Infectologistas ouvidos por O TEMPO criticaram a decisão do Ministério da Saúde de suspender o início da vacinação de adolescentes sem comorbidades publicada nessa quarta-feira (15). O órgão federal alega que recuou na imunização desse grupo porque a maioria dos adolescentes apresentriam formas brandas de Covid-19, entre outros argumentos.
O infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Unaí Tupinambás, avalia que a estratégia correta seria ampliar o número de pessoas vacinadas, incluindo os adolescentes saudáveis.
"Mais uma vez, a abordagem do Ministério da Saúde é uma abordagem clínica, preocupado com a terceira dose na população idosa, em vez de vacinar muitas pessoas, ampliando a vacinação para reduzir a circulação do vírus. Quanto mais pessoas vacinadas, de 12 a 17 anos de idade, menos vírus vai circular, menos idosos vão se infectar e menos variantes vão surgir", explica Unaí.
O infectologista destaca que a decisão tende a confundir a população. "A suspensao da nota técnica do dia 2 de setembro foi um tiro no pé. Isso vai só colocar mais lenha na fogueira dos negacionistas. Acho completamente equivocada a posição e espero que ela seja revista".
Experência robusta.
O infectopediatra, Marcelo Otsuka, da Sociedade de Pediatria de São Paulo, ressalta que crianças e adolescentes, no momento, não são prioridade, mas que eles devem ser vacinados e que não há motivo para a suspensão.
"A gente vê casos graves de Covid em crianças e adolescentes, além de que essas crianças e adolescentes podem transmitir a doença. Então é imporante que essa vacina caminhe em algum momento", diz o médico.
Otsuka lembra que há experiências em outros países que mostram ser possível imunizar essa população.
"Apesar da dificuldade que é investigar a eficácia vacinal em crianças e adolescentes, a gente já tem dados robustos de outros países que fazem a vacinação que permitem, sim, que a gente possa fazer a vacina nessas crianças e nesses adoelscentes. Lógico, precisamos continuar acompanhando, avaliar, ter certezas dos eventos colateris que aconteceram, mas, até o momento não tem dados suficientes para dizer que precisa suspender a vacinação", avalia.
Prioridade.
O infectologista José Geraldo Leite, vice-presidente regional da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), concorda com o posicionamento do governo federal.
"Acho que não era o momento de vacinar adolescentes sem comorbidades. A prioridade é fazer a segunda dose nos adultos e a terceira dose nos idosos", diz o especialista.
Argumentos do Ministério da Saúde.
Na nova nota técnica, o Ministério da Saúde alega que a maioria dos adolescentes sem comorbidades acometidos pela Covid-19 têm uma "evolução benigna, apresentando-se assintomáticos ou oligossintomáticos". O texto também diz que apenas um imunizante (Pfizer) foi avaliado em ensaios clínicos randomizados, e que os benefícios da vacinação em adolescentes sem comorbidades "ainda não estão claramente definidos".
O órgão federal também argumenta que há risco de efeitos adversos em caso de aplicação da vacina em adolescentes e que os índices da pandemia estão em queda no país.