A adolescente Kamilly, de 12 anos, recebeu em um grupo de WhatsApp uma mensagem que pensou ser mentira: "Com a grande disseminação do Coronavírus no mundo, a Netflix está liberando acesso a sua plataforma para os primeiros a se cadastrarem". Ainda que animada com a possibilidade, ela acionou sua irmã, Franciele Oliveira, 25, para saber se devia ou não clicar no link que acompanhava a publicação. Foi quando recebeu a notícia desanimadora: nada daquilo era verdade.

Infelizmente, este não é o único exemplo de como golpistas e criminosos virtuais têm se aproveitado da pandemia para fazer vítimas em larga escala. 

Agora, além de enfrentar a maior crise sanitária em mais de um século, a população deve estar atenta ao phishing, que é "o ato de tentar adquirir informações como nomes de usuários, senhas, detalhes do cartão de crédito e, às vezes, indiretamente, dinheiro, fingindo ser uma entidade confiável", como explica um comunicado da empresa de soluções na área de Segurança da Informação, Clavis.

Os ataques de phishing podem, ainda, "resultar na exposição e perda de informações críticas que podem ser usadas de maneira maliciosa e prejudicar a reputação da vítima", prossegue o alerta.

A Polícia Civil do Estado de Minas Gerais também vem monitorando situações do gênero. Em suas redes sociais, os agentes listam seis mensagens que usaram do coronavírus para obter vantagens. O primeiro deles é justamente a liberação de acesso do site de streamings Netflix.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Polícia Civil de Minas Gerais (@pcmg.oficial) em

Outros exemplos apontados pela Clavis e pela Polícia Civil são: um link falso em que as pessoas são convidadas a se registrarem para receber álcool em gel produzido pela Ambev; o agendamento de teste da Covid 19 domiciliar; e o cadastro para recebimento de kits de máscara e álcool em gel distribuídos pelo governo. 

Em todos os casos, os criminosos usam de um momento de fragilidade para, então, efetuar o golpe. 

Tenha cuidado

Atenção aos links é uma forma de se resguardar. Franciele, por exemplo, observou rapidamente que o endereço virtual que aparecia na mensagem soava estranho. "No lugar de netflix.com, que seria o correto, o que aparecia na postagem era com netflix.usa.net", aponta ela, que logo entendeu tratar-se de uma fraude.

O cientista da computação Izaquiel Lopes lembra que o phishing se reinventa, mas sua matriz permanece a mesma: "O golpista tenta se passar por uma pessoa ou empresa idônea e conhecida para conseguir fazer o ataque".

"Como no caso da Ambev, em que prometem entrega de álcool em gel, o certo é que a pessoa entre diretamente no site da empresa, sem usar o link que está na mensagem. Se a campanha for real, essa informação estará lá" indica Lopes. "Caso a pessoa clique no endereço da postagem, pode ser levada a um site similar ao da empresa, mas falso", reforça.

Na dúvida, recorra a pessoas de sua confiança que sejam mais experientes e que melhor compreendam as dinâmicas das redes sociais, como fez Kamilly.

Polícia Civil oferece dicas de segurança

Atenta ao aumento do caso de golpes relacionados a Covid 19, a Polícia Civil de Minas Gerais oferece uma série de dicas de cuidados para preservação de dados pessoais. 

"Em caso de ligações, como motoboy oferecendo para buscar o cartão em sua residência, desconfie! Não forneça qualquer informação ou não confirme dados, como número de cartão e/ou Código de Verificação de Cartão (CVC), quando solicitado. Também não clique em links enviados em nome de instituições bancárias. Com os dados do cliente, a senha e o chip do cartão, o golpista consegue fazer compras com o cartão, gerando prejuízos", sinaliza a corporação.

A Polícia Civil pontua algumas dicas práticas para se preservar e não cair em golpes:

  • Cuidado com documentos compartilhados por mensagens;
  • Atenção para e-mails ou mensagens que prometem absurdos (curas, vacinas ou algum tipo de benefício). Apelar para a saúde das pessoas, em momentos de vulnerabilidade, é um golpe conhecido;
  • Baixe aplicativos de lojas oficiais. Evite sempre links diretos;
  • Cuidado com pedidos para preencher formulários, com dados pessoais;
  • Recebeu uma ligação? Fique atento em fornecer ou no momento de confirmar dados em geral;
  • Acha que caiu em um golpe? Que teve o celular, a senha das redes sociais, e-mails ou qualquer outra senha comprometida? Entre em contato imediatamente com o seu banco.

WhatsApp como ferramenta

Para além de iniciativas oficiais, há pessoas que, individualmente, encampam a luta contra a disseminação de mentiras nas redes sociais. É o caso da jornalista Camila Feltrin, 28. Desde que o surto do novo coronavírus chegou ao país, ela se desdobra em desmentir notícias falsas - que poderiam significar até mesmo golpes virtuais. 

Mesmo assumindo uma postura aguerrida, verificando e retornando com informações verdadeiras sempre que possível, sua mãe, sua tia e sua avó seguiam enviando conteúdos duvidosos. "Nos grupos de WhatsApp que elas estão, é uma boataria sem fim", desabafa. 

Tamanha desinformação, Camila decidiu ir para a guerra e combater as fraudes no lugar em que elas aconteciam: no mesmo aplicativo de conversas. A partir de uma lista de transmissão, ela dispara, todos os dias, pelo WhatsApp, um boletim com informações verdadeiras sobre boatos que circularam na rede social. 

Ao observar que as histórias mentirosas sempre vinham sem autoria, a jornalista passou a assinar seus boletins e, desde que permitiu que mais pessoas se inscrevessem para receber o conteúdo, antes restrito à família e aos amigos, viu o número de solicitações multiplicar. Hoje, mais de 200 pessoas assinam seu "Coronanews".