoas que tenham conexão com os valores empresa e características como empatia, resiliência e colaboração.
"A gente não quer selecionar as pessoas pelos requisitos básicos que elas têm, como escola e nível social, porque isso acaba trazendo pessoas muito parecidas e homogêneas. O vale é a experiência de vida do candidato", afirma a gerente de desenvolvimento organizacional da VLI, Francielle Pedrosa. "Se temos sempre gente homogênea, não conseguimos sair fora da caixa".
Mais mulheres na liderança
O fortalecimento da presença das mulheres em posições de liderança no mercado de trabalho também tem sido uma preocupação das empresas. No processo seletivo para um programa de trainee com 11 vagas exclusivas para mulheres, que teve as inscrições encerradas nesta semana, a Gerdau recebeu aplicações de 3.950 interessadas.
Atualmente, 18% dos cargos de liderança da companhia são ocupados por mulheres, mas a meta é ampliar esse número. "Nosso programa de trainees é a principal porta de entrada para futuros líderes na organização. Acreditamos que esta é uma ação que nos ajudará a construir um ambiente mais diverso e inclusivo em relação a gênero", afirma a head global de pessoas e responsabilidade social da Gerdau, Caroline Carpenedo.
No cargo de especialista de fusão e refino, Sabrina Silva, 26, entrou na Gerdau em 2018 como estagiária e, no final do mesmo ano, participou do processo de trainee da empresa e foi selecionada. Após oito meses de programa, assumiu a vaga que tem hoje. "A minha área ainda é predominada por homens, mas, quando entrei, já tinha uma mulher em posição de liderança que me serviu de exemplo e inspiração. Agora, eu também gostaria de ser inspiração para outras mulheres", diz.
A Vale também encerrou nesta semana as inscrições para dois programas de contratação de trainees, com a intenção de que metade das vagas seja destinada a mulheres. A mineradora estabeleceu a meta de dobrar o número de funcionárias até 2030: hoje, do total de colaboradores, 13% são mulheres.
"Acreditamos que nossos trainees podem contribuir de forma significativa para promover um ambiente cada vez mais colaborativo e diverso. Empresas mais diversificadas e inclusivas inovam mais, trazem melhores soluções para os negócios, atraem os melhores talentos e são mais produtivas", pontua a diretora de pessoas da Vale, Marina Quental. No programa de trainee realizado no ano passado, 61% dos aprovados eram mulheres.
Para além da diversidade, é preciso que haja inclusão
Estudos comprovam: a diversidade gera benefícios para empresas e funcionários. De acordo com uma pesquisa realizada pela McKinsey & Company, companhias da América Latina que adotam a diversidade tendem a superar outras em inovação e colaboração, e seus líderes são melhores em promover a confiança e o trabalho em equipe. Essas empresas também costumam ter ambientes de trabalho mais felizes e uma melhor retenção de talentos.
Na avaliação da presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos em Minas Gerais (ABRH-MG), Eliane Ramos, a diversidade é uma tendência nos negócios. "Quando a equipe é diversa, o sucesso é muito maior. Ninguém é perfeito, mas é o papel da liderança construir uma equipe perfeita, e isso só é possível quando trabalhamos a complementaridade das pessoas dentro da organização", afirma.
Atualmente, já existem diversas consultorias que ajudam as empresas a serem mais inclusivas. É o caso da Mais Diversidade, que oferece serviços de atração e seleção de candidatos diversos e curadoria de talentos, dentro de quatro grupos de pessoas: mulheres em áreas majoritariamente masculinas, pessoas negras, pessoas com deficiência e público LGBTI+.
"Neste ano, especificamente, caiu a ficha de muitas empresas e elas entenderam a gravidade da questão, entenderam que estão em um país extremamente diverso e não inclusivo. Quando elas olham a porcentagem de pessoas negras e mulheres internamente, elas veem na prática o quanto o processo seletivo tradicional é excludente. A grande diferença deste ano é que as empresas estão colocando mais intenção em trazer diversidade para suas equipes", avalia a consultora da Mais Diversidade, Amanda Aragão.
Segundo Amanda, além da diversidade na seleção, é preciso que as organizações trabalhem, de fato, a inclusão. É importante que pessoas de perfis diversos se sintam bem-vindas e tenham possibilidades reais de ascensão na carreira dentro das empresas.
"A grande chave para reter as pessoas é o olhar individualizado, que demanda novas competências da liderança e do RH, e também um ambiente de segurança psicológica. A pessoa precisa ter confiança de que pode ser ela mesmo, falar abertamente sobre a família e a orientação sexual", conclui Amanda.
Inscreva-se
Magazine Luiza
https://carreiras.magazineluiza.com.br/
Prazo: até 12 de outubro
Bayer
http://liderancanegra.ciadetalentos.com.br
Prazo: até 21 de outubro
Vivo
https://traineevivo.ciadetalentos.com.br/
Prazo: até 13 de outubro
VLI
jobs.kenoby.com/programatraineevli
Prazo: até 19 de outubro