O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, anunciou na tarde desta terça-feira (4) a reabertura gradual do comércio da capital mineira a partir de quinta-feira (6). Novos protocolos foram definidos pelo Executivo municipal.
A abertura atende pleito de entidades comerciais que pediam a flexibilização por causa do Dia dos Pais, data importante de arrecadação para o setor comemorada no próximo domingo. Mesmo tendo decidido em favor dos lojistas, o prefeito reiterou que a população mantenha os cuidados e, especialmente, o distanciamento social também dos familiares.
"O grande presente que nós podemos dar aos nossos pais é ficarmos longe deles, é o distanciamento, porque eles são do grupo de risco", disse.
Pelas novas regras, o comércio de BH poderá reabrir na quinta-feira e funcionará até sábado, véspera do Dia dos Pais. Depois volta a fechar domingo, segunda e terça-feira e retoma o funcionamento na quarta, quinta e sexta para alguns setores; quinta, sexta e sábado para outros; e sexta, sábado e domingo para atividades drive-in.
"Não tem que sair todo mundo pra rua ao mesmo tempo, você tem quinta o dia inteiro, sexta o dia inteiro, sábado o dia inteiro, pra comprar o presente do Dia dos Pais", lembrou o prefeito.
Veja a lista dos comércios que estarão abertos em BH a partir de quinta-feira
Indicadores melhores
Desde o início da pandemia, o Comitê de Enfrentamento à Covid-19 considera três fatores como preponderantes para as decisões sobre aberturas e fechamentos de comércios: ocupação de leitos de UTI, ocupação de leitos de enfermaria e a velocidade de transmissão da doença, que mede a quantas pessoas cada infectado transmite o vírus.
Atualmente, essa velocidade, chamada de RT ou R0, está em 0,91, índice no patamar verde de atenção, que representa regressão na pandemia.
Já sobre as taxas de ocupação, o secretário de Saúde da capital, Jackson Machado, destacou que a demanda por leitos de UTI tem caído vertiginosamente, sendo que nos últimos quatro dias, apenas quatro pacientes deram entrada nas unidades de terapia intensiva. "Houve dias na semana passada em que 90 pacientes esperando por leitos, e agora temos esse número, o que significa que temos mais altas do que admissões", explicou.
Outra medida anunciada pelo secretário foi a junção dos dados da rede privada de leitos com os da rede pública. Machado justificou usando um dado da Agência Nacional de Saúde (ANS) que aponta que 48,8% da população de BH tem cobertura de planos de saúde. A partir dessa junção, o número de leitos de UTI passa de 424 para 681, com ocupação de 80,6%; e de enfermaria subindo de 1.115 para 1.613, com ocupação de 53,8%.
Alerta
O prefeito ainda alertou que "a pandemia não acabou" e afirmou considerar a possibilidade de novo fechamento caso os números de infecção voltem a subir.
Depois dessas primeiras semanas de atividades funcionando, segundo Kalil, o cenário será avaliado e novas mudanças não são descartadas.
"Se Belo Horizonte entrar em festa, os números vão subir. E não duvidem que o prefeito feche a cidade de novo porque isso eu já mostrei pra vocês. O que nós queremos? Estabilização dos números pra mudar de fase. A covardia que está se fazendo com o comércio, a prefeitura, bar, restaurante, depende do comportamento e disciplina da população", completou o prefeito.
Repercussão
Os representantes do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de BH e Região Metropolitana (Sindhorb), do Sindicato do Comércio Lojista de Belo Horizonte (Sindilojas-BH) e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) estiveram na coletiva em que as reaberturas foram apresentadas.
Paulo Salmucci, presidente da Abrasel, declarou que a entidade vai entrar com um pedido de liminar assim que o decreto for publicado para permitir que bares e restaurantes também sejam abertos nesta quinta-feira. Segundo o protocolo da PBH, o setor poderia retomar suas atividades na segunda fase do programa de reaberturas.
A Abrasel já havia conseguido uma liminar há cerca de duas semanas para permitir o funcionamento dos bares e restaurantes, mas as regras impostas pela Justiça eram inviáveis, segundo alguns comerciantes, e a decisão foi derrubada em seguida após recurso da PBH. Salmucci afirmou que, desta vez, o pedido vai ter um caráter diferente para evitar que sejam impostas regras como as impostas anteriormente.
Já para o presidente do Sindhorb, Paulo Pedrosa, a expectativa é de que os bares abram em uma semana. Diferente da tática da Abrasel, Pedrosa espera que uma audiência já agendada com o prefeito resolva a questão e traga benefícios para ambos os lados. "Não vamos entrar em conflito, achamos que estamos entrando no caminho da abertura e temos certeza que conseguiremos sem liminar", afirmou.
Nadin Donato, presidente do Sindilojas-BH, também acredita que a capital está no caminho para retomar as atividades. Segundo ele, somente nesta primeira fase, cerca de 35 mil estabelecimentos serão impactados, sendo que a expectativa é de que 5 mil já tenham fechado as portas. "Mas já é um começo, o que fazemos agora é um apelo para que a população use máscara, que respeite o distanciamento social e que tome os cuidados necessários", ressaltou.
Para a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), que não esteve na prefeitura mas se pronunciou em nota após o encontro, o prefeito se contradiz na medida. "A abertura do comércio quando o índice de ocupação de leitos de UTI estivesse em 80% (...) foi radicalmente rechaçada pela Prefeitura. (...) Hoje, a prefeitura decide que o comércio pode abrir de quinta a sábado desta semana. E o índice de ocupação de leitos de UTI está em 84%. Dá para entender tamanha contradição?", questiona o comunicado.
Assista à íntegra da entrevista coletiva na PBH