Em mais uma crítica à gestão do governador Romeu Zema (Novo), o prefeito de Belo Horizonte voltou a alfinetar a equipe do Executivo estadual e denunciou uma espécie de “gabinete do ódio” criado contra a prefeitura. De acordo com Kalil, a Cidade Administrativa deixou de repassar uma das parcelas da dívida do Estado com o município, que venceu ontem, para "sabotar" o grupo comandado pelo prefeito em meio à pandemia do coronavírus.
O problema teria começado após a nomeação de Mateus Simões (Novo) como secretário geral do Governo de Minas Gerais – o advogado pediu afastamento da Câmara Municipal de Belo Horizonte em março, mas durante todo o mandato foi um crítico ferrenho ao atual prefeito. Acumulada nos quatro anos da gestão Fernando Pimentel (PT) por falta de repasses do ICMS, IPVA e para a área da saúde, Romeu Zema fez um acordo no ano passado para quitar parte da dívida com as prefeituras.
"Quanto ao problema, ele é recorrente, uma ameaça constante depois que o secretário geral [foi nomeado no governo]. Foi criado no governo um gabinete de ódio contra a prefeitura, sem motivo nenhum. Ameaçaram não pagar a parcela que venceu ontem para BH, mesmo sabendo que somos o centro da pandemia [do coronavírus], o lugar que precisa de recursos", declarou Kalil.
Caso pode parar na Justiça
Após intensa negociação com o Estado, um acordo foi firmado com a prefeitura para o pagamento de R$ 500 milhões em 36 parcelas no ano passado. Conforme Kalil, parlamentares do seu partido, o PSD, já estão mobilizados e podem exigir no Supremo Tribunal Federal (STF) o pagamento total, mas o desejo da prefeitura é que a gestão Zema honre o que foi acordado.
"Estou ameaçando não fazer [entrar com a ação]. Não queremos impactar o governo de Minas mais do que ele já está, é uma vitória certa, mas o que adianta pegar o dinheiro para Belo Horizonte e acabar de liquidar o Estado? Não é intenção nossa, aqui não tem gabinete do ódio", enfatizou.
O prefeito Alexandre Kalil também voltou a criticar a falta de apoio do governo de Minas em relação às medidas de enfrentamento ao coronavírus. "Estamos completamente descolados do Estado. Eu não quero politizar esse assunto, sou candidato a reeleição para prefeito e isso [as declarações] não me afetam em nada", complementou.
Em nota, o Governo de Minas Gerais informou que "o acordo firmado entre o Estado e a Associação Mineira de Municípios (AMM) vem sendo cumprido conforme o estabelecido" e todas as prefeituras já receberam quatro das 33 parcelas a que têm direito. Já sobre o caso de Belo Horizonte, que fez uma negociação separada, o Estado alegou que, "mesmo não sendo signatária do acordo, a prefeitura recebeu as três primeiras parcelas em função das tragédias ocasionadas pela chuva no início deste ano."
Em relação ao possível "gabinete de ódio" contra a capital, o governo mineiro não se manifestou.
Reunião com prefeitos da Grande BH
Na reunião com 23 prefeitos da região metropolitana de Belo Horizonte, Kalil ainda comentou que o principal tom do encontro foi em relação à falta de liderança política em Minas Gerais para conduzir a crise. "Mas eu não posso ser líder, sou prefeito como qualquer um deles. Colocamos no nosso grupo técnicos que muitas prefeituras não têm condições de manter, que são locais com cinco mil habitantes", afirmou. E para ajudar os governos locais, Belo Horizonte também vai ajudar as cidades com a tecnologia já usada para conter a pandemia, como nas consultas online.