Pouco mais da metade dos mineiros entrevistados na pesquisa Minas no Brasil de 2018 avalia que a escola e o professor devem ter autonomia para construir o tipo de ensino que consideram adequado aos estudantes. Das 610 pessoas ouvidas, 53% (324) acreditam que o Estado não deve interferir no conteúdo ministrado em sala de aula. Já 41,1% (250) avaliam que é preciso intervir nas instituições de ensino para que alguns conteúdos sejam, inclusive, proibidos.
Quando se leva em consideração a religião, 53,9% dos católicos pensam que o governo não deve ditar o que é ensinado nas escolas, e 39,5% defendem a intervenção estatal nos conteúdos. Entre os evangélicos, as duas posições são mais equilibradas: 48,4% concordam com a liberdade da escola, e 47,2% atribuem ao Estado o papel de avaliar os conteúdos.
A assessora jurídica Brenda Almada, 34, é contra a abordagem de alguns temas nas instituições de ensino. “É preciso ter certa intervenção para que os conteúdos ensinados sejam estritamente relacionados à educação formal”, sustenta. Brenda é mãe de duas meninas, de 3 e 5 anos, e escolheu uma escola cristã para matricular as filhas. Ela considera que questões relacionadas ao sexo devem ser abordadas nas aulas de ciências, por exemplo, mas o tema não deve ser “estimulado”.
Já a artista Fernanda Fernandes, 38, pensa diferente. Ela considera que a escola deve ter autonomia para discutir qualquer tema. “Nenhum assunto pode ser tabu. É importante conversar sobre sexualidade. A religião também deve ser trabalhada para a formação cultural”, acredita. Pintora, Fernanda tem uma filha de 7 anos e pensou nisso ao definir a escola de Lina: “Escolhi uma instituição de vanguarda, que tem uma proposta mais contemporânea, que, conceitualmente, defende a diversidade, a inclusão sexual e de gênero”.
Análise. Para a coordenadora de políticas educacionais da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda, professores e instituições não devem ser “censurados”. “Se educação é ‘prática da liberdade’, como defendia Paulo Freire, ela deve ser espaço de debate sobre os temas da sociedade, inclusive os mais sensíveis. Só por meio do debate plural é possível construir uma educação emancipatória e crítica”, avalia.
O pesquisador em educação e diretor-fundador do portal Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), Ernesto Martins Faria, também defende a autonomia do professor. Mas ele ressalta que materiais didáticos racistas ou homofóbicos, por exemplo, não devem ser usados. “O papel do governo é trabalhar para orientar o sistema em relação aos conhecimentos e às habilidades que são essenciais aos jovens”, considera.
Pesquisados
Perfil. Das 610 pessoas entrevistadas, as mulheres são maioria (51,9%). Quase metade (43%) ganha até dois salários mínimos, e 50,9% se autodeclaram pardos. Brancos são 34,4%, e negros, 10%.