Pirâmide financeira

Estelionatário mineiro morou em ilha deserta e resort para se esconder

Esquema fraudulento pode ter movimentado até R$ 1 bilhão. Vítimas terão de acionar a Justiça para reaver prejuízos

Por Clarisse Souza
Publicado em 19 de agosto de 2019 | 12:57
 
 
 
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A promessa de enriquecimento rápido, com baixo investimento e alta rentabilidade no mercado financeiro levou ao menos 6.000 pessoas a perderem suas economias  enquanto o mineiro de Montes Claros Marcel Mafra Bicalho, 34, apontado pela Polícia Civil como líder de um esquema fraudulento de pirâmide financeira, vivia uma vida luxuosa em um resort em Arraial d’Ajuda, distrito de Porto Seguro, na Bahia. Ao longo de quatro anos, Bicalho, que se apresentava como mestre do setor financeiro e comandava a Mattos Investimentos, chegou a movimentar uma enorme quantia de dinheiro, que pode chegar a R$ 1 bilhão e lucrou ao menos R$ 500 milhões às custas das vítimas.

Nos últimos seis meses, no entanto, ao ter a farsa exposta na internet, o suposto golpista passou a viver de maneira reclusa e desembolsava R$ 30 mil mensais para usar com exclusividade um resort, onde mantinha um esquema de segurança sofisticado a fim de proteger das vítimas, que o ameaçavam para conseguir o dinheiro de volta. 

Segundo os investigadores, nos quatro anos em que ludibriou as vítimas, Bicalho usava nome falso. Ele se apresentava como Marcello Mattos e vendia a ideia de que era possível obter uma rentabilidade  que variava entre 30% a 500% com investimento inicial de, no mínimo, R$ 1.500. Durante o tempo em que o esquema funcionou, ele formou uma rede de captadores, pessoas que já são investigadas pela Polícia Civil por recrutar novos investidores para o negócio fraudulento. Como, no início, as vítimas chegaram a ter lucro, Bicalho era visto por muitos como uma espécie de guru, um mestre que deveria ser seguido. 

Para atrair novos investidores, o criador da Mattos Investimentos criou canal no Youtube e começou a dar dicas sobre o mercado financeiro, inclusive com dicas sobre como investir em bitcoins, uma moeda virtual. A bolha começou a estourar em meados de 2018, quando um grupo que se autointitula como combatentes de pirâmides, publicou na internet uma sabatina feita com Bicalho, em que ele acabou se contradizendo e demonstrou ser apenas um amador, sem qualquer conhecimento aprofundado sobre esse mercado. 

A notícia se espalhou rapidamente entre as vítimas de Bicalho, que começaram a requisitar o saque de seus investimentos. No início, ele conseguiu efetuar os pagamentos, mas ao perceber que estava sendo desmascarado, deixou a cidade de Montes Claros, no Norte de Minas, e fugiu para a Bahia, onde comprou uma casa em Porto Seguro. As vítimas, no entanto, descobriram o endereço. A saída do golpista foi alugar uma ilha deserta, segundo o delegado Gustavo Barletta, do Departamento Estadual de Crimes contra o Patrimônio (Depatri). “Ele alugou essa ilha por três meses, no valor de R$ 120 mil, pagos à vista. Depois ele resolveu ir para um lugar com estrutura melhor, que foi na pousada resort em Arraial d’Ajuda”, contou o policial. 

No imóvel, Bicalho viveu uma vida altamente luxuosa, com direito a academia, carros de até R$ 500 mil na garagem . Para se proteger, tinha câmeras de segurança em todos os cantos, capazes de monitorar a chegada de qualquer pessoa. Entre os funcionários que mantinha no espaço, havia uma empregada doméstica que recebia R$ 5 mil por mês e um segurança com salário de R$ 10 mil. Ao todo, os gastos mensais de Bicalho giravam em torno de R$ 100 mil por mês. 

Além de Bicalho, a polícia também prendeu Leonardo Oliveira Silva, 32, apontado como laranja do esquema. O homem, que até pouco tempo tinha salário de pouco mais de R$ 1,5 mil por mês, passou a ter patrimônio avaliado em quase R$ 3 milhões. “Na verdade, ele já estava até se desfazendo desse patrimônio. A gente está tentando bloquear para que esses negócios não sejam concluídos”, informou o delegado.

De acordo com o delegado Barletta, as vítimas terão acionar a Justiça, “comprovar que fizeram um investimento e que tiveram seu patrimônio lesado de forma ilícita e aí terão de buscar – através dos patrimônios que a gente vai tentar bloquear, como ativos financeiros, terrenos, carros – o ressarcimento”. 

As investigações continuam para identificar ao menos 10 captadores da pirâmide financeira. Segundo a Polícia Civil, Bicalho vai responder pelos crimes de estelionato e organização criminosa. A corporação também tenta enquadrá-lo no crime de evasão de divisas devido à possibilidade de que parte do dinheiro tenha sido enviado a paraísos fiscais.

 

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