A partir do afastamento de professores devido a problemas de saúde, a escola, segundo a Secretaria Estadual de Educação (SEE), precisa fazer uma designação – contratação para a substituição, o que nem sempre acontece de forma imediata. Depois de contratado, o substituto ainda precisa se inteirar dos conteúdos que já foram vistos e se adaptar à realidade daqueles alunos.
Nesse intervalo, os estudantes têm a rotina de aprendizado interrompida. A precarização das condições de trabalho dos docentes e, o consequente adoecimento, acaba, conforme especialistas, dificultando o aprendizado dos estudantes.
“No ano passado, a professora de inglês precisou fazer uma cirurgia por causa de um câncer, e ficamos sem aulas por cerca de um mês. Prejudicou a sequência”, contou Patrick Medeiros, 15, aluno do segundo ano da escola Desembargador Rodrigues Campos. A preocupação do estudante é ficar sem aulas de português, matemática e biologia nos período que se aproximam do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Estudo acima de tudo, quero fazer neurocirurgia”, completou.
Violência também afasta educadores da sala de aula
Muitas vezes não é apenas a saúde que obriga professores a deixarem o local de trabalho. A violência, não raro, também é responsável por tirá-los de sala de aula. É o caso de Ana (nome fictício), que, após receber ameaças de alunos e pais, se viu obrigada a deixar a escola em que trabalhava.
Ela chegou a ficar afastada durante o ano de 2010 e retornou em 2011. Mas, em 2015, precisou deixar a escola. O local ela prefere não revelar, por medo. “A direção falou para eu não trabalhar à noite se não iria acontecer uma tragédia. Eles não tinham condição de manter minha segurança”, conta.
A Secretaria de Estado de Educação informou que tem se empenhado em prevenir e enfrentar situações de violência nas escolas por meio de ações educativas.
Minientrevista
Ernesto Faria
Diretor e fundador do portal Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional
Quais problemas geram os afastamentos de professores?
Em muitos casos, os afastamentos fogem da naturalidade e têm relação com o ambiente de trabalho, que é estressante e que gera questões psicológicas. Do ponto de vista orçamentário, gera um problema. O primeiro resultado mais óbvio é ter falta de professores nas escolas. Se não é uma falta generalizada, é uma falta em algumas disciplinas. Há um problema de oferta da aprendizagem em menos tempo de exposição dos alunos a conteúdos relevantes, essa é a principal questão.
Os estudantes também ficam prejudicados com as doenças de seus professores?
Os alunos terem um professor que mão está bem de saúde física e mentalmente também não ajuda. Um professor que luta contra depressão, que tem grande estresse e segue indo para a escola, provavelmente não está em condições adequadas para fazer o melhor trabalho com os estudantes. Mais do que a questão do professor tirar licença, ou não, é preciso garantir professores motivados e que estejam bem para a garantia do aprendizado.
A situação é pior para alunos do ensino médio que estão às vésperas do Enem e não podem perder conteúdo?
Não sei dizer em que etapa é pior. É ruim em qualquer momento. O ensino fundamental é uma base importante. Alunos que tiveram uma boa base no fundamental, podem buscar até outros mecanismos para estudar (para o Enem).