Está muito difícil!

Há ‘nãos’ que marcam a busca pelo emprego

Além de provocar falta de dinheiro, desemprego mexe com a autoestima e com a saúde de quem não encontra uma recolocação

Por Clarisse Souza
Publicado em 20 de maio de 2022 | 03:00
 
 
 
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Há mais de dois anos, a bacharel em direito e pós-graduada em saúde mental e dependência química Flávia Anastácio Barbosa, de 34 anos, procura uma oportunidade de trabalho com carteira assinada. Depois de tantos “nãos” na área dela, a profissional decidiu omitir a formação em nível superior no currículo e partiu em busca de vagas que exijam menos escolaridade.

"Eu também tenho muita experiência como atendente, secretária, recepcionista e auxiliar administrativo. Mas as empresas sempre consideram que ou tenho qualificação demais para alguma vaga, ou que não tenho experiência suficiente para outra. Até me emociono ao falar disso, porque é bem frustrante. Já não sei mais o que fazer”, reclama a desempregada, que atualmente faz e vende doces para ter uma renda.

Histórias como a de Flávia mostram que o desemprego deixa marcas que vão muito além do vazio na conta bancária e no acúmulo de boletos que não foram pagos. Mexe com a autoestima e pode impactar até a saúde de quem, após tanto procurar, não encontra uma chance de recolocação no mercado de trabalho.

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“O desemprego deixa muitos rastros na vida da pessoa. A gente percebe que os candidatos chegam à entrevista com um sofrimento muito grande pela perda do antigo emprego. E, quando a procura por trabalho dura muito tempo, acabam até adoecendo”, relata Eliane Ramos de Vasconcelos Paes, presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Recursos Humanos. 

Reflexo na pele

Desempregada há cinco meses, a auxiliar de serviços gerais Deusa Maria de Jesus, de 46 anos, já sente na pele o reflexo da frustração por não encontrar trabalho.

“Infelizmente, hoje, por mais que você se esforce e tente ser uma pessoa dedicada, seu trabalho não é reconhecido. Sou esforçada e procuro dar o meu melhor, mas infelizmente falta oportunidade e há desvalorização do trabalhador. Para quem não tem uma mente firme, a gente até adoece”, diz. 

"A gente se sente incapaz"

Deusa Maria acrescenta: "É a primeira vez que fico  tanto tempo desempregada. Não consigo ficar parada por tanto tempo. Isso acaba mexendo com o psicológico da gente. No fundo, você se sente incapaz”.

Currículo competitivo contra a concorrência

Em um cenário desafiador, com a geração de empregos insuficiente para atender a demanda por vagas – são 11,9 milhões de desempregados no país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –, tornar o currículo mais competitivo é fundamental para encontrar espaço em meio a tanta concorrência, avalia o presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos de Minas Gerais (ABRH-MG), Leandro Souza de Pinho. 

O caminho, segundo o especialista, está na autogestão da carreira. “O profissional deve se movimentar, buscar formação escolar e técnica. Lembramos ainda que a internet dá acesso a inúmeras formações gratuitas que são pouco utilizadas”, diz.

Por outro lado, o presidente da ABRH-MG afirma que as empresas precisam investir na formação interna dos empregados e na capacitação dos profissionais. “O cenário é de desemprego, mas as empresas que investem no desenvolvimento interno das competências e habilidades de seus funcionários, se posicionam melhor e mais estrategicamente no mercado”, analisa.

“O que percebemos é um hiato entre duas necessidades: a das empresas que esperam encontrar profissionais com habilidades que não são facilmente encontradas no mercado e um número cada vez maior de brasileiros desempregados e sem acesso a orientações adequadas”, finaliza. 

Aprendizado contínuo é dever de todos

Mesmo com este cenário nada animador, uma situação é mais que certa: os empregados – e os desempregados, claro – não podem “estacionar” ou ter aquela sensação de estarem imóveis. Para a presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Recursos Humanos Eliane Ramos de Vasconcelos Paes, o aprendizado contínuo é uma das habilidades mais valorizadas pelos empregadores no mercado de trabalho atual.

“É um dos pontos mais requisitados pelas empresas. É muito mais do que apenas concluir cursos e ter certificados. Trata-se de o profissional se desafiar constantemente”, esclarece. 

Eliane ressalta ainda que é dever do profissional estar atento às novas exigências do mercado. “Não delegue o sucesso da sua carreira a uma empresa ou ao governo. Lembre-se: autonomia é liberdade. Você tem que ser protagonista da sua própria carreira e buscar o seu próprio desenvolvimento sempre”, aconselha a especialista em recursos humanos.

 

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