Chuva de terça-feira

Donos de restaurantes no Lourdes contabilizam prejuízos após enchente em BH

Restaurante Alma Chef, na rua Curitiba, instalou um ponto para recolher doações destinadas aos atingidos pela chuva em BH; saiba como funciona

Por Lara Alves
Publicado em 29 de janeiro de 2020 | 14:11
 
 
 
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Circulam aos borbotões nas redes sociais incontáveis imagens de clientes com pernas sobre cadeiras e mesas como forma de se proteger de um intensa enchente que atingiu o bairro Lourdes, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, na noite dessa terça-feira (28).

Três horas e dez minutos foi tempo suficiente para que toda a região acabasse alagada. Ainda na manhã desta quarta-feira (29), o cenário era de destruição na região: placas de asfalto arrancadas, muito lixo e carros capotados.

Os restaurantes, estabelecimentos tão característicos do entorno da praça Marília de Dirceu, estão entre os mais afetados pelo temporal. Proprietários amanheceram tentando limpar o que ainda pode ser limpo e traçando as contas dos prejuízos causados pela chuva.

Cadeiras, mesas e equipamentos estão entre os objetos mais destruídos pelas águas da enchente. Os estoques reservados acima do nível da rua em muitos restaurantes garantiu que os alimentos ainda possam ser usados para preparo de pratos.

Fixado há cinco anos na rua São Paulo, o restaurante Osso comandado pelo chef Djalma Victor está entre os estabelecimentos mais atingidos pela enchente. Cadeiras e mesas acabaram destruídos. Clientes à espera de seus pratos na noite de terça-feira (28) ou que já jantavam precisaram correr às pressas para o segundo andar do restaurante, onde permaneceram até que a queda no nível da água sobre o asfalto. 

"Nós sofremos muitos prejuízos, nem fala. Muitas mesas, cadeiras... Equipamento até que não, isso porque estamos um degrau acima do nível da rua. Nossos clientes subiram para o segundo andar e permaneceram esperando", relata o chef. Ele não se recorda de uma enchente tão séria quanto a da noite passada. "Eu não consigo sequer falar direito hoje, para te falar direito. Estou aqui a três anos, nunca houve nada igual", comenta. 

O Osso não abrirá as portas para clientes nesta quarta-feira (29), mas a expectativa é que o restaurante retome as atividades costumeiras já na quinta-feira (30).

O mesmo aconteceu com o Baixo Lourdes, restaurante na esquina da rua Gonçalves Dias, que também não funcionará nesta quarta. Funcionários e direção se uniram para limpar a parte interna do restaurante e também contabilizar os prejuízos. O proprietário, chef Gael Paim, estima gastar cerca de R$ 100 mil para reerguer o Baixo Lourdes ao ponto em que ele estava antes de ser atingido pela enchente. 

"Estamos catando os cacos. Perdemos uma parte do equipamento, mesas e cadeiras. A equipe toda está aqui para nós entendermos o valor real do prejuízo. Nós temos duas lojas, então o prejuízo pode ultrapassar os R$ 100 mil", desabafa.

Com o rápido alagamento da rua, clientes que jantavam no restaurante correram em direção à parte mais alta da Gonçalves Dias, outros se esconderam no escritório do restaurante, no segundo andar.

"Nós abrigamos todo mundo até a chuva passar. Isso nunca tinha acontecido aqui, estou aqui há cinco anos e trabalho em restaurantes desde 2005. Nunca tive notícias de uma enchente como essa", conta. Relatos como esse são muitos em pontos da região Centro-Sul de BH: moradores e pessoas que trabalham na região alegam não se lembrar de ter acontecido uma enchente tão grave por ali.

"Conheço pessoas que moram aqui há mais de 20 anos e nunca viram algo parecido. Nós sabemos que o Lourdes é propenso à ocorrência de enchentes, mas nada como o estrago que aconteceu, de levantar concreto, causar tamanha devastação, nunca vimos nada parecido", relata Guilherme Kubitz. Ele é proprietário do restaurante Alma Chef.

Solidariedade

Instalado há seis anos na rua Curitiba, está entre os poucos não atingidos pela inundação e, como apoio aos restaurantes destruídos, o Alma abriu suas portas nesta quarta-feira (29) para oferecer um almoço aos envolvidos na limpeza do Lourdes e também aos funcionários de outros restaurantes na região. 

"Como nós estamos com nossa estrutura completa e sabemos que alguns restaurantes perderam praticamente tudo, abrimos as portas para um almoço como uma forma de agradecer a todos que estão limpando e ajudando na reconstrução do bairro", esclarece. O Alma só deverá abrir as portas para clientes entre o jantar desta quarta e o almoço de quinta-feira (30), ainda não há definição dada a nova previsão de chuvas para a cidade. 

Além disso, há um ponto de coleta de doações instalado por tempo indeterminado no restaurante. "Nós vamos repassar todas as doações recolhidas para as autoridades. Recolhemos alimentos, materiais de limpeza, higiene, roupa... Levaremos para o Servas e para os batalhões do Corpo de Bombeiros, para que eles possam fazer a destinação correta", explica Kubitz.

São Bento atingido

Clientes do Verdinho Restaurante, no bairro São Bento, também na região Centro-Sul de BH, puderam almoçar normalmente no estabelecimento nesta quarta-feira (29). Isto, pois, as portas sequer chegaram a ser fechadas após o temporal da noite de terça-feira (28). A proprietária do restaurante, Soraya Hazana, passou a madrugada em claro para tentar manter o funcionamento normal do restaurante. 

"Nós passamos a noite lavando. Por sorte, nossa cozinha e nosso estoque estão instalados no segundo piso. Prejuízo tivemos com cadeiras e mesas que a enxurrada levou, o piso soltou em alguns pedaços, mas tudo está sob controle", comenta. 

Apesar de a situação estar normal no interior do restaurante, ainda há bastante lixo na calçada e as ruas do bairro estão bastante esburacadas.

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